30 de dezembro de 2008
TESTE PARA SELEÇÃO DE JORNALISTAS
O candidato ao emprego deve ficar imóvel durante três minutos, diante um fiscal da empresa.
Se, ao final deste prazo, o candidato não latir nem relinchar deve ser sumariamente eliminado, porque não serve para a profissão jornalística.
Se, no entanto, o candidato emitir latidos e relinchos terá provado que é jornalista legítimo. Deve ser imediatamente contratado.
Porque mostrou estar preparado para ingressar nas redações brasileiras e produzir os jornais, revistas e programas de TV mais chatos do mundo.
15 PONTOS BÁSICOS PARA ENTENDER POR QUE DEUS NÃO É BRASILEIRO E PROVAVELMENTE NÃO TORCE PELO FLAMENGO
3. Se Deus fosse brasileiro, as estações seriam 37, mas alguns juristas defenderiam a existência de 42; outros, de 29; outros, ainda, de 76; enquanto a OAB fecharia o caso em 11 ou 315, a depender da comissão. O que não significaria muito, porque, no final, só duas seriam observadas na prática: o Verão 1 e o Verão 2, não se sabendo exatamente sua ordem, data de início ou tempo de duração.
CHUCK NORRIS É MEU PASTOR E NADA ME FALTARÁ, EXCETO TALVEZ UM OU DOIS DENTES
E disse Chuck: “Faça-se a luz, motherfucker”, e a luz, que é ajuizada, se fez. E viu Chuck que a luz era boa para levar umas porradas, e saiu desferindo cascudos em fótons, prótons, elétrons e demais partículas subatômicas que apareciam pela frente. E com um coice apartou a luz das trevas; e Chuck chamou à luz Fucking Dia, e às trevas Fucking Noite.
COM A MORTE DE DEUS, PSDB PERDE UM FILIADO
O Senhor passeava tranqüilo sobre a face das águas quando Nietzsche, que tinha entrado no Paraíso à socapa, com a intenção de matar Sócrates, deparou-se com Platão, banhando-se num lago de águas cristalinas e pensando: “Se o lago do mundo ideal é assim, imagina o lago do mundo ideal do mundo ideal!”
29 de dezembro de 2008
CAMPANHA CONTRA O ANÚNCIO "SOMBRANCELHA"
O Sopa já tinha chamado a atenção dos caros internautas para outros absurdos, como o texto de um anúncio de carro, em página nobre da Veja, que trazia a pérola "encarar de frente".
Quem escreve "encarar de frente" deveria sair algemado da agência de publicidade.
Mas, não.
Deve ter cobrado uma nota para escrever tal preciosidade....
Não é má vontade com publicitários em geral, não.
Mas aposto uma boiada:
os gênios que criaram o anúncio "sombrancelha"....
a) consideram-se mal pagos. Devem achar que merecem um salário muitíssimo maior
b) é provável que usem gel no cabelo
c) contrabandeiam uma palavra ou expressão em inglês a cada duas frases que pronunciam
d) acham sinceramente geniais os belos anúncios que concebem
Faço estas suposições porque um dia um de nossos confrades do Sopa teve a chance de ver uma cena inesquecível numa faculdade de jornalismo: um publicitário, com blusinha preta bem justa e gel no cabelo, exibiu, como se fosse uma obra de arte digna do teto da Capela Sistina, o anúncio de uma cerveja em que uma tartaruga fazia umas embaixadas com uma lata. O rapaz tinha criado o anúncio. Falava da peça publicitária, a sério, como se estivesse discorrendo sobre as consequências da descoberta da penicilina.
Um silêncio de pedra percorreu o auditório.
Deus do céu - devem ter pensado os espectadores. O cúmulo do ridículo acaba de ser batido.
Eu diria à platéia, se tivesse a chance de me materializar na penúltima fileira: sim, tens toda razão, oh, caros circunstantes ! ( eu sabia que um dia teria a chance de chamar outros bípedes de "circunstantes")! O recorde do ridículo foi batido, aqui, inapelavelmente, sem que o autor da façanha ao menos desconfie do feito que acabou de cometer!
A conferência do gênio publicitário seguiu até o fim.
C´est la vie.
JOVEM, ALISTE-SE NESTA CAMPANHA, ESPALHE A CORRENTE PELA INTERNET, MOBILIZE SEUS VIZINHOS: QUEM SERÁ O AUTOR DO ANÚNCIO "SOMBRANCELHA" ?
NÉLSON VASCONCELOS ADERIU À CORRENTE, NO PRESTIGIOSO GLOBO ON LINE:
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/
PODE PARECER IMPLICÂNCIA. NÃO É. O COLETIVO DO SOPA DE TAMANCO CONSIDERA INTOLERÁVEL O FATO DE UM ANÚNCIO - VEICULADO EM HORÁRIO NOBRE - TRAZER TAL ATENTADO AO IDIOMA.
É SIMPLES ASSIM: A PALAVRA "SOMBRANCELHA" NÃO EXISTE NA LÍNGUA PORTUGUESA. É UM ERRO CAVALAR. COMO TAL, NÃO PODERIA SER DITA NUM ANÚNCIO VEICULADO NAS TVS.
PROPAGANDEADO NA TV, O ATENTADO AO IDIOMA CORRE O RISCO DE SE ESPALHAR FEITO ERVA DANINHA.
JÁ NÃO BASTA A IMENSA LEGIÃO DE ARTISTAS, JORNALISTAS (!), APRESENTADORES & ASSEMELHADOS QUE PRONUNCIAM IMPUNEMENTE A EXPRESSÃO "O ÓCULOS" ?
E O QUE DIZER DOS QUE DIZEM "PRA MIM VER" ?
O PIOR É QUE É GENTE QUE, EM TESE, DEVERIA ZELAR MINIMAMENTE PELA LÍNGUA, PORQUE USA MEIOS DE COMUNICAÇÃO.
O CASO DE UM ANÚNCIO É MAIS GRAVE.
PELO SEGUINTE: PARA QUE FOSSE LEVADO AO AR, O ANÚNCIO FOI ENSAIADO, FILMADO, REVISADO, EDITADO E APROVADO !!
NÃO APARECEU UMA SÓ VOZ PARA DIZER: "PAREM AS MÁQUINAS! DIZER "SOMBRANCELHA" É DAR UM CHUTE NO OUVIDO DOS OUTROS!".
NÃO. O ANÚNCIO CHEGOU AO HORÁRIO NOBRE.
A GRANDE MARCHA PELA DISSEMINAÇÃO DA IGNORÂNCIA DEU UM PASSO ADIANTE.
27 de dezembro de 2008
SOPA DE TAMANCO LANÇA MOBILIZAÇÃO NACIONAL: QUEM TERÁ FEITO O ANÚNCIO EM QUE A ATRIZ CAROLINA DIECKMANN DIZ "SOMBRANCELHA" ?
Como é que alguém que tenha passado do primeiro ano do ensino fundamental pode produzir e veicular um anúncio que traz, clara e límpida, a palavra "SOMBRANCELHA"?
Pois é o que a atriz Carolina Dieckmann diz, com todas letras, no fim do anúncio.
O Sopa quer saber: quem são os pais da criança ? Quem fez a tal peça ?
O produto anunciado chama-se Gula Fruts. O fabricante ( basta fazer uma busca rápida no Google) é a Gulozitos.
As buscam continuam.
26 de dezembro de 2008
UM ABSURDO EM HORÁRIO NOBRE: ANÚNCIO DE REFRESCO CHAMADO GULA FRUTS FALA EM "SOMBRANCELHA". SOMBRANCELHA! QUEM SERÁ O PAI DA CRIANÇA?
