20 de setembro de 2007

A mentira agrada mais do que a verdade?

E o que dizer, caro Geneton, sobre essa nota a respeito de Renan Calheiros na Folha? Erasmo de Roterdã, em O elogio da loucura, vaticinou: "O espírito do homem é feito de maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade". É o caso, é o caso. Renan, que não deve ter lido Erasmo, é o tipo identificado por Erasmo.

Anatole France, em A vida em flor,
disse que, "sem a mentira, a humanidade pereceria de desespero e de tédio". Renan, bom moço que é, leva o aforismo às últimas conseqüências, com receio, talvez, de fazer o Senado perecer em desespero e tédio. Compreensível. Renan dá a mão, sem saber, a Rosseau, o pai do totalitarismo político, para quem "proferir afirmações falsas só é mentir quando existe intenção de enganar, e mesmo essa intenção, longe de se aliar sempre a de prejudicar, tem por vezes um objetivo oposto". Mas o mesmo Rosseau advertia a dificuldade e raridade de uma mentira ser perfeitamente inocente. É o caso, é o caso.