Os descendentes dos degradados somos todos lacrimosos. É a alma lírica, essa "alegria sem dia seguinte", a manhã de sol que eternece os corações aloprados da mãe-gentil, o homem cordial farrista com o dinheiro público, os ufanistas da Lei de Gerson (quem foi o criador da publicidade? Não daria uma "bela reportagem"?), a síndrome godardiana de chorar na televisão. São os fotogramas em sépia do álbum puído da nação-chanchada.
É por isso que o brigadeiro Jorge Kersul se emociona na TV e chora copiosamente ao defender os bravos soldadinhos da Aeronáutica. No Brasil é assim: militar também derrama lágrimas no Congresso. É por isso que o campeão mundial de vôlei Ricardinho chora diante das câmeras. No Brasil é assim: levantador também derrama lágrimas fora da quadra. A comoção toma conta do país. Choramos todos por injustiças (reais ou ficcionais) contemporâneas ou atávicas. Como se fôssemos um produto fílmico da saudosa Pelmex mexicana. Como no poema de Drummond, perdemos o bonde e a esperança. Voltaremos todos pálidos para casa. Em algum final de tarde da História, tentamos sair das comédias da Atlântida e não encontramos a porta buñuelesca da saída. Como no final da paródia "Matar ou Correr", o máximo que conseguimos foi atrasar e fraudar o relógio na tentativa de evitar a pontualidade fatídica do trem. Ineludivelmente, sentimentais e farsantes.