29 de janeiro de 2009
ERA LEGÍTIMO?
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090127_sofahomem_ac.shtml
27 de janeiro de 2009
CORREÇÃO
O Sopa de Tamanco noticiou no mês passado, e em primeira mão, que a estátua de Drummond em Copacabana passaria a usar lentes de contato. A informação estava errada.
O poeta preferiu continuar com seu já tradicional óculo. Consta que para evitar constrangimento. As autoridades agradecem a compreensão.
Mas há quem garanta: Drummond está usando lente, sim. Uma só.
26 de janeiro de 2009
DUAS HORAS SEM RESPIRAR! AH, QUEM DERA....
Fecham os olhos, param de respirar : quem olha pensa que estão mortos.
Duas horas sem respirar ! E de olhos fechados!
Confesso que morro de inveja dos crocodilos de água salgada.
Porque, se pudesse, eu também passaria duas horas de olhos fechados e sem respirar assim que começasse o Big Brother Brasil na TV.
Quando eu voltasse à tona, com certeza seria um ser humano melhor.
25 de janeiro de 2009
SAMBALÊLÊ
Apoiado!
....Mas o que dizer dos "sambas de enredo" ?
Pergunto-me: o engenho humano será, algum dia, capaz de produzir algo tão chato quanto ?
Duvido. São versos sem pé, sem cabeça e sem beleza, repetidos incessantemente por uma hora e meia, duas horas.
De vinte em vinte anos, um refrão se salva. Façam as contas. Não estou exagerando.
É por essas e outras que pretendo passar o carnaval numa cela desativada de Guantánamo.
É dez vezes mais divertido.
SOCORRO! HELP! VÊM AÍ AS MARCHINHAS DE CARNAVAL!
Porque vêm aí aqueles temidos concursos de marchinhas de carnaval: um lastimável desfile de melodias primárias e letras paupérrimas, em geral embaladas por trocadilhos infames e piadinhas machistas.
Marchinha de carnaval: coisa típica de sessentões de cabelo pintado, barriga proeminente e senso de ridículo nulo.
Deus, protegei nossos ouvidos.
Tais concursos podem sem listados, sem margem de erro, entre as mais baixas manifestações da "cultura" brasileira.
Mas é claro que há horrores piores.
Ontem à noite, ao zapear pelo lixo televisivo, o olheiro do Sopa de Tamanco viu, no canal 17, uma cena inenarrável: um sujeito de bandana cantava animadamente aquela música que diz "meu-iá-iá-meu-iô-iô".
Detalhe: o elemento requebrava os quadris. Com certeza, julgava-se "sexy".
Imaginem, por um instante, o resultado da conjunção entre melodia, bandana e letra. O resultado: o horror, o horror, o horror.
O grande e único problema da humanidade é que estes bípedes se alistam entre
os que, desde a mais tenra idade, se mostram incapazes de praticar um exercício que lhes garantiria pelo menos um instante de clarividência e iluminação.
É assim: primeiro, deveriam se postar diante de um espelho. Em seguida, com voz pausada, com cuidado para pronunciar cada sílaba com a devida clareza, deveriam recitar o mantra:
"Senhor dos céus: um dia, nasci. Respondei: por quê ? Para quê ? Em nome de quê?".
O silêncio da resposta se derramaria sobre todas as bandadas - e se estenderia por todos os séculos.
23 de janeiro de 2009
JUMENTO CONFESSO
22 de janeiro de 2009
ERRO DE DIGITAÇÃO ACONTECE NAS MELHORES FAMÍLIAS E NOS PIORES BLOGS: "SOU INOCENTE", GRITA O REDATOR, ENQUANTO É LEVADO PARA O CADAFALSO
Ou seja: parecia ser o caso de sujo falando de mal lavado.
Mas não!
Dessa vez, o que aconteceu foi puramente um erro de digitação.
É facílimo checar: em posts anteriores, a palavra tinha sido escrita corretamente inúmeras vezes. O Sopa de Tamanco não seria capaz de confundir "vos" com "voz".
Se confundisse, a redação desabaria. O autor do absurdo seria expulso do ambiente a chicotadas, sob aplausos. Nosso chefe imaginário aparecia na porta com um cinturão de balas pendurado nos dentes, duas bombas na mão esquerda e uma metralhadora giratória na direita.
Fuzilaria, sem piedade, o autor de tal absurdo, se o absurdo tivesse sido cometido. Mas não foi.
Tudo não passou de um tropeço involuntário - apenas um "z" digitado no lugar do "s" - na longa, árdua, terrível, acidentada e infinita batalha contra o Festival de Jumentalidades que Assola o País.
