20 de setembro de 2007

Letra de música não é poesia; letrista não é poeta. Poeta é Camões, ok?

No dia 14, o Estadão publicou a seguinte matéria:

Poesia une Noel Rosa e Chico Buarque no palco

Chico Rosa chega à cidade após 5 anos em Belo Horizonte

Beth Néspoli

Só mesmo uma licença poética para unir no mesmo palco Noel Rosa (1910-1937) e Chico Buarque. Mas bem que poderia ter acontecido. O autor de Feitiço da Vila, boêmio incorrigível, morreu de tuberculose muito jovem, aos 27 anos. Chico nasceu sete anos depois, mas garoto ainda já era admirador ardoroso da obra do sambista de Vila Isabel. Claro que alguns anos depois eles poderiam cantar juntos, como realmente aconteceria mais tarde, por exemplo, com Chico e Cartola.

Não encontrei na reportagem qualquer migalha de poesia que justificasse o título. Ou, para a repórter, Noel Rosa e Chico Buarque são poetas? Ah, bom, mas se até professores universitários reconhecem Caetano Veloso, Cazuza e Renato Russo como poetas, por que não seriam também Noel Rosa e Chico Buarque? Mas são poetas? Claro que não. E contra isso é preciso lutar. Poeta é Camões, Pessoa, Bruno Tolentino, Dummond, Bandeira, para ficar nos de língua portuguesa. Letra de música pode, num momento ou outro, ter elementos de um poema, mas nao é poesia e seus autores não são poetas. Se alguém disser o contrário, debata. A parada já está ganha, além de ser sempre prazeroso vencer o debate tendo razão.