Os bravos investigadores do Sopa de Tamanco tentaram descobrir quem foi a agência de publicidade responsável pela pérola, mas não há indicação no site da empresa. Lá, informam que o anúncio foi produzido por uma empresa "conceituadíssima".
Deus do Céu, que empresa "conceituadíssima" é essa que produz um anúncio em que uma atriz diz, claramente, com todas as letras, uma palavra que não existe em nenhum dicionário ? A palavra é "SOMBRANCELHA" !!!!
Ninguém, nenhuma alma caridosa se deu ao trabalho de dizer ao gênio autor do texto que o certo é "sobrancelha". Simples assim. Mas os autores da peça publicitária com certeza imaginaram que o certo é "sombrancelha". Afinal, aqueles pelos que ornam os olhos devem produzir sombra....
O absurdo foi gravado, editado, aprovado e, pior, veiculado.
Resultado: nossos ouvidos desprevenidos são obrigados a ouvir, sem aviso prévio, a "SOMBRANCELHA".
Pergunta-se: quanto o autor do texto terá cobrado ?
Crianças que ouvem tal estupidez vão achar que a palavra "sombrancelha" existe. Se não existisse, não estaria num anúncio que deve ter custado uma nota.
Quem procurar no You Tube vai encontrar o atentado.
21 de dezembro de 2008
JÂNIO QUADROS: A REVELAÇÃO FINAL SOBRE A RENÚNCIA
http://www.geneton.com.br/archives/000308.html :
A PALAVRA FINAL SOBRE A RENÚNCIA : DEITADO NUMA CAMA DE HOSPITAL, JÂNIO QUADRO REVELA OS MOTIVOS DO GESTO
A mais sincera confissão já feita por Jânio Quadros sobre os reais motivos que o levaram a renunciar à Presidência da Republica no dia 25 de agosto de 1961 somente foi publicada em 1995,em escassas sete páginas de uma calhamaço lancado por uma editora desconhecida de São Paulo em louvor ao ex-presidente.
Organizado por Jânio Quadros Neto e Eduardo Lobo Botelho Gualazzi,o livro ‘’Jânio Quadros : Memorial à Historia do Brasil’’ é, na verdade,um bem nutrido album de recortes sobre o homem. Grande parte das 340 páginas do livro,publicado pela Editora Rideel, é ocupada pela republicação de reportagens originalmente aparecidas em jornais e revistas sobre a figura esquisita de JQ.
A porção laudatória do livro é leitura recomendável apenas a janistas de carteirinha. O ‘’Memorial’’ traz,no entanto,um capítulo importante : a confissão que Jânio, já doente,fez ao neto,num quarto do Hospital Israelita Albert Einstein,no dia 25 de agosto de 1991, no trigésimo aniversário da renúncia.
Jânio morreria no dia 16 de fevereiro de 1992, aos 75 anos de idade. O neto fez segredo sobre o que ouviu. Somente publicou as palavras do avô quatro anos depois. Ao contrário do que fazia diante dos jornalistas - a quem respondia com frases grandiloquentes mas pouco objetivas sobre a renúncia - Jânio Quadros disse ao neto, sem rodeios e sem meias palavras, que renunciou simplesmente porque tinha certeza de que o povo,os militares e os governadores o levariam de volta ao poder. Nâo levaram.
Talvez porque já pressentisse o fim próximo,Janio admite,diante do neto,pela primeira vez,que a renúncia foi ‘’o maior fracasso político da história republicana do Pais,o maior erro que cometi’’.A já vasta bibliografia sobre a renúncia ganhou, assim, um acréscimo fundamental, feito pelo proprio Jânio - a única pessoa que poderia explicar o enigma. Desta vez, a explicação parece clara.
Um detalhe inacreditável - que revela como as redações brasileiras são povoadas por uma incrível quantidade de burocratas que vivem assassinando o jornalismo : a confissão final de Jânio mereceu destaque zero nas páginas da imprensa brasileira,o que é estranho, além de lamentável.
A imprensa - que passou três décadas perguntando a Jânio Quadros por que é que ele renunciou - resolve deixar passar em brancas nuvens a confissão final do ex-presidente sobre a renúncia, acontecimento fundamental na historia recente do Brasil.
Tamanha desatenção parece ser um subproduto típico de uma doença facilmente detectável nas redações - a Síndrome da Frigidez Editorial .Joga-se noticia no lixo como quem se descarta de um copo de papel sujo de café . Leigos na profissao podem estranhar, mas a verdade é que há notícias que precisam enfrentar uma corrida de obstáculos dentro das próprias redações, antes de merecerem a graça suprema de serem publicadas.! Isto não tem absolutamente nada a ver com disponibilidade de espaço, mas com competência, faro jornalístico.
Se a última palavra do um presidente sobre um fato importantíssimo não merece uma linha sequer em jornais e revistas que passaram anos e anos falando sobre a renúncia, então há qualquer coisa de podre no Reino de Gutemberg. Quem paga a conta, obviamente, é o leitor, a quem se sonegam informações.
O caso da confissão de Jânio sobre a renúncia é exemplar : a informação fica restrita aos magros três mil exemplares do livro do neto. E os milhares,milhares e milhares de leitores de jornais e revistas,onde ficam ? A ver navios. É como dizia o velho Paulo Francis: "Nossa imprensa: previsível, empolada, chata. Como é chata, meu Deus!".
Eis trechos do diálogo entre o ex-presidente e o neto,no hospital.As palavras de Jânio não deixam margem de dúvidas sobre a renúncia :
-‘’Quando assumi a presidência, eu não sabia da verdadeira situação político-econômica do País. A minha renúncia era para ter sido uma articulação : nunca imaginei que ela seria de fato aceita e executada. Renunciei à minha candidatura à presidencia, em 1960. A renúncia não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força. Meu ato de 25 de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade. Também foi o maior fracasso político da história republicana do país, o maior erro que cometi(...)Tudo foi muito bem planejado e organizado. Eu mandei João Goulart (N:vice-presidente) em missão oficial à China, no lugar mais longe possível. Assim,ele não estaria no Brasil para assumir ou fazer articulações políticas. Escrevi a carta da renúncia no dia 19 de agosto e entreguei ao ministro da Justica, Oscar Pedroso Horta,no dia 22. Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a presidência. Pensei que os militares,os governadores e,principalmente,o povo nunca aceitariam a minha renúncia e exigiriam que eu ficasse no poder. Jango era,na época,semelhante a Lula : completamente inaceitável para a elite. Achei que era impossével que ele assumisse, porque todos iriam implorar para que eu ficasse(...) Renunciei no dia do soldado porque quis senbilizar os militares e conseguir o apoio das Forças Armadas. Era para ter criado um certo clima político. Imaginei que,em primeiro lugar,o povo iria às ruas, seguido pelos militares. Os dois me chamariam de volta. Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26. Achei que voltaria de Santos para Brasília na glória. Ao renunciar, pedi um voto de confianca à minha permanencia no poder. Isso é feito frequentemente pelos primeiros-ministros na Inglaterra.Fui reprovado.O País pagou um preço muito alto. Deu tudo errado’’.
20 de dezembro de 2008
CONVITE PARA VER SHOW DA MADONNA !