Aqui, ninguém diz "sombrancelha" nem "o óculos".
O último que disse foi imolado diante dos colegas: teve de engolir, página por página, um exemplar inteiro do Dicionário Houaiss, até tombar, inerte, vítima de indigestão tipográfica.
Quando nosso chefe descobriu que a vítima do castigo não fazia parte do exército de combatentes do Sopa de Tamanco (era apenas um contínuo que veio perguntar se alguém queria comprar "um óculos de sol"), era tarde. O castigo já tinha sido, injustamente, aplicado. Como consolo, o chefe providenciou uma cremação de luxo para o contínuo. A solenidade foi abrilhantada por um idiota tocando músicas de Roberto Carlos ao piano. Inesquecível.
O sacrifício de um inocente é sempre motivo de justa lamentação. Mas, como nem tudo se perde, a redação do Sopa de Tamanco guardará, por toda a eternidade, a lição e o exemplo: é assim que nosso chefe trata os que tratam o idioma pátrio a pontapés.
Nossa redação aprendeu, ali, que um país se faz com homens e livros - pouco importa que sejam homens inocentes devorando livros indigestos como castigo.
Assim, a atenta leitora do blog do nosso colega Vasconcelos pode ficar tranquila: tudo não passou de um lamentável - se bem que banal e compreensível - erro de digitação.
Como disse um javali dez segundos antes de ser devorado por um tigre gigantesco num daqueles documentários do National Geographic : a luta continua.
UM TIMAÇO DE ENTREVISTADOS ENTRA EM CAMPO!
ENTREVISTA COMPLETAS COM NELSON RODRIGUES, CHICO BUARQUE, IVAN LESSA, PAULO FRANCIS, CARL BERNSTEIN ( O REPÓRTER QUE DERRUBOU UM PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS), JOÃO SALDANHA, PELÉ, FRANCISCO JULIÃO ( O LÍDER DAS LIGAS CAMPONESAS DOS ANOS SESSENTA), LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA ( AINDA SINDICALISTA), JOSÉ SARAMAGO ETC.ETC.ETC.
O MAPA DA MINA:
http://www.geneton.com.br
E MAIS:
*A VERDADE SOBRE COMO BRIZOLA SAIU DO BRASIL EM 1964: A PALAVRA DA ÚNICA TESTEMUNHA OCULAR DA CENA!
*A CONFISSÃO FINAL DE JÂNIO QUADROS SOBRE A RENÚNCIA: DOENTE, NUMA CAMA DE HOSPITAL, ELE REVELA TUDO AO NETO
*A INCRÍVEL HISTÓRIA DO ÚNICO BRASILEIRO QUE VIVEU A GLÓRIA DE MARCAR UM GOL NUMA FINAL DE COPA DO MUNDO DIANTE DO MARACANÃ LOTADO. DEPOIS DE PERDER A COPA, ELE TEVE UMA CRISE DE AMNÉSIA"
JOGADOR NÃO PRECISA NECESSARIAMENTE FALAR INGLÊS. PRECISA JOGAR. MAS.....
MAS NÃO.
O ELEMENTO FALOU EM INGLÊS.
JUMENTALIDADE!
PEQUENA PAUSA NA CAMPANHA CONTRA A JUMENTALIDADE : UM DESPACHO DO CAMPO DE BATALHA NA GUERRA CONTRA.....MOSQUITOS!
Aqui em Santa Cecília a natureza é fértil e abundante: acordamos com o trinar bucólico dos ônibus, vamos dormir com o melodioso piar da banda Kalypso no bar da esquina e ao cair da tarde temos epifanias escutando o afável gorjear dos vendedores de ovo e laranja.
Não raro, um carro equipado com Car System se perde do bando e nos embala com seu doce chilrar, característico das aves canoras, que se prolonga infinitamente até que a gravação fique rouca ou comesse a tossir.
De madrugada, somos despertados pelo suave farfalhar dos travestis e seu coro harmônico, insultando os clientes em lúdicos concertos de palavrões. No horário do almoço, a fagueira horda de passantes invariavelmente solta seus guinchos graciosos, repletando nosso espírito ao som de: “Assalto! Pega! Ladrão!”
Também temos nossos quadrúpedes, como o dono da oficina aqui do lado e seu salutar costume de testar motores à meia-noite. Além de nosso vizinho de cima, que pelos agradáveis barulhos que produz deduzimos trabalhar com adestramento de elefantes.
