Meus dezessete anos. Ah, meus dezessete anos. Criatividade a mil, energia a toda. Passava noites em claro escrevendo textos que eram, para mim, originalíssimos. Eu delirava imaginando livros: primeiro uma coletânea de contos, depois um romance. Ponto alto desta época: o sol nascendo na Serra do Mar enquanto eu terminava a impressão caseira de um livro intitulado, melancolicamente, In Memoriam.
Minhas ambições literárias atuais se alimentam destas lembranças. Fico me imaginando novamente com aquela energia, vontade e determinação. Olho para a janela e ainda é noite lá fora. Não escrevi nada. Não são nem dez horas e eu estou cansado. Será mais um dia de adiamento.
Criatividade sem produção não é nada. E, no entanto, isso é tudo o que tenho neste momento: vários arquivos com sinopses de livros de ficção e não-ficção que quero escrever. Mas não escrevo. E o rol de desculpas é vasto: falta de tempo, barulho excessivo, medo e, por fim, incapacidade.
É por estas e outras que, hoje em dia, admiro os escritores – qualquer um. Até mesmo os piores. Porque eles tiveram (têm) algo que me falta: coragem. Aquela mesma coragem que eu tinha aos dezessete anos, ao escrever meia-dúzia de lugares-comuns e chamá-los, orgulhosamente, de obras-primas.
(Tirado daqui)