De qualquer maneira, eu aceitaria de bom grado um convite para ver o show de Madonna do começo ao fim, num camarote vip, desde que, em troca, eu recebesse um cheque em branco de Antônio Ermírio de Moraes para gastar no fim de semana em São Paulo, quatro diárias na suíte presidencial do Macksoud Plaza, quatrocentas toalhas brancas, uma personal trainner, trinta e cinco caixas de Coca-Cola, oitocentos e trinta chocolates Diamante Negro e trezentos mil reais, cash, para despesas imprevistas.
Tive a pachorra de encaminhar as exigências para os promotores do show. Engraçado: eles não responderam até agora. Deve ter acontecido alguma coisa com o carteiro.
Diante da falta de resposta, cancelei a viagem.
Deixo para a próxima. Mas continuo perguntando ao teto: Deus do Céu, aponte uma escassa frase inteligente já pronunciada por esta mulherzinha afetada, antipática, má cantora e compositora de uma música só.
Aos cinquenta anos, veste-se, pateticamente, como se tivesse dezoito. É tão sensual quanto uma maçaneta.
Toda vez que fala exibe aquele ar lastimável de quem comeu doce de côco podre.
Refaço, então, as contas: eu iria, sim, em troca de quinhentos e trinta e cinco mil reais, cash.
Não vai rolar.
A GRANDE MARCHA MUNDIAL DA IMBECILIDADE
1) gente que diz "amo de paixão"
2) gente que manda "um beijo no coração"
3) gente que diz "êita nós"...
3) gente que, ao cometer um erro banal no meio de uma frase, diz "minto" antes de continuar a falar...
4) gente que fala, ri, canta e relincha alto em lugares públicos, especialmente restaurantes
A lista daria para preencher dez enciclopédias britânicas.
Em breve, continua, aqui, no nobre espaço da Sopa de Tamanco.
18 de dezembro de 2008
MADONNA MIA !
17 de dezembro de 2008
40 ANOS ESTA NOITE...
15 de dezembro de 2008
FURO !!
Em tempo: foi por pouco, pouco, muito pouco, pouco mesmo que o furo não apareceu na foto.
Acuada pelo fotógrafo da reportagem do Sopa de Tamanco que irrompeu no camarim quando os beques, ou melhor, os guarda-costas cochilaram, a cantora pop do modelito patético precisou cuidar sozinha da cidadela. "Desencosta da parede", disse ele com jeito, na língua dela. Nada feito. "Só porque é do Sopa acha que vou abrir a retaguarda?!", retrucou, sem pena, a cantora.
Nosso fotógrafo promete nova investida. Quem sabe, ainda neste torneio, ou melhor, turnê, o furo. Neste seu Sopa de Tamanco, é claro.
14 de dezembro de 2008
MADONNA: PAVOROSA NUMA ROUPA PATÉTICA PARA PARECER "SEXY"
Madonna, aquela cantora mala, metida numa roupa patética para parecer "sexy", requebrava de um lado para outro no palco do Maracanã.
Que falta faz um assessor numa hora dessas !
Fico pensando: não é possível que não haja, na numerosíssima entourage da cantora, uma alma caridosa disposta a dizer a ela que é absolutamente ridículo uma cinquentona fazer trejeitos de adolescente idiota.
Como se não bastasse, a música que ela cantava, no trecho exibido na TV, era chatíssima.
Mas, como há otário para tudo, palmas para ela!
13 de dezembro de 2008
DEVE FICAR ASSIM
É de se lamentar. Mas não por muito tempo. Na semana em que se inaugurou a estátua de Dorival Caymmi no mesmo logradouro público, o comentário no Posto 6 é de que o problema com a estátua do poeta itabirano será finalmente resolvido pelas autoridades cariocas escoladas em... estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade no Calçadão de Copacabana. Sim, resolvido. E de uma vez por todas.
Como? Muito simples: lentes de contato.
TERÁ SIDO A MÃO ARMADA?
11 de dezembro de 2008
O GRANDE CAMPEONATO DA ESTUPIDEZ
Quem diabo é "Nanda", oh anta balofa ? Você quer que o pobre coitado do telespectador tenha a obrigação de saber de apelidozinhos de seus amiguinhos ?
Ah, adiante, o telespectador é informado de que se trata da atriz Fernanda Torres.
Em outro programa, a própria Fernanda Torres fala de uma tal de "Conspira".
Por intervenção do entrevistador, o telespectador consegue, afinal, descobrir que se trata de uma referência à Conspiração Filmes.
Em outro programa, a entrevistada fala de "Vlad".
Adiante, as vítimas (aliás, os telespectadores) são levados a supor que se trata do ator Vladimir Brichta.
E o que dizer de anúncios em que a atriz Juliana Paes é chamada de "Ju" ?
Não há qualquer resquício de dúvida: a televisão é, disparado, a maior fábrica de idiotices, estultices, antas, analfabetos e empulhações da história da Humanidade. Em matéria de indigência, não há nada comparável. Jamais haverá.
Que o digam os ouvidos dos telespectadores punidos por sons como "Nanda", "Vlad" e "Ju".
10 de dezembro de 2008
DE NOVO ELLA
Ella foi apresentada a Chick Webb por Charles Linton, que cantava na banda liderada pelo baterista, mas sem talento para o swing. Decidiu-se que uma cantora poderia resolver o problema, e o cantor foi incumbido de procurar uma vocalista que desse conta do recado.
Dias depois, o cantor conhece uma jovem cantora que ganhara o primeiro prêmio num concurso de calouros. Pede que cante algo. Achou a voz dela muito rouca. Mas boa. Perguntou se a jovem tinha outra canção para apresentar. Sim. Logo o cantor que fazia as vezes de caça-talentos interrompeu o número: "Venha, vou apresentá-la ao Chick."
Olha só o bonitão, de namorada nova, brincou Chick ao ver seu cantor com uma garota que estava longe, muito longe do padrão de beleza ou encanto tanto de um como do outro. "Quero que você a ouça cantando", diz Linton.
Chick Webb avança até o cantor, segura-o pela gola e lhe sussurra, como se gritasse: "Você não vai por isto sobre o tablado da minha banda. Não, não, não. Fora!"
O depoimento de Charles Linton está em Ella Fitzgerald: uma biografia da primeira-dama do jazz, de Stuart Nicholson. (Ed. José Olympio, 1997) Na foto, Chick Webb.
7 de dezembro de 2008
TOMA !
5 de dezembro de 2008
COMBINADO: DIVIDA-SE A BELEZA
Oscar Niemeyer conta qual foi a reação do colega Walter Gropius depois de conhecer a Casa das Canoas, que aparece no post acima. Está no livro de Marcos Sá Corrêa citado posts abaixo. Fala, Oscar.
Ele veio, olhou bem e me disse que era bonita, mas pecava por não ser um projeto "multiplicável". Eu faço uma casa para mim, do tamanho da minha família, moldada ao terreno de São Conrado, aberta para a mata da Floresta da Tijuca, filtrando o sol do Rio de Janeiro, e Gropius queria que fosse multiplicável. Só para não sair sem ter falado uma besteira.
DOIS, UM PERNAMBUCO
... SUPERFÍCIES, TÊNIS, UM COPO DE ÁGUA.
4 de dezembro de 2008
O ENGENHEIRO SONHA COISAS CLARAS...
Encontraste algum dia
Sobre a terra
O fundo do mar
O tempo marinho e calmo?
Década de 7o. Muito, muito desgostoso, sozinho, muito só desde que, por incompetência alheia, um pavilhão de concreto calculado por ele desabara em Belo Horizonte, matando mais de 60 operários, Joaquim Cardozo embarcou no Recife para estar com Oscar Niemeyer no Rio.
