17 de agosto de 2007

PAUSA PARA ANÚNCIO EM CAUSA PRÓPRIA : "DOSSIÊ DRUMMOND" ACABA DE CHEGAR ÀS LIVRARIAS

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Quem é o ombudsman dessa joça ? Quem foi que jogou fora o manual de redação do Sopa de Tamanco ? É ou não é proibido fazer propaganda em causa própria ? Enquanto o Comitê Central discute esta dúvida devastadora, anuncio aos tamanqueiros habituais ou
acidentais : acaba de chegar às livrarias uma edição "revista e ampliada" do "Dossiê Drummond". Traz a íntegra da última grande entrevista de Carlos Drummond de Andrade, além de depoimentos de quarenta e cinco personalidades sobre ele. Há flores e pedras.
Drummond reclama de uma "herança nociva" do modernismo: todo mundo achou que poderia ser poeta. As musas lamentam informar, mas não pode. Revela por que não era fã de Nélson Rodrigues.

A acidentada (e traumática) participação de Drummond na política é um dos destaques nos depoimentos. Em resumo :confirma-se que a poesia e a política, como diz o personagem de Terra em Transe, são demais para um homem só.

Frases de Drummond na última entrevista:

.”Não tenho a menor pretensão de ser eterno.Pelo contrário : tenho a impressão de que daqui a vinte anos – e eu já estarei no cemitério São João Batista – ninguém vai falar de mim,graças a Deus.O que eu quero é paz”.

.”Não fiz nada organizado.Não tive um projeto de vida literária.As coisas foram acontecendo ao sabor da inspiração e do acaso.Não houve nenhuma programação.Por outro lado,não tendo tido nenhuma ambição literária,fui poeta pelo desejo e pela necessidade de exprimir sensações e emoções que me perturbavam o espírito e me causavam angústia.Fiz da minha poesia um sofá de analista.É esta a minha definição do meu fazer poético”.

.”A popularidade nada tem a ver com a poesia.A popularidade pode acontecer.Mas um grande poeta pode também passar despercebido”.

.”Tive apenas o desejo de exprimir minhas emoções.Eu sentia necessidade de que eles se soltassem ; era um problema mais de ordem psicológica do que de outra natureza”.

.”O jornalismo é uma forma de literatura.Eu,pelo menos,convivi – e mil escritores conviveram- com uma forma de jornalismo que me parece muito afeiçoada à criação literária : a crônica”.

.”O que lamento é que as novas gerações já não tenham os estímulos intelectuais que havia até trinta ou quarenta anos passados.As pessoas que sabiam escrever a língua se destacavam na literatura e nas artes em geral.Hoje em dia,há escritores premiados que não conhecem a língua natal”.

.”Sou uma pessoa terrivelmente corajosa,porque não espero nada de coisa nenhuma”.

.”Considero-me agnóstico.Sou uma pessoa que não tem capacidade intelectual e competência para resolver o problema infinito que é se existe ou não existe uma divindade”.

.”Minha motivação foi esta : tentar resolver,através de versos,problemas existenciais internos.São problemas de angústia,incompreensão e inadaptação ao mundo”.