9 de julho de 2007

Sopa de Tamanco e os freelancers

Do colega Gustal:

Temos muitas razões de ficarmos furiosos ao ser comparados ao Congo. A principal, eu acho, é a literária. Pois vejam só, as sacanagens que o Rei Leopoldo da Bélgica fez no Congo - Belga, é claro - tal como inaugurar o hábito de cortar antebraçoes, depois alegremente imitado em guerras tribais de tutsis e hutus, emputeceram Joseph Conrad a ponto de ele escrever "O Coração das Trevas". Cuja frase emitida por Kurtz - "o horror, o horror" - inspirou T. S. Elliot na feitura de "Terra Desolada". Cujo enredo inspirou Francis Ford Coppola a rodar "Apocalipse Now". Agora, vejamos, há alguma frase e algum livro brasileiros que inspiraram alguma poesia ou algum filme que marcaram o século XX? Tentemos:
"Meu pé de Laranja Lima" - "Eu quero uma mulher bem nua/bem nua eu a quero ter/ de noite no clarão da lua/eu quero o corpo dessa mulher"...hmmm... universal, mas pouco terrível. Não.
"Quincas Borba" - "Ao vencedor, as batatas". É preciso um discurso de posse da Academia Brasileira de Letras para entender a piada. Não.
"Gabriela Cravo e Canela" - "Moço bonito..." Inspira no máximo novela de Walter George Dust. Como inspirou, aliás.
"Os Sertões"- "O sertanejo, é antes de tudo, um forte". Inspira discurso de inauguração de açude. Não.
"Grande sertão: veredas" - "Viver é muito perigoso". Inspira conselho de mãe castradora. Nonada não.
"Feliz ano novo" - "Limpei o cu com a colcha". Tão brilhante que não inspira, se esgota em si. Não.
"Olhai os Lírios do Campo" - "Olhai os lírios do campo", oras. Essa frase era inspirada em alguém, quem mesmo? Não.
"Vidas secas" - "Amarelo duma figa..." - inspirará uma campanha contra a pirataria de DVDs? Não.
"Ubirajara" - "Tal como o fogo fortalece o pau da braúna, a dor enrijece o varão" - sugestão para inspirar a próxima Marcha Gay. Mas não.

Os EUA fizeram bem em expulsar aquele gerente de imprensa: ele não entende nada de literatura.