Em charneca do antigo Ceilão, certa vez, vi uma ostra que, ao estalar dos dedos de um brâmane, recitava Baudelaire. Em Alexandria, enquanto tapava o nariz com meu lenço de seda debruado a ouro, ao passar por uma viela do bairro portuário, observei por minutos uma lesma que, comandada por um etíope, resolvia equações de primeiro grau. E, por fim, em visita a amigo em Sidney, acompanhei encantado um coral de macaquinhos trautear a adaptação de Schiller da Nona. (Sim, nasci em um e, por razões variegadas, já estive nos outros três continentes bárbaros. Só me resta agora, depois de morto, ir ao Hades, para colmar o tour pelos cinco rincões mais horrendos já habitados por humanos ou quase humanos).
Daí ter pensado, a princípio, que não acararia dificuldades de monta ao porfiar por introduzir uma única, gritantemente evidente, palermamente rasteira, translucidamente óbvia idéia no interior da caixa craniana do Sr. Tom Carneiro. Entretanto, desprovido do reclamado treino de adestrador e desatendendo a princípios basilares da Física, apercebo-me, contrariado, após três dias de malogros e esperdício de mais de cinqüenta vocábulos diferentes (que dariam, quando pouco, para escrever seis ou sete romances brasileiros contemorâneos e ainda sobrariam alguns substantivos), de que não, a inteligência não se propaga no vácuo.
O cômputo não me deixaria de todo atólito, porém, caso não viesse acompanhado do maior insulto às faculdades mentais de que tenho notícia, ao menos desde a última feita em que Caetano Veloso abriu a boca: li que o Sr. Tom Carneiro se propala ínclito defensor da cultura erudita e da língua pátria, atingindo o vértice do mais alcantilado dislate ao acrescentar estar em campanha para salvá-las!
Querido Tom (permita-me chamá-lo assim, reproduzindo o carinho que dedico aos meus diletos criados, enquanto afavelmente os repreendo com bengaladas na cabeça), após me levantar do piso de mármore italiano de meu living, onde estive me contorcendo às gargalhadas estrídulas, do tipo que só me escapou antes quando soube da morte de Duchamp, informo o seguinte: no que depende de você, a melhor maneira de granjear seus objetivos, Tom, é manter-se a cerca de um ou dos quilômetros de um teclado de computador — determinação que, de resto, fosse este um país e não uma maloca prenhe de mulatos dotados de meio hemisfério cerebral, já deveria estar regulada em lei, para bem da coletividade.
Dito isso, regressemos ao cândido argumento descompreendido por vossa estúrdia, Tom. Ei-lo, simples, direto e medíocre, como manda seu manual de redação: deblaterar contra a incúria no uso do plural por parte de seres inferiores que povoam um sítio cafona e alobrógico como a TV, Tom, evidencia grau irrestrito de imbecilidade.
Daí ter pensado, a princípio, que não acararia dificuldades de monta ao porfiar por introduzir uma única, gritantemente evidente, palermamente rasteira, translucidamente óbvia idéia no interior da caixa craniana do Sr. Tom Carneiro. Entretanto, desprovido do reclamado treino de adestrador e desatendendo a princípios basilares da Física, apercebo-me, contrariado, após três dias de malogros e esperdício de mais de cinqüenta vocábulos diferentes (que dariam, quando pouco, para escrever seis ou sete romances brasileiros contemorâneos e ainda sobrariam alguns substantivos), de que não, a inteligência não se propaga no vácuo.
O cômputo não me deixaria de todo atólito, porém, caso não viesse acompanhado do maior insulto às faculdades mentais de que tenho notícia, ao menos desde a última feita em que Caetano Veloso abriu a boca: li que o Sr. Tom Carneiro se propala ínclito defensor da cultura erudita e da língua pátria, atingindo o vértice do mais alcantilado dislate ao acrescentar estar em campanha para salvá-las!
Querido Tom (permita-me chamá-lo assim, reproduzindo o carinho que dedico aos meus diletos criados, enquanto afavelmente os repreendo com bengaladas na cabeça), após me levantar do piso de mármore italiano de meu living, onde estive me contorcendo às gargalhadas estrídulas, do tipo que só me escapou antes quando soube da morte de Duchamp, informo o seguinte: no que depende de você, a melhor maneira de granjear seus objetivos, Tom, é manter-se a cerca de um ou dos quilômetros de um teclado de computador — determinação que, de resto, fosse este um país e não uma maloca prenhe de mulatos dotados de meio hemisfério cerebral, já deveria estar regulada em lei, para bem da coletividade.
Dito isso, regressemos ao cândido argumento descompreendido por vossa estúrdia, Tom. Ei-lo, simples, direto e medíocre, como manda seu manual de redação: deblaterar contra a incúria no uso do plural por parte de seres inferiores que povoam um sítio cafona e alobrógico como a TV, Tom, evidencia grau irrestrito de imbecilidade.
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Ah, Tom, Tom, Tom, por favor me entenda: esse gênero de atitude (aqui — perceba minha caridade, leitor —, sigo o Cristo e recorro à analogia, figura proveitosamente empregada em diálogos com plebeus e débeis de raciocínio, pendoem-me a redundância) é semelhante à de um incauto que, indo a um show de golfinhos, sai de lá a denunciar que os animais fazem ique-ique, saltam, contorcem-se e representam um espetáculo digerível apenas por retardados mentais, jornalistas e crianças de dois a três anos.
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Em suma, trata-se de comportamento típico das almas simplórias, Tom, a divulgação entusiastiástica do consabido até pelos ienas mancas do zoológico de Zurique. Que interessa se um chimpanzé come bananas com garfo ou usa os dedos, Tom? Quem se preocuparia uma centelha de centésimo de segundo com a observância de regras de bom-tom entre as aranhas, senão um vabagundo, um indolente irrecuperável ou alguém que perdeu 95% da massa encefálica, Tom?
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Ademais, Tom, o mero ato de assistir à televisão, nem que seja à banda de cores que aparece, segundo me informam, antes das estações entrarem no ar, é próprio de subgente, analfabetos e neuronialmente prejudicados em geral, Tom, e não de defensores da alta cultura.
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Compreendeu agora, ó sublime encarnação do burro de La Fontaine? Se não, me diga, por obséquio, pois procurarei desenhar ou fazer mímicas no próximo post, Tom, ó Tom, minha amada cavalgadura.