Com a autoridade de quem nunca pôs os pés numa emissora de televisão, mas é um telespectador razoavelmente assíduo, um amigo fez uma observação certeira:
"Você por acaso já notou que, em noventa por cento dos casos, a TV, especialmente a aberta, se dirige ao telespectador como se ele fosse um débil mental ou, na melhor das hipóteses, uma criança de um ano e cinco meses incompletos ?".
Depois de treze segundos e meio de profunda reflexão, fui obrigado a concordar.
O amigo deu exemplos "a mancheias".
Arrematou:
"Pode ver que, na grandessíssima maioria dos casos, a TV fala ao telespectador como se o telespectador fosse um bebê deitado num carrinho. O adulto se debruça e começa a produzir sons absolutamente ridículos, sem qualquer sentido, para tentar uma comunicação com o pobre coitado. O bebê contempla a cena patética. Se pudesse falar, diria: "Que grandessíssimo idiota é esse?". Como não fala, acompanha, em silêncio, aquele espetáculo deprimente de frases capengas, caretas, trejeitos. É exatamente o que acontece com a TV! Já notou que, até na hora de dar boa-noite, a TV trata o telespectador como se o telespectador fosse um debilóide? São sempre aquelas frases tatibitates, pronunciadas em tom pretensamente simpático... Só faltam nos dizer: "Agora, o bebezinho vai memê o jantar pra depois ir mimi...". Em duas palavras: não dá".
Concordei em silêncio, como se fosse o bebê. Mas não imaginei nenhum insulto ao meu amigo, pela simples razão de que ele estava certo, certíssimo, absolutamente certo no que dizia.