Logo se vê, portanto, que sou pessoa acostumada a conviver com animais, tendo inclusive o hábito de visitar meu cunhado nos finais de semana. Contudo, talvez por ter nascido pouco depois do paleolítico, desconhecia as dificuldades de socialização com criaturas pré-históricas, caso dos pernilongos de nosso bairro.
Comecei a achar que os pernilongos de Santa Cecília não eram mosquitos como quaisquer outros quando, certo dia, passei repelente para me proteger e um deles morreu. De rir. Com o hábito, descobri que os bichinhos não só comem o produto, como dão preferência aos da Johnson.
Para terem uma idéia da gravidade do problema, digo tão-somente que toda vez que essas afáveis criaturas aparecem por aqui, escuta-se a trilha sonora dos Gremlins. Quando fazem vôos de reconhecimento, trauteiam a Cavalgada das Valquírias. E outro dia pequei uma lendo o meu Petrônio.
Já tentei de tudo para mantê-las afastadas. Dentre outras coisas, distribuí dezenas de incensos pela casa, mas fui vítima de um terrível efeito colateral — comecei a cantar Hare Hare, Hare Krishna — e parei. Procurei usar então aqueles aparelhinhos com pastilhas e descobri que 35 enfiados em todas as tomadas e benjamins nossos, mais dois ou três do vizinho, resolviam. Porém, desenvolvi intensa alergia às contas de luz. Como último recurso, coloquei o disco natalino da Simone. Elas gostaram.
De maneira que desde que o verão começou venho distribuindo meu tempo entre coçar a pele, ver bolhas vermelhas crescerem e ler e reler o Gênesis, xingando de trás para frente, na versão católica e na luterana, toda a genealogia de Noé.
Especialmente ontem, tenho certeza de que os insetos vieram aqui para casa depois de fumar maconha, porque estavam obviamente de larica. Notei que haviam ultrapassado todos os limites ao ver um deles com turbante e camisa do Bin Laden, e resolvi ligar para a portaria:
— Antonio, você por acaso não teria aí um revólver?
— Vixe Maria, seu Marcônio, tá brigando com o pessoal da igreja de novo? — perguntou o porteiro, um rapaz muito prestativo, recém-chegado de Marte e, ao que parece, sofrendo ainda com o jet lag.
— Revólver, eu disse, não bazuca. É pros mosquitos. Tem ou não tem? Fala logo que desde Antonio até bazuca já engoli dois.
— Muriçoca? Ah, seu Marcônio, mas isso de muriçoca é só a gente não dar atenção.
Eis aí, gente esnobe, quanto vale a ciência popular. Graças às palavras desse ente evoluído, venho me dedicando à grata tarefa de fingir que não vejo os mosquitos ou de desviar o assunto para política quando me mordem: “Bem, como dizia Hobbes, o homem é o mosquito do homem” etc.
E desde que passei a empregar o artifício, a situação melhorou bastante. As picadas continuam as mesmas, é verdade, mas já consegui que os bichinhos, em crise de consciência, devolvessem minha mulher e a geladeira.
UM CLÁSSICO DA JUMENTALIDADE : A INCRÍVEL RESPOSTA DA CANDIDATA EM BUSCA DE UM PRÊMIO
O apresentador pergunta:
"Que órgãos humanos ficam alojados em cavidades ósseas chamadas órbitas ?"
A candidata responde:
"Astronautas!"
Aconteceu. Não é lenda.
O SOPA DE TAMANCO RECEBE A ADESÃO DO BLOG DE NELSON VASCONCELOS NA CAMPANHA NACIONAL CONTRA A JUMENTALIDADE ! JOVEM, ALISTE-SE NESTAS FILEIRAS!
O endereço:
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/
Sério: toda vez que o blog de Nelson faz uma citação dessas, o número de acessos do moribundo Sopa de Tamanco dá um salto.
Como se diz lá em Caruaru, "thank you very much, my friend!".
Quando nossa assembléia de acionistas se reunir no fim do ano para tratar da distribuição de lucros, o nome do patrono Nelson Vasconcelos será lembrado:
um panetone em boas condições de uso será devidamente despachado para a redação do Globo.
Nelson também ficou vivamente impressionado com a comovente demonstração de jumentalidade feita por uma atendente do serviço telefônico do Banco do Brasil:
a sumidade encerrou o atendimento porque um dado fornecido pelo cliente durante os "procedimentos de segurança" estava em contradição com os registros do banco.
(ver post abaixo: atendimento telefônico do Banco do Brasil bate recorde mundial de jumentalidade)
O cliente teve de ir pessoalmente à agência para esclarecer a situação.
