O jornalismo perdeu muito com a tirania das perguntas excessivamente objetivas. Para se compreender a realidade brasileira é preciso usar uma taxa extra de nonsense, em especial quando se entrevista personalidades públicas e administrativas. Essa busca cartesiana pelos fatos tem confundido os leitores. Não faz mais sentido se perguntar às autoridades:"quando acaba a crise aérea?". Isso é uma bobagem. A pergunta deveria ser de outra natureza, mais inspirada, que sugerisse devaneios, coerentes com os desvios dos trópicos. Por exemplo: algum repórter, de preferência descendente de Silvio Caldas ou Orestes Barbosa, deveria, na próxima coletiva com o ministro Nelson Jobim, fazer-lhe apenas uma pergunta: "ministro, quando voltaremos a pisar nos astros distraídos?" O ministro, esqueceria a arrogância que lhe é característica, e responderia, solenemente: "minha vida era um palco iluminado, eu vivia vestido de doirado, palhaço das perdidas ilusões . . . Cheio dos guizos falsos da alegria, andei cantando a minha fantasia entre as palmas febris dos corações".
E quando se questionasse o presidente Lula sobre o avanço dos produtos têxteis chineses, que estão acabando com a indústria brasileira de confecções, o repórter formularia a pergunta, desta forma: "presidente, festa dos nossos trapos coloridos, a mostrar que nos morros mal vestidos, é sempre feriado nacional?" E o presidente, sempre muito perspicaz, "macunaímico" (leiam a reportagem com FHC na Piauí), responderia: "nossas roupas comuns dependuradas, na corda qual bandeiras agitadas, pareciam um estranho festival . . . "
Os jornais venderiam mais, os estudantes de jornalismo ganhariam novos temas para as dissertações e os aloprados do PT não cairiam em tentações totalitárias de amordaçamento da Imprensa. Isso é new journalism.