16 de agosto de 2007

O MAIOR REPÓRTER BRASILEIRO SE VAI, ÀS TRÊS E QUARENTA E UM DA TARDE

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A cortina caiu, literalmente, às três e quarenta e um da tarde desta quinta-feira, no crematório do Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. Três e quarenta e um. Neste momento, um funcionário invisível da Santa Casa de Misericórdia acionou o mecanismo. A esteira onde estava o caixão com o corpo do maior repórter brasileiro começou, então, a se mover, lentamente.

Não se vê o rosto de quem aciona a máquina. Nada, ninguém. É como se o espetáculo da morte dispensasse coadjuvantes. Os parentes e amigos ficam sentados como se estivessem num pequeno auditório. O palco é ocupado pelo caixão - que desliza sobre a esteira até desaparecer, literalmente, atrás de uma cortina parecida com essas usadas no setor de bagagem dos aeroportos.

A última cena protagonizada por Joel Silveira transcorreu assim.

O corpo se vai. Fica o que conta: uma obra jornalística de qualidade excepcional.

Joel me pediu há poucos dias uma fotocópia do belo texto que Sérgio Augusto escreveu sobre ele. O texto de Sérgio Augusto foi publicado no livro "As Penas do Ofício". Ficou feliz, claro, quando eu repeti, por telefone, as louvações que Sérgio Augusto escreveu sobre os despachos que ele, Joel, enviou da Itália na época da guerra. Fiz a fotocópia. Não houve tempo para entregar. Igualmente, ele me perguntou várias e várias vezes quando é que ele poderia ver uma entrevista que gravei na Alemanha com Niklas Frank, o filho de um carrasco nazista. A "víbora" Joel queria saber o que o filho do carrasco tinha dito. Não houve tempo para ele visse a entrevista.

É sempre assim: um dia, o tempo falta, tanto para as grandes tarefas quanto para as banalidades.

Mas resta uma boa notícia: já tínhamos acertado, há meses, com a Editora Globo, a publicação de um livro em que reuniríamos nossas conversas ao longo de vinte anos de convivência. O título já estava escolhido: "Diálogos com o Último Dinossauro".

Deve ter sido o último compromisso profissional de Joel.

Virou tarefa: o livro vai ser feito. Nestas duas décadas, gravei uma série de entrevistas e conversas com Joel sobre o assunto que nos apaixonava: o Jornalismo. Eu, discípulo e aprendiz, ouvia o que o maior repórter brasileiro tinha a dizer sobre os personagens que conheceu e as situações que viveu ao longo de tanto tempo. Não é pouca coisa.

Diante do grande repórter, agi como repórter: gravei e guardei tudo.

Os depoimentos de Joel nos "Diálogos com o Último Dinossauro" terão destinatários certos : estudantes de Jornalismo e jornalistas que, a exemplo de Joel, acreditam que a reportagem é, sempre foi e será a alma da profissão.

A cortina caiu. Mas a voz continuará a ser ouvida.