9 de julho de 2007

DOIS REPÓRTERES BRASILEIROS CRUZAM O CAMINHO DO ÍDOLO DOS JORNALISTAS, O DR. GAY TALESE


Gay Talese é ídolo de jornalistas. Co-fundou um estilo de reportagem : o chamado "novo jornalismo". É a arte de misturar técnicas jornalísticas e de ficção num só texto. Nove entre dez referências a Gay Talese dizem que o melhor texto que ele escreveu é a famosa reportagem sobre Frank Sinatra. Os "velhos olhos azuis", como se sabe, tinham horror a jornalista. Sinatra não recebeu o repórter, portanto. Mas o repórter achou que poderia escrever a reportagem sem ouvir o personagem principal. Os dois estavam certos: Sinatra, no horror aos jornalistas ; Talese, na certeza de que poderia produzir a peça.

Questão de gosto: o melhor texto de Gay Talese é o perfil que ele escreveu sobre um redator de obituários. É uma lição a jornalistas entediados que acham que assunto aparentemente desinteressante "não vale matéria". Ora,ora. A descrição da rotina de um obscuro redator de obituários rendeu uma das melhores páginas já produzidas por um jornalista ( a reportagem é encontrável na coletânea "Fama & Anonimato", publicada aqui na Lulalândia). Quem já passou quinze minutos numa redação sabe identificar, pelo cheiro de cloreto de potássio, esta triste figura: o jornalista, pretensamente sabidinho, que se investe de poderes ( dados por quem? ) para decidir o que "rende matéria" e o que "não rende". Ou seja: o que é que o público deve ou não deve ler. O bicho vive com uma injeção imaginária de cloreto de potássio na mão, igual aos carrascos que executam prisioneiros condenados à morte no Texas. A pilha de reportagens mortas no nascedouro por estas figuras daria para encher dez vezes o cemitério Joe Byrd (onde os executados do Texas são enterrados, em covas abertas por outros presos).

Dois repórteres brasileiros acabam de escrever sobre Gay Talese. Um é Jorge Pontual, na (boa!) revista de reportagens "Brasileiros", recém-lançada, já nas bancas e nas melhores casas do ramo. Pontual entrevistou Talese, em Nova York. Disse a ele que gostaria de saber o que é "ser Gay Talese". O "ídolo dos jornalistas" fez uma proposta ao repórter: "Aposto que sua história é mais interessante do que a minha.Uma boa história precisa de uma cena. Quer cena melhor do que esta? Você me encontra porque quer aprender a ser como eu e descobre que a verdadeira história é você mesmo. Sensacional! Escreva isso. A verdade é mais forte que a imaginação" ( o resto da história, na revista, por R$ 7,90). Ah : Talese é fã de Simone, a cantora.

O outro repórter que escreveu sobre o ídolo dos jornalistas é Paulo Polzonoff, num livro que acaba de sair do forno :"A Face Oculta de Nova York"(Editora Globo). Polzonoff anota, numa livraria em Nova York, a presença de uns cinquenta gatos pingados no lançamento de um livro autobiográfico de Talese: "Não era algo fácil de admitir, mas eu fazia parte de um clubinho muito do estranho. Vários dos meus amigos jamais ouviram falar em Gay Talese. Minha mãe não tem a menor idéia de quem seja ele. E, convenhamos, é bem possível que você, leitor, tampouco imagine quem ele seja. De repente, senti-me cokmo um menino tolinho que tem adoração pelo maior colecionador de selos do mundo - quem quer que seja".

O último a ler "Brasileiros" e "A Face Oculta de Nova York" é mulher do padre.