O gerente acessou o sistema.
Os dois - o cliente e o gerente - arregalaram os olhos, espantados, ao descobrirem que, no registro do atendimento, a moça informara o motivo da interrupção:
o cliente informara que nascera "no Recife". Mas a ficha dizia que ele tinha nascido "em Pernambuco".
Em resumo: a moça achava que Pernambuco era o nome de outra cidade - que nada tinha a ver com o Recife....
A jumentalidade triunfa de novo.
Um dos leitores do blog de Nelson Vasconcelos faz uma interessantíssima divagação sobre jumentalidade, cavalice, asnice e coisas do gênero.
Não percam.
É hora de deflagrar uma campanha nacional contra as demonstrações de jumentalidade.
O Sopa deTamanco não foge à luta: nestes últimos dias, nosso bravo site denunciou o anúncio de Gula Fruts em que a atriz Carolina Dieckmann pronuncia, com toda clareza, uma palavra que jamais existiu: "sombrancelha!".
Dá pena: como é possível que não tenha aparecido uma alma caridosa para dizer, ao diretor do comercial, à atriz, à equipe, que o certo é "sobrancelha" ?
Mas a jumentalidade vai ao ar, em horário nobre!
Quem terá sido capaz de produzir um anúncio em que se pronuncia tal absurdo?
Igualmente, o Sopa de Tamanco denunciou um site que publicou, na manchete,
uma aberração: "o óculos".
O guerrilheiro do Sopa de Tamanco ligou para o site! A moça que atendeu pronunciou a frase que entrou para os anais do jornalismo virtual brasileiro:
"Mas aqui a gente usa assim: "o" óculos!".
Ou seja: a sumidade não fazia idéia de que dizer "o óculos" é, como bem lembrou outro post aqui do Sopa, a mesmíssima coisa que dizer "a casas".
Jumentalidade em estado bruto!
Mas o erro foi corrigido.
Volaremos a informar, a qualquer momento ou em edição extraordinária.
Sim, também cometemos nossas jumentalidades.
Mas nossos exércitos esfarrapados lutarão até o último homem contra a jumentalidade, a asnice, a cavalice e a toupeirice que consomem o Brasil como se fossem ervas daninhas!
"Sombrancelha" não! "O" óculos não! Dizer que Recife não é Pernambuco não!
Nossos canhões entrarão em ação em resposta a agressões infames como estas!
Não passarão!
21 de janeiro de 2009
DE ACCÔRDO
SOBRE CETÁCEOS (E ALGUMAS CADEIRAS)
ANIMAR PASPALHOS NA DISNEY É SINAL DE INTELIGÊNCIA SUPERIOR OU DE ESTUPIDEZ INCURÁVEL ?
O locutor informa que os golfinhos são "muito inteligentes".
Imediatamente, uma dúvida devastadora sacode meus mares interiores:
quais são, afinal, os tão falados sinais de inteligência dos golfinhos ? Passar a vida se movimentando pra lá e pra cá no fundo do mar, sem destino certo, é sintoma de inteligência refinada ?
Pior: que tal ficar divertindo platéias de paspalhos na Disney ?
É o que os golfinhos fazem, há décadas, sem reclamar.
Cabe a pergunta: tais atitudes não seriam indícios claríssimos de estupidez ?
Eu cravaria, sem dúvida nenhuma: são, sim.
ATENDIMENTO TELEFÔNICO DO BANCO DO BRASIL BATE RECORDE MUNDIAL DE JUMENTALIDADE : "CLIENTE NASCEU NO RECIFE, NÃO EM PERNAMBUCO!"
(aliás, por que não ?)
O abaixo assinado acaba de ser vítima do mais espetacular caso de ignorância já registrado num atendimento telefônico de um banco.
A atendente do Banco Brasil faz as perguntas de praxe, em nome da "segurança" do cliente.
Lá pelas tantas, interrompe o atendimento. Diz que tenho de ir à agência. "Há um dado que não coincide com o cadastro".
Uma dúvida assola este pobre cliente: que erro tão absurdo eu terei cometido ? Terei me esquecido do meu nome ? Terei dado o número de telefone errado ? Terei confundido o nome da minha mãe ?
Peço que a atendente me informe qual foi o meu erro. Mas ela insiste: terei de "comparecer pessoalmente" a uma agência.
Compareço. Perco uma hora do meu tempo.
O gerente acessa o registro do atendimento feito por telefone.