O amigo arquiteto providenciou hotel para o amigo engenheiro, poeta responsável pelo cálculo estrutural da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, do Palácio da Alvorada e da Catedral de Brasília. Debruçado sobre o mar de Copacabana, Joaquim passava os dias no escritório do velho companheiro. À noite, Oscar o acompanhava até o hotel. Iam pela calçada. Jantavam. Trocavam impressões, idéias, recordações...
Não tocavam no assunto, mas, calados, lembravam "com íntima revolta" o acidente que desgraçara a vida do pernambucano e virara "objeto de exploração tão sórdida", como conta Niemeyer.
A rotina entre as pranchetas que os visionários diriam em balanço sobre as areias do Posto 6 e o quarto de hotel ali perto teve fim quando Joaquim precisou ser internado numa clínica do bairro de Botafogo. O engenheiro calculista que poetava em mandarim já não cabia na hospedaria. Mas tampouco haveria espaço dentro dele para um setor de psiquiatria.
Então, há 30 anos, um mês e um nascer do sol, morria no Recife o poeta nascido da "luz Velásquez", engenheiro que inspirou num conterrâneo inimigo da inspiração os versos em epígrafe.
3 de dezembro de 2008
MARIO QUINTANA; "VINDE, CORVOS, CHACAIS, LADRÕES DA ESTRADA!"
"O PROLETÁRIO É UM SUJEITO EXPLORADO FINANCEIRAMENTE PELOS PATRÕES E LITERARIAMENTE PELOS POETAS ENGAJADOS"
CINCO VERSOS DE MARIO QUINTANA (Alegrete, RS, 1906):
1. “Ai de mim/Ai de ti, ó velho mar profundo/Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios”.
2. “A vida é um incêndio/nela dançamos, salamandras mágicas/Que importa restarem cinzas/se a chama foi bela e alta?/Em meio aos torós que desabam/cantemos a canção das chamas!/Cantemos a canção da vida/na própria luz consumida...”
3. “Um poema como um gole d’água bebido no escuro/Como um pobre animal palpitando ferido/Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na floresta noturna/Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema/Triste/Solitário/Único/Ferido de mortal beleza”
4. “Da primeira vez em que me assassinaram/perdi um jeito de sorrir que eu tinha/Depois, de cada vez que me mataram, foram levando qualquer coisa minha...”
5. “Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!/Ah! Desta mão, avaramente adunca,/Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!”
E VINTE E TRÊS RESPOSTAS:
Qual deve ser o primeiro compromisso da agenda da vida de um poeta?
QUINTANA: "O primeiro compromisso deve ser: não parar de poetar. Não parar de viver intensamente"
O senhor diz que gosta de fazer projetos a longo prazo, para “desafiar o diabo”. Que último desafio o senhor lançou?
QUINTANA: "O último desafio foi uma viagem – gorada – a Paris. O próximo, já em execução, é aprender a falar inglês. Eu era apenas tradutor de francês da Editora Globo. Aprendi, sozinho, a língua inglesa numa gramática, para traduzir. Mas apenas lia o que estava escrito, sem saber a pronúncia. Agora, estou lidando com um curso de inglês da Inglaterra por meio de fitas cassete. O primeiro tradutor de Virginia Woolf no Brasil fui eu. A tradução foi bem recebida pela crítica".
O escritor Erico Verissimo dizia que “Quintana é um anjo que se disfarçou de homem”. O senhor tem algum reparo a fazer à observação?
QUINTANA: "Tenho. Sempre desejei ser exatamente o contrário: uma espécie de diabo"
Qual a grande compensação que a poesia dá a quem a escreve?
QUINTANA: "Minha grande compensação é ter, às vezes, conseguido pegar a poesia nuínha em flor. Mas é difícil! (ri)"
Críticos já notaram que o senhor tem uma preferência especial pelas reticências. É verdade que prefere as reticências aos pontos finais?
QUINTANA: "Considero que as reticências são a maior conquista do pensamento ocidental, porque evitam as afirmativas inapeláveis e sugerem o que os leitores devem pensar por conta própria, após a leitura do autor"
O senhor diz que, ao escrever, “pergunta mais do que responde”. Qual a grande pergunta que o senhor não conseguiu ver respondida até hoje, aos oitenta e dois anos?
QUINTANA: "O essencial é a gente fazer perguntas. As respostas pouco importam"
Se a poesia, segundo suas palavras, “é uma loucura lúcida”, todo bom poeta deve ser necessariamente louco, ainda que lúcido?
QUINTANA: "Creio que é na Bíblia que foi escrito que todos nós temos um grão de loucura. O poeta deve ter esse grão de loucura, mas não necessariamente estar num grau de loucura"
O senhor já se confessou simpático à restauração da monarquia no Brasil. A notícia de que será promovido no início dos anos noventa um plebiscito para decidir se o Brasil deve ser monárquico ou republicano anima-o? Que cargo gostaria de ocupar no Brasil governado por um Rei?
QUINTANA: "É claro que nenhum! Eu não desejaria ser o Poeta da Coroa. A melhor receita para fazer um mau poema é fazê-lo de encomenda"
Além de poeta, o senhor é tradutor de obras clássicas, como vários volumes de Marcel Proust. Que semelhança pode existir entre o trabalho de tradução e o ofício da criação poética?
QUINTANA: "Há sempre uma diferença entre tradução literal e tradução literária. Creio que a tradução de um autor é, nada mais, nada menos, a estréia desse autor na literatura da língua para a qual ele foi traduzido. Daí, a responsabilidade enorme de traduzir um Proust, um Voltaire, gente assim"
O senhor já chegou a trabalhar simultaneamente na preparação de cinco livros. Em algum momento da vida se sentiu tentado a deixar de escrever?
QUINTANA: "Sempre estou escrevendo, em prosa e em verso.Venho trabalhando em quatro livros.Cinco é demais! Nunca pensei em deixar de escrever, porque é a única coisa que sei fazer na vida".
Qual o grande medo do poeta Mario Quintana hoje?
QUINTANA: "Tenho medo de dizer"
O senhor, segundo notou o autor de um artigo publicado pela revista ISTOÉ, "nada tem: nem casa, nem mulher, nem dinheiro, nem família". Tanto desapego foi escolha pessoal ou aconteceu à revelia do que o senhor desejou ?
QUINTANA: "Catastrófico o autor, para mim desconhecido, dessa coisa publicada na ISTOÉ. O certo é que elas não tiveram tempo...E agora,no fim da picada, acho preferível a solidão sozinho à solidão a dois. Quero a solidão sozinho!"
(Enclausurado num quarto de hotel em Porto Alegre, Mario Quintana tinha uma mania: escrever a mão textos que, só depois, eram datilografados pela secretária Mara Cilaine, guardiã do poeta)
O senhor já declarou que "o proletário é um sujeito explorado financeiramente pelos patrões e literariamente pelos poetas engajados". Em algum momento, o senhor acreditou que a poesia poderia mudar o mundo ?
QUINTANA: "Para mudar o mundo, caberia ao poeta candidatar-se a vereador,a deputado ou a outro cargo assim- e não fazer poemas que as classes necessitadas não têm tempo de ler. Ou não sabem ler.É verdade que Castro Alves influiu na abolição da escravatura. Mas acontece que Castro Alves era genial. Já nós temos apenas algum talento...."
O senhor é autor de uma sugestão original: a nação lucraria se pudesse escolher livremente os ministros - e não apenas o presidente. De onde nasceu essa constatação ?
QUINTANA: "Não me lembro de ter feito tal sugestão. Mas agora gostei! O povo poderia influir mais diretamente no Executivo - que não ficaria só com o presidente e seus amiguinhos..."
