As palmeiras que crescem, inadequadas, nas areias do Leblon se agitaram hoje pela manhã (Digo "inadequeadas" porque elas, as palmeiras, devem ter estar ali não por um favor da natureza, mas por terem sido plantadas, à beira-mar, por algum político em campanha, devidamente escoltado por uma matilha de ecologistas fêmeas de sovaco cabeludo, sandália de dedo, óculos de aro redondo e saias que parecem balões extra-terrestres).
Como eu ia dizendo antes de ser interrompido por mim mesmo: a agitação das folhas das palmeiras não se deveu a alguma erupção inesperada de ventos de sudoeste. Não. O que moveu as folhas foi o enorme, inédito suspiro de tédio que exalei ao concluir a leitura da última diatribe do sr. Nicomar Lael.
Ah, a irresistível compulsão exibicionista dos beócios...
O sr. Nicomar ( que nome! De que escrivaninha de cartório interiorano terá brotado tal combinação desconjuntada de vogais e consoantes ?) quer que os incautos creiam que ele é o guardião da "alta cultura". A julgar pelo que ele diz, eu, ao acusá-lo de exibicionismo, não passaria de um apóstolo do horrível relativismo cultural: aquele que proclama como bom o que é indefensavelmente ruim - e chama de apenas ruim o que é incuravelmente péssimo.
Aos olhos simplistas do sr. Nicomar, o mundo se divide em duas porções. De um lado, os simplórios - que chamam os cultos de "exibicionistas". De outro, os "cultos" - que precisam desesperadamente dar amostras de que leram os livros que ninguém leu.
Que tempos ! Que costumes! Acorda, Paulo Francis! Ele, Nicomar, enlouqueceu!
O que declarei em blogs anteriores reafirmo agora diante deste tribunal imaginário: relativista é o sr. Nicomar - que teve chiliques simplesmente porque chamei de ignorante gente que diz "meu óculos" e "o óculos". Não importa que esta gente seja diplomada ou supostamente ilustrada: ao cometer erro tão crasso, cometem, sim, um ato de ignorância. É preciso dar nome aos bois - e aos burros.
Ao defender, indiretamente, esta gente, o sr.Nicomar ( que nome! De que academia de letras sub-interiorana terá surgido tão desafinado arranjo de vogais e consoantes ?) faz exatamente o que me acusa de ter feito: tolera manifestações de óbvia ignorância como se fossem saudáveis variações da norma culta.
Não me animo a ir adiante nesta polêmica porque o sr. Nicomar ( que nome! De que balcão de farmácia suburbana terá saído tal cacofonia de consoantes e vogais?) é um armarinho ambulante de contradições: quer se fazer de culto,mas defende, indiretamante, os ignorantes. Ora, defender os ignorantes é rezar para que a ignorância se perpetue. A vereda da civilização é outra: combater a ignorância é abrir caminho para a felicidade.
O sr. Nicomar chama-me de relativista cultural, mas comete o pior dos relativismos: admite a estultice alheia como se fosse algo tolerável. Não é.
Gestos assim provocam o que já sentimos há tempos sob nossos pés fatigados: tremores que indicam, inequívocos, os últimos suspiros de uma civilização.
Retiro-me de cena. Mas advirto o sr. Nicomar ( que nome ! De que discurso de vereador de aldeia terá saído tão estapafúrdia combinação de vogais e consoantes ?): minha guerra contra as empulhações não pára aqui. É uma guerra perdida por antecipação, eu sei. Mas as melhores e mais belas batalhas são, justamente, aquelas em que o melhor guerreiro não terá chances de vitória. Sempre foi assim.
Assim, rogo aos céus: Deus, dai-me paciência. Mas não agora.
Porque,agora, preciso de impaciência e destemor para enfrentar as falanges do mais sorrateiro dos inimigos: os congregados nicomarianos, gente que, sob um suposto verniz culto, bate palmas para a sagração da ignorância!
Vou ao estábulo imaginário. Acordo o amigo Rocinante. Os moinhos de vento nos chamam: é hora de partir.