E eis que se materializa diante de nossos olhos incrédulos um dos mais formidáveis casos de jumentalidade(*) já cometidos por uma atendente:
lá, ela informa que o atendimento tinha sido interrompido porque eu informei que tinha nascido "do Recife". Mas, no cadastro, consta que eu tinha nascido "em Pernambuco".
Ou seja: a distinta anta acha que existe uma cidade chamada Recife e outra chamada Pernambuco.
Nem desconfia de que quem nasce no Recife nasce, "automaticamente", em Pernambuco!
Célere, ela interrompeu o atendimento.
Não pude fazer a operação bancária por telefone simplesmente porque a cavalgadura acha que Recife é uma coisa; Pernambuco é outra, completamente diferente.
A bem da verdade, devo dizer que notei uma sombra de constrangimento no olhar do gerente que me atendeu pessoalmente: ele também ficou espantado ao descobrir que um atendimento telefônico fora interrompido porque uma funcionária achou que "Pernambuco" era o nome de uma cidade e "Recife" de outra.
Agora, quando precisar do atendimento telefônico, passarei a relinchar assim que ouvir o "alô" do outro lado.
Somente assim serei perfeitamente compreendido.
---------
(*) Aos não familiarizados com o reino animal: "jumentalidade" é uma gradação da "cavalice". A diferença é que a cavalice em geral vem acompanhada de maus modos.
Já a jumentalidade é uma demonstração escandalosa de ignorância: pode ser exercida da maneira mais suave possível, como é o caso da atendente que tomou providências urgentes porque achava que Recife não fica em Pernambuco.
20 de janeiro de 2009
JORNALISTA É AQUELE BICHO QUE ESCREVE (OU DIZ) "O ÓCULOS", FAZ TROCADILHOS INQUALIFICÁVEIS - E SE ACHA O MÁXIMO....A PLATÉIA PEDE LICENÇA PARA RIR
De tão repetido, o erro terminará entronizado, com toda justiça, no já lotadíssimo Grande Panteão da Ignorância.
Já vi repórter cobrindo evento internacional dizendo "o óculos" ao vivo.
Descobri faz séculos. Hoje, tenho certeza absoluta: não existe, na face da terra, profissão que reúna gente tão pretensiosa.
Se jornalistas pretensiosos oferecessem ao coitado do público um trabalho de alto nível, se fossem capazes de construir frases realmente legíveis, se tivessem o poder de exercer uma mínima originalidade, se conseguissem articular uma pergunta decente a um entrevistado, eu me calaria por todos os séculos & séculos.
Mas, não. Jornalismo é uma profissão habitada por gente que diz e escreve "o óculos" ou, em momentos de intensa inspiração, faz trocadilhos inqualificáveis. E se acha o máximo!
Em duas palavras: não dá.
Como diria o confrade Tom Carneiro, "quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá".
Resta-nos rir desbragadamente.
Não há outra saída.
Faço uma confissão íntima e inútil: deixei de voltar a um oculista que disse "o óculos" durante uma consulta.
Pensei com meus esfarrapados botões: como confiar meus olhos a um médico que não sabe usar o plural ?
Não voltei.
Eu me lembrei de uma antiga entrevista que fiz com o escritor Autran Dourado. Lá pelas tantas, ele dizia que não confiava num médico ou num engenheiro que não
soubesse manusear a língua com um mínimo de habilidade.
O escritor argumentava : se um profissional supostamente qualificado - como um médico - não sabe como usar as palavras, não saberá manusear um bisturi, por exemplo.
A dúvida é legítima.
Uma vez, numa longa entrevista que me concedeu, o jornalista Evandro Carlos de Andrade fez uma confissão interessante: disse-me que parava imediatamente de ler uma notícia de jornal quando o redator (ou repórter) cometia algum absurdo.
O raciocínio do experientíssimo jornalista: se o autor daquele texto é incapaz de respeitar as regras básicas da escrita, não é confiável como fonte de informação. Ponto.
Corretíssimo.
19 de janeiro de 2009
A CAMPANHA NACIONAL DO SOPA DE TAMANCO CONTRA A IGNORÂNCIA DOS JORNALISTAS - LOGO ELES, QUE VIVEM RECLAMANDO DE LEITORES IGNORANTES....
( Abre parêntese. O Sopa de Tamanco vem, há tempos, fazendo uma inútil campanha contra a disseminação deste erro crasso: quem escreve "um óculos" simplesmente não sabe o que é plural ou singular. Porque escrever "um óculos" é a mesmíssima coisa de escrever "uma casas" ou "um carros".