O senhor escreveu que a poesia é a "invenção da verdade". Conseguiu inventar todas as verdades que queria através da poesia ?
QUINTANA: O que meu cérebro lógico pensa não é exatamente o que pensa a parte não lógica do cérebro. Além da mera geometria euclidiana, existe a geometria não-euclidiana. Isso parece meio confuso, mas me faz lembrar uma verdade que escrevi um dia: a poesia não se entrega a quem sabe defini-la".
Aos oitenta e dois anos, o senhor é otimista ou pessimista diante do destino do homem neste fim de século?
QUINTANA: "Sou otimista. Há mais liberdade de expressão e mais comunicação. Não há, como nos meus tempos de menino, aquela proibitiva divisão entre as faixas etárias"
Num livro lançado há exatamente quarenta anos, Sapato Florido, o senhor escreveu que “os verdadeiros poetas não lêem os outros poetas. Os verdadeiros poetas lêem os pequenos anúncios dos jornais”. Qual foi, então, o melhor anúncio que o senhor já leu?
QUITANA: "Não sei se foi o melhor, mas o mais divertido foi este: “Alugam-se duas salas para mulheres bem-arejadas”. Ler os pequenos anúncios, em todo caso, é pôr-se em contato com as necessidades do povo"
Saber que “o vôo do poema não pode parar”, como o senhor diz em “O Vento e a Canção”, é um consolo para quem escreve?
QUINTANA: "Para quem escreve, saber que o vôo do poema não pode parar é sinal de que a vida continua deslizando, apesar dos solavancos"
O poema “No Meio do Caminho”, escrito por Carlos Drummond de Andrade no final dos anos vinte, foi ridicularizado e bastante criticado quando surgiu. O senhor, no entanto, incluiu o poema entre os que gostaria de ter escrito. De que maneira o senhor reagiria às críticas que foram feitas ao poema?
QUINTANA: "Quando alguém pergunta a um autor o que é que ele quis dizer, um dos dois é burro..."
Se "os caminhos estão cheios de tentações", qual a grande tentação do poeta Mario Quintana hoje ?
QUINTANA: "Os caminhos continuam cheios de tentações. Mas.....cabem,aqui, reticências"
Os jovens poetas sempre esperam ensinamentos dos mais experientes. Se um poeta de vinte anos pedisse um conselho a Mário Quintana, que resposta o senhor daria a ele ?
QUINTANA: "Que ele não exigisse conselho de ninguém - e seguisse o próprio nariz"Quem - ou o quê - atravanca o caminho do senhor hoje ?
QUINTANA :"Ah, a popularidade!"
E sobre a Academia Brasileira de Letras ?(N: Quintana foi derrotado nas três vezes em que tentou entrar para a Academia). O senhor não quer dizer nada ?
QUINTANA: "Não. Nem para dizer que não pretendo falar"
(1987)
2 de dezembro de 2008
O ENGENHEIRO SONHA COISAS CLARAS...
24 de novembro de 2008
ANÚNCIO FÚNEBRE : OS JORNALISTAS ESTÃO ENTERRANDO O JORNALISMO
Começa a chover. Não me ocorre outra idéia para me proteger do aguaceiro: paro na banca para comprar um jornal. Em época de "crise econômica", eis um belo investimento, com retorno imediato: além de me brindar com notícias interessantes, o jornal, quando dobrado e erguido sobre a cabeça, cumpre garbosamente a função de guarda-chuva.
O jornal é de São Paulo.Poderia - perfeitamente - ser do Rio de Janeiro ou de qualquer outro estado brasileiro.Eu disse "notícias interessantes" ? Em nome da verdade,retiro o que disse.
Pelo seguinte: não sou nenhum fanático por informação, não passo quatorze horas por dia conectado, não sou desses jornalistas que, à falta do que fazer na vida, acham que não existe nada sob o sol além do jornalismo. Em suma: considero-me apenas um consumidor mediano de notícias. Ainda assim, eu já sabia de noventa e cinco por cento do que aquele jornal tentava me dizer na primeira página.
O que o jornal me dizia, nos títulos ? Que o São Paulo "abre cinco pontos sobre o Grêmio". Que novidade! Qualquer criança de dois anos que tivesse passado diante de um aparelho de TV na véspera já sabia. Nem preciso falar da Internet. "Chuvas em Santa Catarina matam 20". Que novidade! "Obama divulga nomes de cargos-chave". Que novidade! "EUA podem injetar até US$ 100 bi no Citigroup". Que novidade!
Não é exagero: eu já tinha recebido todas essas informações na véspera.
Tive a tentação de voltar à banca, para pedir meus dois reais e cinquenta de volta. Mas, não: resolvi dar um crédito de confiança ao jornal. Quem sabe, como guarda-chuva ele teria uma atuação melhor. Teve.
De tudo o que estava nos títulos da primeira página do jornal, só uma informação era "novidade" para mim: "Brasil será o único país do mundo que não eliminou hanseníase". Conclusão: o jornal estava me oferecendo pouco, muito pouco, pouquíssimo.
Tenho certeza absoluta de que milhares de leitores, quando abrem os jornais de manhã, são invadidos pela mesmíssimo sentimento: em nome de São Gutemberg, para quem estes jornalistas acham que estão escrevendo ? Em que planeta os editores de primeira página vivem ? Por acaso eles pensam que os leitores são marcianos recém-desembarcados no planeta ? Ninguém avisou a esses jornalistas que a TV e os milhões de sites de notícias já divulgaram, desde a véspera, as mesmíssimas informações que eles agora repetem feito papagaios no nobilíssimo espaço da primeira página ?
Os autores dessas obras-primas ( primeiras páginas que não trazem uma única novidade para o leitor médio!) são, com certeza, jornalistas que temem pelo futuro do jornal impresso.
É triste dizer, mas eles estão cobertos de razão: feitos desse jeito, os jornais impressos estão, sim, caminhando celeremente para o mausoléu. Não resistirão.
Os coveiros da imprensa estão trabalhando freneticamente: são aqueles profissionais que aplicam cem por cento de suas energias para conceber produtos burocráticos, óbvios, chatos, soporíferos e repetitivos.
Em suma: os jornalistas estão matando o jornalismo.
Quem já passou quinze segundos numa redação é perfeitamente capaz de identificar os coveiros do jornalismo: são burocratas entediados e pretensiosos que vivem erguendo barreiras para impedir que histórias interessantes cheguem ao conhecimento do público. Ou então queimam neurônios tentando descobrir qual é a maneira menos atraente, mais fria e mais burocrática de transmitir ao público algo que, na essência, pode ser espetacular e surpreendente: a Grande Marcha dos Fatos.
Qualquer criança desdentada sabe que não existe nada tão fácil na profissão quanto "derrubar" uma matéria. Há sempre um idiota de plantão para dizer : "ah, não, o jornal X já deu uma nota sobre esse assunto"; "ah, não, o jornal Y publicou há trinta anos algo parecido" e assim por diante. O resultado desse exercício de trucidamento jornalístico é o que se vê: uma imprensa chata, chata, chata, chata. É raríssimo aparecer um salvador de pátria que pergunte: por que jogar notícias no lixo, oh paspalhos ? Por que é que vocês não procuram uma maneira interessante e original de contar - e oferecer ao publico - uma história ? Haverá sempre uma saída!
A regra vale para jornal impresso, revista, rádio, TV, internet, o escambau.
