11 de setembro de 2008

INFORME SOBRE O RELINCHO DO SR. NICOMAR

Há ilusões de ótica - e ilusões auditivas. É o que acabo de ter: uma indescritível ilusão auditiva. Tive a claríssima impressão de ter ouvido uma sucessão de relinchos, partidos do meu terminal de computador.

Corri até a máquina, uma das poucas heranças maravilhosas que o Século XX nos legou (quase todo o resto poderia ser jogado na poubelle da história, especialmente os aparelhos de TV, habitados por jornalistas que fazem trocadilhos). Cheguei, por um átimo de segundo, a duvidar de minha sanidade: como pode uma máquina sem uso emitir repetidos relinchos ?

Logo descobri o óbvio encadeamento dos fatos: a cada vez que o sr. Nicomar Lael resolve dar sinal de vida, em forma de posts indigentes, os terminais sintonizados neste site emitem, automaticamente, retumbantes, cristalinos, claríssimos relinchos. É como se estivessem avisando ao planeta: correi, incréus, ateus, descrentes. Vinde ver esta maravilha: cavalos podem escrever,sim! Cavalos de todas as raças: andaluzes, anglo-árabes,appaloosas,berberes, crioulos e galicenos! Ah, o indescritível
rol de surpresas com que a natureza nos brinda a cada romper da manhã!

Não,não era uma ilusão auditiva: era uma manifestação internética do quadrúpede.

De toda forma, depois de espalhar imprecações por cada centímetro quadrado da tela do computador, a ponto de atingir com coices até o confrade Paulo Rubens, que caminhava, distraído, pelo local, o sr. Nicomar Lael não explicou que razões o levam a ter um ataque de fúria quadrúpede a cada vez que eu, zeloso guardião do que resta do idioma, denuncio a ignorância de quem pronuncia coisas como "meu óculos" e "o óculos".

Ah,o doce prazer de batalhar em guerras perdidas: é o que faço ao tentar, debalde, corrigir o mundo e a parvoíce alheia, tão bem representada na figura nicomariana.

Bem sei que chegarei ao fim da guerra com o corpo coberto de chagas, as botas enlameadas de cansaço e desilusão, o coração estilhaçado, os olhos fatigados pela contemplação de tanta impostura, as lanças dos infiéis apontadas para mim. Mas, a caminho do cadafalso, onde serei imolado pelos dardos da igonorância, repetirei, em voz baixa, o mantra que me move há décadas: "No pasarán! No pasarán! No pasarán!".

Não, sr. Nicomar, vossas parvoíces, vossos coices, vossa cegueira, vossa igonorância no pasáran !