Tais demonstrações de ignorância, típicas de quem habita o já superpovoado território da Burrolândia, soariam engraçadas se saídas da boca inocente de uma criança de dois anos e meio. Mas, cometidas por jornalistas, são de fazer chorar.
Como um profissional pago para zelar pela língua ( sim! é esta uma das funções de quem fala e escreve em público!) pode ignorar que uma das palavras mais usadas do idioma exige o artigo no plural ? Fecha parêntese).
Pois bem: a Patrulha da Sopa de Tamanco teve a imensa pachorra de telefonar para o plantão do site para dizer que o redator tinha cometido um erro colossal na manchete.
Uma voz de mulher atende. O patrulheiro do Sopa diz: pega mal, malíssimo um site tão visitado expor, na manchete, tal barbaridade: "um óculos!".
A moça faz um silêncio do outro lado da linha. Devia estar pensando: "Que leitor ignorante!".
De repente, pronuncia a frase que pode ser tomada, desde já, como o epitáfio do jornalismo virtual do Cone Sul da América:
- Mas aqui a gente usa assim: é "o" óculos....
Fuzilado pela resposta, o patrulheiro do Sopa de Tamanco escapa por pouco de ter um enfarte fulminante mas ainda encontra, em suas florestas interiores, fôlego para argumentar com a moça: dizer coisas como "um óculos", "o óculos", "meu óculos" não é errado: é erradíssimo! Pegue um dicionário para ver!
A moça agradece. Desliga o telefone.
Com toda certeza, deve ter ido consultar o dicionário ou, quem sabe, teve a modéstia de perguntar a um vizinho de mesa.
Cinco minutos depois, o título foi consertado. O site baniu o "um óculos" da manchete. Um novo título, com o artigo no plural diante da palavra óculos, foi prontamente parido no plantão de sábado.
A guerra do Sopa de Tamanco contra a GMI, a Grande Marcha da Ignorância que avança, célere, pelas redações, é inglória.
Mas não custa nada soltar tiros - ainda que de festim - de vez em quando.
O locutor que vos fala já viu gente que ocupava cargos de chefia em redações dizer, com todas as letras, coisas como "traz aqui o texto pra mim ver".
Ah, jornalistas....Como já se disse em outro artigo: que gentinha pretensiosa....
Gente que diz "o óculos" e "pra mim ver" deveria,para o bem do Brasil, estar vendendo abacaxi na beira das rodovias.
Jamais, nunca, never, sob hipótese alguma, deveria estar falando ou escrevendo em público. Porque tudo o que estas cavalgaduras fazem é jogar estrume em quantidades industriais em nossas retinas ou canais auditivos jã tão fatigados.
15 de janeiro de 2009
PELO AMOR DE DEUS, QUEM É ISABELI FONTANA ? QUEM É MAURÍCIO PARANHOS ? O QUE FAZ UM SER HUMANO PISAR NUM EVENTO CHAMADO FASHION RIO ?
FAZ OITO HORAS QUE O LOCUTOR QUE VOS FALA RI DESCONTROLADAMENTE.
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
O MOTIVO : UMA CENA DESCRITA NO SEGUNDO CADERNO DA EDIÇÃO DE HOJE DE O GLOBO ( 15 DE JANEIRO DO ANO DA GRAÇA DE 2009).
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
UMA NOTA INFORMA QUE A SUMIDADE INTELECTUAL CHAMADA ISABELI FONTANA
(UM DAQUELES SERES BÍPEDES QUE DESFILAM DESENGOÇADOS EM PASSARELAS, SOB OLHARES DE GENTE DESOCUPADA) MANDOU AVISAR, ANTES DE UM DESFILE, QUE NÃO, NÃO FALARIA AOS JORNALISTAS.
OU MELHOR: SÓ RECEBERIA "TRÊS IMPRENSAS POR CINCO MINUTOS" NO CAMARIM.
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
"TRÊS IMPRENSAS" !
O JORNAL INFORMA QUE UM LEÃO DE CHÁCARA IDENTIFICADO COMO MAURÍCIO PARANHOS AVISOU QUE CADA JORNALISTA SÓ TERIA DIREITO A FICAR TRINTA SEGUNDOS DIANTE DA SUMIDADE.
"TRINTA SEGUNDOS, HEIN! NEM UM MILÉSIMO A MAIS!", É O QUE ELE DISSE, SEGUNDO REGISTRA A COLUNA "GENTE BOA".
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
NÃO TENHO A MENOR DÚVIDA: EIS UM INDÍCIO CLARÍSSIMO DO FIM DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL, TAL COMO SE CONHECIA ATÉ HOJE.