Mas, não. Contam-se nos dedos da mão de um mutilado de guerra os jornalistas que devotam o melhor de suas energias para fazer um jornalismo vívido e interessante. Já os burocratas e assassinos, numerosíssimos, continuam golpeando o Jornalismo aos poucos. Vão matá-lo, cedo ou tarde, é claro.
Não há organismo que resista à repetição dos botes dos abutres ( um dia, quando estiver prostrado à beira de um pedaço de mar verde da porção nordeste do Brasil, farei - de memória - uma lista dos crimes que já vi serem cometidos, impunemente, nas redações. Se tiver paciência para juntar sujeito e predicado, prometo que farei um post. Almas ingênuas podem acreditar que absurdos não acontecem com frequência nas redações. Mas, em verdade, vos digo: acontecem, diariamente. O pior, o trágico, o cômico, o indefensável é que os assassinos do Jornalismo são gratificados com férias, décimo-terceiro, plano de saúde, aposentadoria, seguro de vida e vale-alimentação. Detalhe: lá no fundo, devem achar que ganham pouco....Quá-quá-quá).
Um detalhe inacreditável: em qualquer roda de conversa numa redação, em qualquer congresso ( zzzzzzzzzzz) de Jornalismo, é possível ouvir que há saídas simplíssimas. Bastaria tomar - por exemplo - providências estritamente "técnicas": em vez de repetir papagaiamente(*) nos títulos aquilo que a TV e a internet já cansaram de divulgar, por que é que os jornais não destacam na primeira página a informação inédita, o ângulo pouco explorado, o detalhe capaz de prender a atenção do coitado do leitor na banca ? Pode parecer o óbvio dos óbvios, mas nenhum jornal faz. Qualquer lesma semi-alfabetizada sabe, mas nenhum jornal faz. Se fizessem este esforço, os jornais poderiam, quem sabe, atiçar a curiosidade do leitor indefeso que entra numa banca em busca de uma leitura atraente. Coitado. Não encontrará. É mais fácil encontrar um neurônio em atividade no cérebro de Gretchen.
Fiz um teste que poderia ser aplicado a qualquer estagiário de jornalismo: tentar achar, no exemplar que tenho em mãos, informações que rendam títulos menos burocráticos e mais atraentes do que os que o jornal trouxe na primeira página. Em quinze segundos, pude constatar que havia,sim, no texto das matérias, informações mais interessantes do que as que foram destacadas nos títulos óbvios. Um exemplo, entre tantos: a chamada do futebol na primeira página dizia "São Paulo abre 5 pontos sobre o Grêmio". Por que não algo como "TREINADOR PROÍBE COMEMORAÇÃO ANTECIPADA NO SÃO PAULO" ou "JOGADORES DO SÃO PAULO PROBIDOS DE IR A PROGRAMAS DE TV"? A matéria sobre as enchentes dizia que, depois do maior temporal dos últimos dez anos, Santa Catarina enfrentava racionamento de água potável - um duplo castigo. E assim por diante. Daria para fazer dez chamadas diferentes. Mas.....o jornal repete na manchete o que a TV já tinha dito.
Quanto ao futebol: com toda certeza, as informações que ficaram escondidas no texto eram mais atraentes do que a mera contagem de pontos que o jornal estampou no título da primeira página! Afinal, cem por cento dos torcedores do São Paulo já sabiam, desde a véspera, que o time disparara na liderança. Não é exagero dizer: cem por cento sabiam. Mas, a não ser os fanáticos por resenhas esportivas, poucos sabiam que o treinador tinha proibido os jogadores de participarem de programas de TV, para evitar comemorações antecipadas. Por que, então, esconder o detalhe mais interessante ? É o que os editores fazem: tratam de sepultar a informação mais atraente em algum parágrafo remoto, lá dentro do jornal. Depois, querem que o leitor saia da banca satisfeito por ter pago para ler o que já sabia....
Estão loucos.
Resumo da ópera: os assassinos do Jornalismo, comprovadamente, são os jornalistas. É uma gentalha pretensiosa porque acha que pode decidir, impunemente, o que é que o leitor deve saber. Coitados. O que os abutres fazem, na maior parte do tempo, em todas as redações, sem exceção, é simplesmente tornar chata e burocrática uma profissão que, em tese, tinha tudo para ser vibrante e atraente.
Mas nem tudo há de se perder. Os jornais podem, perfeitamente, ser usados como guarda-chuva. Fiz o teste. O resultado foi bom: cheguei tecnicamente enxuto ao destino.
(*)Papagaiamente: neologismo que acabo de criar, iluminado por uma inspiração animalesca.
31 de outubro de 2008
O PIT BULL É DÓCIL!!!!!!!!!!
Quem frequentou sites jornalísticos nos últimos dias deve ter tomado conhecimento de um escândalo de décima quinta categoria, ocorrido numa boate da zona sul do Rio :
um sub-ator de décima oitava categoria, conhecido dos leitores de revistas de fofoca por se meter em brigas e barracarias várias, tentou agredir a noiva, uma modelo antipaticíssima e arrogante. Uma camareira se meteu entre os dois. O valentão jogou longe a pobre coitada.
O barraqueiro já tinha ameaçado agredir o apresentador um programa de entrevistas da MTV, mas foi devidamente enxotado do estúdio, numa cena que virou sucesso no You Tube.
Pois bem: o jornal "O Dia" desta sexta-feira traz uma declaração do mãe do Pit Bull.
O que disse ela ?
"Meu filho é dócil".
Mãe, como se sabe, diz qualquer absurdo em defesa do filho.
Mas esta declaração merece entrar numa antologia.
O menininho, aquele anjinho chamado Dado Dolabella, é uma doçura. Palavra da mãe!
Quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá.
Termina aqui a incursão do Sopa de Tamanco no submundo das pseudo-celebridades.
A partir de agora, os refletores do site voltam-se para os assuntos realmente importantes, como, por exemplo, o sorriso enigmático de Scarlet Johansson.
MAS... TEM MARCA DE BATOM?
Abaixo, um retrato dessa época.
Ídolo de campeões como Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet, Bird marcou época no automobilismo brasileiro. Veloz, arrojado, habilidoso, dedicado, talentoso, audaz... A crônica esportiva enfileirava adjetivos para fazer jus ao volante campeão, enquanto ele deixava atrás de si filas de carros, alguns até mais potentes do que seu DKW ou sua berlineta Interlagos. “Berlinette”, como Bird prefere chamar.
Bird Clemente prepara para 2008 um livro. É garantia de boas e bem contadas histórias, por quem as viveu e construiu. Mas nosso piloto não é só passado. Ainda ligado ao automobilismo e atento, ele acompanha, por exemplo, o desenvolvimento tecnológico na Fórmula 1. Mas lamenta o fato de muitos dos pilotos dessa categoria terem se transformado em meros “operadores de instrumentos”. “Hoje, muitos se escondem atrás do equipamento”, diz. E critica a ausência de risco nos autódromos muito travados, a falta de emoção. “Ninguém vai a uma tourada para ver o toureiro enfrentar um touro sem chifre”, conclui.
De volta à beira-mar. Muitos causos, dois chopes e um espaguete à bolonhesa depois, Bird deixa o restaurante Fiorentina. Já passa da meia-noite; logo mais, ele será homenageado no Alto da Boa Vista pelos 70 anos de idade que completa em 23 de dezembro. Precisa descansar: menos de 12 horas atrás, encarou a Via Dutra em direção ao Rio. Mas o papo ainda continua, enquanto Bird caminha pelas calçadas do Leme até o carro estacionado junto à praia. Ele fala de motores e saudades, camaradagem e truques, pilotos e pistas.
