22 de junho de 2007
ABAIXO O JORNALISMO !
Qualquer animal bípede que já tenha tido a chance de flanar pelo assoalho de uma redação sabe que jornalista é, por definição, aquele sujeito pretensiosíssimo que se acha capaz de decidir, a toque de caixa, o que é que os seus semelhantes devem ou não saber.
O jornalista age assim: como se fosse um médium especializado em captar no ar e decidir, sem contestação, o que é que vai interessar à curiosidade do leitor.
Diante de tal quadro, um leigo que entrasse por engano numa redação espicharia as sobrancelhas para cima e deixaria o queixo pender dois centímetros para baixo, para transmitir aos passantes um ar de espanto. Mas ninguém prestaria atenção ao espanto do leigo.
Pelo seguinte: a desfaçatez de jornalistas que se julgam intérpretes iluminados da mente do leitor é algo que faz parte da natureza da profissão.
Um belo dia, o jornalista simplesmente se declara, diante do espelho, porta-voz dos interesses e da curiosidade desta abstração chamada "leitor" ou "telespectador".
Bota a faixa imaginária no peito, passa um pente no cabelo, apruma o andar, sobe a rampa e lá vai ele assumir a mandato de presidente plenipotenciário da opinião pública.
Reinam nas redações leis que, aos olhos de um leigo, podem soar absurdas. Exemplo: o concorrente divulgou a notícia "x" ou fez uma reportagem sobre o assunto "y"? Divulgou. Então, a notícia ou a reportagem que o jornal iria publicar ou a TV iria levar ao ar vão para o lixo.
O "verdadeiro" jornalista age como se o leitor e o telespectador fossem maníacos de hospício que lêem todos os jornais, vêem todas as emissoras de TV, ouvem todos os programas de rádio. Parece que o tal leitor ou o tal espectador vão se dar ao trabalho de comparar, página a página, matéria a matéria, tudo o que o jornal, a revista ou a TV publicaram. Não vão. Nunca se deram ao trabalho. Jamais se darão. Mas o jornalista maníaco acha que eles agem assim.
Loucura.
Jornalista ruim é o que faz jornal (ou revista ou TV ou rádio) para jornalista. Ou seja: é capaz de sonegar impunemente uma informação ao leitor ou ao espectador apenas porque um veículo concorrente tratou primeiro do assunto.
Por que esta digressão inútil, estapafúrdia e fora de hora sobre a profissão?
Só para dizer que aqui, no Sopa de Tamanco, o único mandamento em vigor é este: neste blog, estão sumariamente vetadas todas as leis que regem o jornalismo das redações.
Se o Sopa de Tamanco fosse um jornal, assunto publicável seria o que merecesse ser visto, lido, digerido, comentado. Ponto. Não importa se aconteceu há cinco minutos, há dez anos ou há cinco décadas.
Nossa padroeira é Nossa Senhora do Perpétuo Espanto : aquela que, no melhor dos mundos, deveria reinar, soberana, em todas as redações.
O Sopa de Espanto pede passagem. A Internet é um território hoje dominado pelo que os comunicólogos chamam de "nanoaudiências". Ou seja: milhões de pequenas audiências se dividem entre milhões de blogs. O quente hoje já não é falar para multidões.
Neste território superdisputado, um internauta vale por mil.
Bemvindos ao banquete.
O único problema é a pobreza do menu: aqui só se serve sopa de tamanco!