PERGUNTA-SE: EM NOME DE TODOS OS SANTOS, QUEM É ISABELI FONTANA ?
DUVIDO QUE EXISTA, EM TODA A FACE DA TERRA, UM MÍSERO HABITANTE QUE JÁ TENHA OUVIDO UMA DECLARAÇÃO INTERESSANTE OU UMA FRASE ORIGINAL PRONUNCIADA PELA MODELO ( POR UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA, DIGA-SE QUE A INANIÇÃO INTELECTUAL É EXTENSIVA A SEUS PARES).
UM JORNALISTA NÃO PRECISARIA PASSAR TRINTA SEGUNDOS DIANTE DA INTELECTUAL FONTANI: AINDA QUE PASSASSE SESSENTA HORAS OUVINDO A ENTIDADE DISCURSAR SOBRE TUDO E SOBRE TODOS, DIFICILMENTE VOLTARIA PARA A REDAÇÃO COM UMA FRASE APROVEITÁVEL.
UM ASSESSOR INFORMAVA QUE A SRA. FONTANA ANDA ARREDIA DESDE QUE SE SEPAROU.
JURO POR SANTA BÁRBARA QUE EU JAMAIS SOUBE QUE ELA UM DIA ESTEVE CASADA - SEJA LÁ COM QUEM FOR.
A BEM DA VERDADE, DEVE-SE PERGUNTAR: QUEM VERDADEIRAMENTE ESTARIA INTERESSADO EM SABER DO ESTADO CIVIL DA SENHORA MODELO ?
MAS, COMO NEM TUDO SE PERDE NESTE CIRCO DE HORRORES, RESTA O HUMOR INVOLUNTÁRIO PRODUZIDO PELOS PERSONAGENS: AS CENAS PROTAGONIZADAS PELA MODELO E PELO LEÃO-DE-CHÁCARA SÃO IMPAGÁVEIS.
"TRINTA SEGUNDOS! NEM UM MILÉSIMO A MAIS!".
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
SE A PERSONALIDADE A SER OUVIDA SE CHAMASSE ALBERT ENSTEIN, OS REPÓRTERES PODERIAM, ATÉ, SE SUJEITAR AO DESCALABRO.
MAS.....FICAR DIANTE DE UMA MODELO POR TRINTA SEGUNDOS NA ESPERANÇA DE OUVIR ALGO DE INTERESSANTE (OU DE ORIGINAL OU DE MEMORÁVEL) É TÃO INÚTIL, TÃO RIDÍCULO E TÃO PATÉTICO QUANTO ENXUGAR GELO.
É UMA CURIOSIDADE QUE CULTIVO HÁ DÉCADAS: QUE TIPO DE GENTE SERÁ ESSA ? DE QUE MATERIAL É FEITO O CÉREBRO DESSAS SUB-CELEBRIDADES E SEUS LEÕES-DE-CHÁCARA ?
UM DIA, DESCOBRIREI.
ENQUANTO O MISTÉRIO NÃO SE RESOLVE, RESTA RIR A BANDEIRAS DESPREGADAS.
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
"TRÊS IMPRENSAS!"
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
"TRINTA SEGUNDOS! NEM UM MILÉSIMO A MAIS!"
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ.
IN MEMORIAM
Horas depois do jogo, Obdulio Varela correu a noite carioca. Envergando um terno sóbrio (na época não existia o verbo "vestir"), tropeçava aqui e acolá num bêbedo (ainda não tinham inventado o bêbado) que lambia o meio-fio. Parou no Bar Brasil. O bar estava cheio. O bar estava vazio. Mas havia quem vagasse entre as cadeiras como quem procurasse um relógio ainda não inventado. E sem atinar o porquê da busca.
Como recebera o bicho adiantado, el gran capitán pagou uma rodada para todos. Não sem antes pedir licença – para evitar qualquer mal-entendido. Não houve brinde, não houve briga, não houve... O que houve? Não se sabe. Mas consta um garçom, patrício del negro jefe, ter ouvido o que Obdulio balbuciou ao deixar a casa: "Mundo perro." Teria derramado uma lágrima que lhe correu o peito por dentro. Mas sorriu. E um céu cor de tecido se abriu para ele na noite da Lapa.
14 de janeiro de 2009
O ACORDO
O linguista, filólogo e historiador da "inculta e bela" Serafim da Silva Neto tinha uma opinião que gostava de repetir quando o assunto era uniformização ortográfica:
– Não me importa se 'gato' se escreve com x ou com n.
– Mas Serafim, 'gato' é com g!
– Ah é?