Bird Clemente entra no carro, mas é de carona que ele vai até o hotel, no Posto 6. Nada de punta-taccos ou derrapagens controladas – os power slides em que era mestre. Segue na frente. E, na madrugada que avança, Copacabana parece cobrir-se de uma neblina densa, muito densa. Como naquele autódromo paulistano.
(Na foto, o volante Bird Clemente toca um Bino Mark I no autódromo de Jacarepaguá no final da década de 60.)
27 de outubro de 2008
SHIRLE, A DONA DA VOZ
"San Vicente" é um "clássico" da dupla Milton Nascimento-Fernando Brandt. Quando já se achava que, tanto tempo depois, ninguém seria capaz de cantar "San Vicente" com tanta beleza, tanta força e tanto talento, eis que Shirle aparece para dizer que não é bem assim. É possível, sim, recriar "San Vicente" com uma interpretação arrebatadora.
Como se fosse pouco, a dona da voz é linda.
Que os locutores de todos os estádios tratem de gritar: é gol de Shirle !
Acorda, torcida brasileira: um novo, grande e belo nome acaba de entrar em campo!
PS: A voz de Shirle pôde ser ouvida na reportagem sobre os médicos que fizeram, quase quarenta anos depois,a festa de formatura que tinha sido proibida pelo regime militar:
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL837728-15605,00-FORMATURA+DEMOROU+ANOS+PARA+ACONTECER.html
26 de setembro de 2008
EMBATE CLÁSSICO NA TV
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Julian Gough
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DOIS PERSONAGENS EM BUSCA DE SE LIVRAR DE UM AUTOR
Perdão. Exaltei-me. Muito se glosa, repito (se repetir mais uma vez, eu volto), deixando no parágrafo anterior o segundo imbecil da variada fauna de pascácios que em minh’alma habita, adepto do travessão, e que igualmente me impede de prosseguir com o texto, o que me…
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23 de setembro de 2008
A ESTUPIDEZ TAMBÉM É UMA FORMA DE ARTE
Quando, porém, a alma refinada caça um pascácio em púlpito iluminado, a relinchar como potro recém-amansado, já de óculos e diploma da USP sob um dos cascos, evento inteiramente diverso ocorre: o júbilo mais perfeito, o ápice da ventura moral — em suma, uma profunda e, como tal, gratificante experiência estética.
Gozo esplendoroso do tipo me ocorreu ao ler recentemente, naquele panfleto socialista americano, The New York Times, um artigo sobre a redescoberta e imediato reenterro de Machado de Assis, que terá lixo em película exposto em sua homenagem na maior metrópole chicana do mundo.
Apesar de escrevinhado em proto-inglês de estivador jamaicano, o artigo tem a qualidade de alinhar elogios de Harold Bloom, Susan Sontag (mulher, mas lia), Philip Roth e algumas outras figuras, maiores, menores e até ínfimas, como o pseudopoeta Allen Ginsberg, ao escritor brasileiro. Opinião consensual: trata-se de um gênio. Para alguns, o maior da América Latina, para outros comparável a Kafka etc. Enfim, o óbvio para qualquer um que não seja brasileiro.
Já um pouco enojado, meditava sobre as diferenças entre seres culturais e amebas: a Espanha envencilhou Cervantes e iniciou uma tradição literária, a Alemanha fez o mesmo com Goethe, Portugal com Camões, Inglaterra com Shakespeare. O Brasil aferrou-se a Joaquim Maria e também encetou uma tradição literária: com José de Alencar.
Pensando nisso, enfim, preparava-me para cerrar a página quando, bocejando, encontro a pérola, o velocino de ouro, a cabeça de Medusa, o parágrafo que desencadeou em mim as infindáveis sensações de arroubo descritas no primeiro parágrafo deste texto, como se estivera diante dos vitrais de Chartres, pouco antes do crepúsculo, degustando um bom Chablis:
Enthusiasts in the United States and Britain “are making Machado appear less and less like Machado,” the critic and author Antônio Gonçalves Filho argued last month at a symposium in São Paulo. “Actually, they are making the writer white, like Michael Jackson. All of a sudden, he’s become ‘universal.’ ”
Que argumentar? Há dessas estultices tão bem-acabadas, tão compactas, incisivas e poderosas, tão reveladoras do imperfeito maquinismo intelectual de quem a emitiu e do baixo estrato mental a que se filia seu autor, que nos provocam uma exultação sublime, um prolongado prazer, uma inextinguível alegria, como se tivéssemos acabado de ler um punhado de versos de Aristófanes ou Shakespeare, e nos tornam durante alguns minutos absolutamente incapazes de nos mover ou falar.
Salvei o artigo no computador e desde então o tenho relido, sempre desfrutando do mesmo regalo, com aquele sorriso de quem, ao levar o filho ao zoológico, de repente, num insight, ao olhar para a jaula dos macacos e vê-los atirando fezes nos passantes, ergue a coluna e caminha mais firme, sentindo-se feliz por, apesar de tudo, ser humano.
22 de setembro de 2008
SOGRA
DIFICULDADES DA VIDA MODERNA
(Mais, aqui)
20 de setembro de 2008
ADMITO: TOM CARNEIRO É UM GÊNIO
19 de setembro de 2008
CAMPANHA CONTRA O ASSALTO: O PREÇO DOS SHOWS DE MADONNA
Hoje, os jornais trazem a informação de que os ingressos para o show da mala aqui no Brasil custam muitíssimo mais do que para as apresentações no Chile e na Argentina.
Ou seja: além de tudo, é um assalto a mão desarmada.
O inacreditável é ver que tantos, por livre e espontânea vontade, estão prontos para fazer o papel de otários.
Ainda dá tempo: se não comprou, não compre ingresso para esta farsa.
Os preços estão, obviamente, superfaturados ( basta ler a coluna de Arthur Dapieve na última página do Segundo Caderno da edição do Globo desta sexta-feira).
A VOLTA DO BARÃO
A VOLTA DO BOÊMIO - IV
17 de setembro de 2008
A VOLTA DO BOÊMIO - III
O QUE O VETERINÁRIO ESTARIA FAZENDO COM UMA CARGA DE PROPOFOL NAS IMEDIAÇÕES DA CASA DO SR. NICOMAR LAEL ?
Um veterinário especializado em administrar propofol foi visto esta semana nas proximidades da residência do sr. Nicomar Lael.
Por uma extraordinária coincidência, desde então o sr. Nicomar desapareceu das páginas do Sopa de Tamanco.
Deveras curioso.
A FALTA QUE ELE FAZ: JOEL SILVEIRA ( OU: O QUE UM REPÓRTER PODE FAZER DE ÚTIL NA VIDA, ALÉM DE TENTAR JOGAR ÁGUA NA GRANDE FOGUEIRA DO ESQUECIMENTO ?)
Faz um ano e um mês que ele morreu. Guardo como se fosse um tesouro a herança de nossa convivência: eu era o discípulo tentando aprender com o mestre.
Uma das falhas da personalidade de um repórter é agir como repórter até diante de amigos. Que coisa! Confesso: é o que fiz com Joel Silveira. Éramos amigos. Mas, ali, eu era, também, um repórter diante de um personagem. Não poderia voltar para casa de mãos vazias. Não voltei. Ao longo desses anos todos, gravei conversas que tive com ele, na sala do apartamento de um sexto andar da rua Francisco Sá, em Copacabana.
