11 de setembro de 2008

VÃ TENTATIVA DE CONDICIONAR UMA AZÊMOLA (TEXTO EM MEMÓRIA DO ÚLTIMO NEURÔNIO DO SR. CARNEIRO)

Soltando um suspiro ennuyé, índice da impotência dos derradeiros civilizados ante a incultura pós-moderna, deponho o exemplar do Confissões e saco o monóculo italiano de aro moldado em ouro para, num extremo esforço moral e antiestético, apoiando o queixo no castão de prata de minha bengala de ébano, ler o quarto ou quinto dos textos abaixo, precariamente balido contra mim pelo Sr. Carneiro.

Ao término do exercício de autoflagelação, ainda lutando para controlar os espasmos causados pelas cachamorradas desfechadas a cada linha pelo subautor contra a sensibilidade literária, o bom gosto e o vernáculo, volto os olhos azul-claros e meu conspecto plácido ao deus dos aristocratas e, parafraseando Agostinho, suplico: “Dai-me a paciência, mas não agora”.

De fato, que outra atitude digna alguém devidamente alfabetizado, ciente do pélago intelectual que o separa da malta e degredado em meio a selvagens e bárbaros da pior espécie — ou seja, os que se consideram letrados — poderia tomar? No entanto, bafejos de cristandade, em sua tarefa primacial de estabelecer regras de etiqueta e bom-tom, me convencem da necessidade de enodoar meu eminente estilo para oferecer o dedo mínimo da mão esquerda e esternutar uma pouca de lustração sobre o referido ovino.

Evitando abordar questões mais complexas, sempiternamente defesas a criaturas do estrato do Sr. Carneiro, atenho-me apenas a responder a sua singela pergunta — amostra verdadeiramente enternecedora de espírito imberbe —, a propósito do motivo de utilizar de meu vergalho em seu dorso pingue e lanudo sempre que me deparo com suas acanhotadas tentativas de denunciar o que, em linguagem de enxacoco, ele próprio chama de “ignorância de quem pronuncia coisas como ‘meu óculos’ e ‘o óculos’.”

O próprio boquejo desse tipo de indagação — terão notado os leitores que folhearam ao menos um livro além de O Pequeno Príncipe — evidencia os inúmeros degraus que me apartam do borra-papéis na hierarquia intelectiva, tornando inevitável a espadana de enfado e melancolia que reflui a minha alma e me envenena até a última partícula metafísica. Pelas razões expostas nos dois últimos parágrafos, entretanto, antes de ir ao banheiro vomitar e retornar ao nobre Pai da Igreja, de quem jamais deveria ter-me amovido, respiro fundo, tapo o nariz e concedo a resposta em uma única frase, cuidando fazê-lo nos termos mais rasteiros, de modo que possa ser compreendido até mesmo por ele — quer dizer, conservando-me ao nível dos parcos mecanismos cognitivos dos anelídeos.

Ó mais recente epifania do espírito imortal das bestas e deidades acéfalas, se lanho vossa estupidez com o látego de minha descrença na salvação dos pobres de QI é, simplesmente, para tentar o inatingível: aplacar a lhaneza dos debates neste espaço irremediavelmente labrego e sensabor.

Agora fala, toupeira. Compreendeu?