16 de setembro de 2008

VISITA À CHATOLÂNDIA - 1


Crianças sonham em ir à Disneylândia. Vou fazer uma confissão: sonhei que estava num imenso parque chamado Chatolândia.

Que coisa...

Logo na entrada, numa espécie de palanque, um coral emite trinados de variados decibéis, para dar as boas-vindas aos visitantes. Aproximo-me do palco: lá estão Oswaldo Montenegro, Elba Ramalho, aquelas mulheres que só cantam músicas de Chico Buarque, uns rappers paulistas, um grupo de seresta cantando Peixe Vivo, Marcelo Camelo, Carlinhos Brown, os Engenheiros do Hawai, cantoras gordas de bossa-nova fazendo "ba-da-ba-da-ba-da-baiá-ba-da-ba-da-baiá", um repórter de televisão pronunciando trocadilhos em série, uns índios encenando a dança da chuva em torno de uma fogueira cenográfica, um conjunto de forró repetindo os versos de Asa Branca, um publicitário se elogiando diante de um espelho, um aparelho de TV exibindo comerciais da NET, um locutor lendo com voz empostada artigos do caderno "Mais" (Folha de S.Paulo), atores e atrizes querendo parecer engracadinhos em anúncios de companhias telefônicas, um ecologista discursando sobre "sustentabilidade". Misturados, os sons formam uma trilha indescritível.

Imobilizadas pelos pais para não fugirem das cadeiras em desabalada carreira, crianças choram na platéia. O espetáculo, como se dizia antigamente, é "dantesco". Mas vou em frente. Um imenso painel, à moda dos dazibaos chineses, exibe as certidões de nascimemto dos personagens que habitam o palco. Todos, absolutamente todos, têm os mesmos nomes: "Chatolino da Silva Xavier" e "Chatolina da Silva Xavier". Imagino-me num filme barato de terror: todos os personagens que me rodeiam se chamam ou Chatolino ou Chatolina.Como poderei distinguir uns dos outros ? A quem poderei pedir socorro para sair daquele labirinto ?


Penso: deve ter havido algum engano. Não estarei no inferno, por acaso ?
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, uma atendente com sotaque paulista me saúda: "Boa tarde! O senhor acaba de entrar na Chatolândia! Nós estaremos disponibilizando um guia. Assim, o senhor estará aproveitando ao máximo a visita! ".

Acordo coberto de suor, com o coração aos pulos.

O pior: um minuto depois que voltei a dormir, o pesadelo recomeçou. Quando, afinal, acordei, já manhã alta, tive o cuidado de anotar o que vi na excursão à Chatolândia.

Em breve, contarei, aqui, neste Batcanal.