Modéstia à parte, a causa era nobre: eu não queria que as coisas que ouvia de Joel ficassem somente comigo. Era preciso repartir, espalhar,compartilhar aqueles ensinamentos, críticas, boutades, lembranças e confissões de um grande repórter que, com todo merecimento, ocupa uma vaga no esfarrapado Panteão do Jornalismo Brasileiro. Joel foi um dos grandes pioneiros no uso de técnicas literárias em textos jornalísticos.
Preservo, com todo cuidado, a pequena coleção de fitas. Pergunto: que outra coisa de útil pode fazer um repórter, além de sair coletando da maneira mais cuidadosa possível as lembranças alheias, para dividí-las com os leitores ? Nada. A essência do jornalismo é esta.
Sem pretensões descabidas, sem megalomanias risíveis, sem exibicionismo vulgar: o repórter pode, sim, ser útil ao funcionar como o pequeno guardião de histórias e memórias que - de outra maneira - estariam inevitavelmente condenadas a desaparecer na poeira da estrada, destino inescapável de tudo e de todos. Em seus melhores momentos, o repórter atua como se fosse um bombeiro ingênuo: tenta fazer com que a Grande Fogueira do Esquecimento não devore tudo. É uma batalha inglória, mas, como nas piores e mais piegas histórias edificantes, ele descobrirá que, feitas as contas, o esforço "vale a pena", sim. A alternativa é terrível: cruzar os braços e não fazer nada. Chamuscado, ele sairá do prédio em chamas com alguma coisa nas mãos: quem sabe, uma velha fita cassete, um bloco de anotações. A função do repórter é, portanto, a de oferecer ao distinto leitor uma coleção de "salvados do incêndio".
(Assim, não me arrependo nem um pouco de ter importunado Carlos Drummond de Andrade em agosto de 1987 sem imaginar que ele vivia uma dor indizível: a filha, Maria Julieta, estava à beira da morte, na cama de um hospital. Drummond cedeu à minha insistência. Deu-me uma longa entrevista. Dias depois, a filha morreu. Em duas semanas, o próprio Drummond estava morto. A entrevista terminou virando uma espécie de testamento do maior poeta brasileiro. Importunei o poeta, sim, mas cometi uma "boa ação": produzi um documento sobre ele. Ah, o belo desafio de transformar lembranças em matéria "palpável": as palavras impressas....As declarações que arranquei do poeta arredio ocupam setenta páginas do livro "Dossiê Drummond", republicado há pouco tempo pela Editora Globo, em edição "revista e atualizada". Bem ou mal, as declarações que o poeta quis fazer apenas duas semanas antes de morrer não se perderam no ar: ganharam vida, ficaram guardadas em bibliotecas, vão ajudar um ou outro leitor a compreender o personagem Drummond. Missão cumprida, portanto. Um dia, o "Dossiê Drummond" haverá de cumprir o destino final de tantos e tantos livros: escondido lá no fundo de uma prateleira de um sebo empoeirado, cairá nas mãos de um leitor anônimo. Como se fosse um escanfandrista em busca de ostras perdidas no fundo do oceano, o leitor curioso desembolsará um punhado de reais por aquele feixe de lembranças impressas. O destino do livro terá se cumprido, na íntegra).
Paro por aqui. Ouço o ruído inconfundível das patas de uma fera roçando na porta dos fundos: é o Cão da Subliteratura querendo entrar. Já o conheço de outros carnavais, é claro. Bato em retirada antes que ele se instale na sala.
Mas deixo uma promessa por escrito.
Prometidíssimo: cedo ou tarde, vou reunir em livro as gravações que fiz com Joel. Podem ser úteis à troupe minoritária dos que se interessam de verdade por jornalismo. Joel foi pioneiro no uso de técnicas literárias no texto jornalístico.
Já tínhamos até escolhido um título: "Diálogos com o Último Dinossauro".
Há um ano, a gente falava da visita indesejada que bateu à porta do apartamento de Joel Silveira:
A VIDA IMITA O POEMA NA MORTE DE JOEL SILVEIRA: O AGENTE FUNERÁRIO CHEGOU NA HORA. E A PLACA DO CARRO ERA LFR 1236
Faz pouco tempo, descobri um belo poema de Lawrence Ferlinghetti. O poeta diz, com outras palavras, que o mundo é um belo lugar, mas um dia, cedo ou tarde, ele virá : o agente funerário sorridente.
E o agente veio. Acabo de sair da casa de Joel Silveira. Não quis ver a saída do corpo. A Santa Casa de Misericórdia avisou que o agente chegaria às duas horas. Pensei comigo: "Com a pontualidade brasileira, ele vai chegar lá para as quatro da tarde". Engano. Nem uma hora e cinquenta e nove minutos nem duas horas e um : eram duas em ponto quando o agente apertou a campainha, no apartamento de Joel Silveira, no sexto andar de um prédio da rua Francisco Sá, em Copacabana. O agente encenava, sem suspeitar, o poema de Lawrence Ferlinghetti. Era como se dissesse: tudo pode atrasar no Brasil, mas a morte, quando vem, chega exatamente na hora, sem tolerância. Nem um segundo de atraso.
Desci do sexto andar. Lá embaixo, tive o gesto inútil de observar a placa da Kombi branca da Santa Casa de Misericórdia: LFR 1236. A Kombi trazia, nas laterais, o nome da Santa Casa e o telefone: 0800 257 007.
Joel tinha inveja de um personagem de Vitor Hugo que, minutos antes de ser guilhotinado, dizia, resignado, que estava pronto para a execução,mas "gostaria de ver o resto". Ou seja: o personagem gostaria de descrever a própria morte. Que palavras Joel usaria ?
Quanto a nós, discípulos e aprendizes, já não há o que fazer, além de anotar a placa da Kombi : LFR 1236, três letras e quatro números amargamente inúteis.
PEQUENA EXPEDIÇÃO RUMO AO MEU MURO DAS LAMENTAÇÕES : UMA DÚVIDA SOBRE MODELOS, ATRIZES E ESCRITORES E INTELECTUAIS
Mas há um tema que bem que mereceria um desses estudos ridículos de semiólogos franceses:
as poses feitas diante das lentes de fotógrafos.
Há décadas acelento duas dúvidas.
Primeira: quando querem parecer sensuais, mulheres - em geral, atrizes, cantoras ou aspirantes - fazem a seguinte pose nas fotos: sentadas, escostam um joelho no outro e estendem os pés em direções opostas. Invariavelmente, inclinam o tronco para frente. Há centenas de fotos assim, em ensaios e reportagens. A dúvida: quem disse que esse desarranjo de joelhos e pés é remotamente sexy ?
Segunda: quando querem parecer sabidos, escritores - ou intelectuais de outras extrações - fazem a seguinte pose nas fotos: fecham uma das mãos, como se fossem esmurrar alguém. Em seguida, pousam o queixo sobre a mão fechada. Há centenas de fotos assim, em orelhas de livros, entrevistas, reportagens. A dúvida: quem disse que esse desarranjo de punhos e queixos é indicativo de brilho literário ?
São apenas dúvidas, perguntas que pronuncio em voz baixa, quase inaudível, diante do meu Muro das Lamentações particular, nas visitas que faço a ele, no final das tardes.
A resposta, como sempre, é um silêncio pétreo. Porque muros não falam. Mas ouvem.
A VOLTA DO BOÊMIO - II
SUBPENSAMENTOS
Não acredito na Onipresença divina, mas não sou radical. Creio, por exemplo, na Onipresença daqueles conjuntos de flautistas andinos de praça pública.
A questão da corrupção brasileira, além de econômica e social, é também psicanalítica. Primeiro, os corruptos fodem despudoradamente o país. Depois, mandam o dinheiro para as Ilhas Virgens.
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