27 de julho de 2007

Nem parece um movimento cívico. Parece um banco

Os paulistas decidiram se mexer. Lançaram um tal de Movimento Cívico pelos Direitos dos Brasileiros, uma reação à tragédia da TAM, mas que pretende alertar também para casos de corrupção e outros males nacionais. Na lista dos articuladores, industriais, jornalistas (cuidado!) e banqueiros. Os paulistas decidiram se mexer, o que poderá ser louvável, mas começaram equivocados. Todo brasileiro sabe que os maiores gatunos do país hoje são os banqueiros. Os juros cobrados são extorsivos, pornográficos, obscenos. Juros cobrados cotidianamente, que engordam os balanços biliardários dos bancos. Qualquer estudante de economia sabe que os juros cobrados são capitalizados, ou seja, juros em cima de juros, o que representa um assalto ostensivo, à luz do dia e da calada da noite.


O que é pior: os juros bancários sinalizam verticalmente para a sociedade. Então, qualquer espelunca comercial, educacional ou de qualquer outra natureza segue a calculadora geométrica dos bancos. O roubo se tornou institucionalizado e generalizado, com uma inflação inferior a quatro por cento ano. Um escândalo, que derrubaria qualquer governo num regime parlamentarista. Como o regime é presidencialista, a população paga o roubo e fica a se lamuriar do assalto diário ao orçamento doméstico, da rapinagem em cima dos salários.

A cultura dos juros substituiu, malandramente, a cultura inflacionária. Quem tinha dinheiro na época da inflação desmedida ganhava bastante com a ciranda das aplicações. Quem tem dinheiro agora continua ganhando dinheiro, além da nova ciranda, com a lucrativa e segura indústria dos juros, bancada obviamente pelo Banco Central e bancos oficiais. Ao que parece, esse tal de Movimento Cívico está lançando as bases, criar um ambiente político, desde já, para buscar um candidato-mano dos banqueiros para substituir, lá na frente, o Lula irmão mais novo dos banqueiros, em nome da continuidade da gatunagem lucrativa dos juros. Hoje, qualquer estabelecimento dribla facilmente a legislação e atua livremente como um banco, qualificando-se para praticar os juros de mercado que são os mais altos do mundo.

O povo brasileiro deve se mexer, sim. Mas um movimento que colocasse efetivamente na cadeia, em regime fechado, por longo tempo, de vinte a trinta anos, todo banqueiro e qualquer outro que não cobrassem juros reais de cinco a seis por cento ano, isto é, em torno de meio por cento ao mês em cima de qualquer boleto, carnê, conta, débito, o que for. Se não quiser, ponha o dinheiro na produtividade, vai trabalhar, lalau.

Essa farra vai ter que acabar. Um bom slogan para um movimento cívico que apregoasse julgamento sumário para banqueiros e clones. Esse Movimento Cívico paulista nem parece um movimento. Parece um banco.