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Não vale a pena gastar verbos, advérbios, substantivos e adjetivos, por piores que sejam, com a porcalhada política atualmente em andamento em pocilgas como o Senado Federal, lugar que já foi de respeito. É como desperdiçar energia num filmeco de terror de décima-oitava categoria.
Mas, para não dizer que o Sopa de Tamanco não falou de lamas, que fiquem registradas duas cenas daquelas que, nos tempos do Pasquim, provocariam uma atuação de gala de Gastão, o Vomitador.
Primeira: a TV a cabo mostra,na íntegra, a atuação do advogado encarregado de justificar o injustificável: as tramóias do presidente do Senado. É engraçadíssimo (para não usar a palavra exata : patético) como advogados de crápulas acham que, se cometerem gestos dramáticos, pausas grandiloquentes e frases pretensamente "inspiradas", conseguirão impressionar os incautos. A cena se repete todo dia em qualquer tribunal de júri de qualquer cidadezinha do interior: é um espetáculo de vigésima categoria. Vomitivo. Ridículo. Desprezível.
O caso do trambiqueiro senatorial poderia ser resolvido em uma frase: o presidente do Senado recebeu dinheiro de um lobista de empreiteira para custear gastos pessoais ? Recebeu. Ponto final. Em qualquer republiqueta, presidente de Senado que age assim deveria se declarar moralmente impedido de exercer o cargo. Mas aqui o trambiqueiro vai à tribuna falar de pátria, liberdade e verdade. E um advogado que deveria estar fazendo figuração num teatro de presidiários vai ao Senado para tentar enganar os otários - nós, por supuesto. "Uma lástima !", diria o meu velho professor dos tempos do ginásio.
Segunda cena: o ex-presidente da Câmara, como se sabe, recebeu dinheiro do esquema do mensalão. Imagens do circuito interno de um shopping de Brasília flagraram a mulher do artista se dirigindo à boca do caixa. Primeiro, ele disse que o dinheiro era pagar pagar uma despesa com Tv a cabo. Terminou metendo os pés pelas mãos. Ficou comprovada a tramóia.
O que é que o trambiqueiro diz em declaração reproduzida pelo Globo deste sábado, na página quatro ?
- Espero que este calvário termine rápido. Vocês não sabem como é pesado.
Eu li e reli dez vezes. O picareta leva dinheiro num formidável esquema de corrupção. É flagrado. Dá explicações patéticas. E ressurge para dizer que é vítima de um "calvário" pesado.
Que grande, que incomensurável, que irrecuperável, que descaradíssimo, que vomitivo, que estupidíssimo, que inqualificável canalha !
Você e o Sopa acabaram de cometer a boa ação do dia: gastar dois minutos de indignação com os crápulas.
Agora, é limpar o vômito do chão, acender uma vela para Nossa Senhora do Perpétuo Espanto e encarar o sábado azul.