Indivíduos inteligentes costumam maldizer sua pátria. É natural. Quando leio ou ouço alguém que respeito falar mal do Brasil compreendo e faço coro. Você me verá fazer o mesmo aqui. Não quer dizer que os outros países sejam a Bahamas da civilização artística e intelectual, muito embora não consigamos nem ombrear a medianidade de um Estados Unidos, para citar um país civilizado descoberto na mesma época que a nossa.
Você encontra críticas violentíssimas de intelectuais americanos, ingleses, italianos, espanhóis, franceses contra suas pátrias. O que isso representa? Insatisfação crônica? Antinacionalismo forçado? Nada disso. É um amor profundo, um amor desmedido, que não aceita a mediocridade, a burrice monumental, a ignorância satisfeita, a palidez intelectual. E esse amor, como qualquer amor, cobra o empenho, o esforço, a melhora, o desenvolvimento. A crítica ao próprio país carrega consigo um amor incompreendido pela malta, que não é senão a razão, os alicerces que sustentam e justificam a crítica.
PS: A crítica, no caso da literatura, revela um amor, igualmente desmedido, pela literatura. E esse amor não admite, como é próprio dos amores intensos, o mau escritor, a má literatura.
Fonte: BG