POR QUE O BIG BROTHER NÃO OFERECE UM PRÊMIO DE UM MILHÃO DE NEURÔNIOS PARA AQUELES CÉREBROS DESABITADOS ?
Credores, saiam do caminho. Terráqueos, respeitem meu silêncio.
Daqui a quatro meses, quando o Big Brother Brasil tiver terminado, me acordem, por favor.
Por ora, desacordado, estarei livre de ter os tímpanos maltratados pelos gritos de "uh! uh!", pronunciados por aquele aglomerado de sumidades que buscam o prêmio de um milhão de reais.
Uma dúvida embalará meu sono, durante o período de devoção absoluta ao Deus Ócio : um prêmio de um milhão de neurônios não seria mais útil para aqueles cérebros desabitados ?
Com um milhão de neurônios injetados em seus cérebros, os Big Brotheres poderiam, aí sim, fazer alguma coisa de útil à humanidade, aqui fora. Quem sabe, um dia amealhariam um milhão de reais.
Mas rendo-me à força avassaladora dos fatos. O mundo não é assim, oh boy.
Apago a luz, desligo a TV para sempre, desconecto-me.
É hora de recolhimento.
Caminho, cabisbaixo, em direção aos meus aposentos.
Enquanto movo meu aglomerado disforme de ossos,músculos e tédios em direção à cama, pronuncio grunhidos ininteligíveis. Nem eu consigo decifrá-los.
Jogar ao ar imprecações balbuciadas em tom de voz inaudível faz parte do show que há décadas enceno para um único e lastimável espectador : eu mesmo.
Nesta caminhada de vinte e cinco passos, minha única companhia é minha ingenuidade, que há séculos puxo por uma coleira imaginária.
Os dois - eu e minha triste ingenuidade - dormiremos, a partir de agora, um sono profundo, intocado pelos bigs, pelos brothers e pelo Brasil.
Não há felicidade maior.
A PARTE MAIS BELA E COMOVENTE DO LIVRO "O JOGO DA AMARELINHA" É A FRASE FINAL: "COMPOSTO E IMPRESSO NAS OFICINAS DA NOVA FRONTEIRA S/A"
Lucano foi a primeira personalidade propriamente literária de que se tem notícia e o precursor do que conhecemos hoje como mundo artístico. Prova disso é que foi capaz de vender a própria mãe.
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Tenho um amigo que começa O Jogo da Amarelinha na página três, pula para o prefácio, lê as orelhas, vai à quarta capa e daí por diante. Segundo ele, a parte mais bela e comovente da obra é a frase ao final: “Composto e impresso nas oficinas da Nova Fronteira S/A”
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O problema da edição de bolso de Guerra e Paz é que para carregá-la você precisa colocar o bolso dentro de um carrinho de mão.
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Tentaram fazer uma edição de bolso de A Montanha Mágica, mas o máximo que conseguiram foi uma edição de alforje.
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O livro mais complexo que li até hoje foi o manual do motorista do meu carro.
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O que mais admiro em Machado é o domínio da língua. Coisa tanto mais admirável quando se sabe que tinha epilepsia.
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No que dependesse do meu amor a Joyce, o Bloomsday seria comemorado no mesmo dia do Halloween.
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Dizem que as edições dos livros de Paulo Coelho em búlgaro e esloveno são perfeitas: não se entende nada do que está escrito.
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O título de obra literária mais descritivo que conheço é Em Busca do Tempo Perdido. Há anos, pelo menos, tento recuperar o tempo que perdi ao lê-la.
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Meus livros de cabeceira são o Houaiss, o Aurélio e o Vocabulário Ortográfico. Sobre eles coloco o abajur, um copo d’água e os livros que leio antes de dormir.
13 de janeiro de 2009
MUNDO PERRO
Jogávamos pelo empate. Saímos na frente. Veio o segundo tempo; veio o que veio. Mundo cão.
O complexo de vira-latas (Nelson Rodrigues dixit) seria superado oito anos depois. Mas para alguns ainda é impossível falar daquele 16 de julho no Maracanã. Pouco importa se nem viviam à época.
(Na imagem, Friaça abre o score na final da Copa do Mundo de 50.)
12 de janeiro de 2009
FRIAÇA : A PALAVRA DO ÚNICO BRASILEIRO QUE CONSEGUIU MARCAR UM GOL PELO BRASIL NUMA FINAL DE COPA DO MUNDO NO MARACANÃ ! UM SONHO !
O DEPOIMENTO COMPLETO DO ÚNICO BRASILEIRO QUE REALIZOU O SONHO DE MARCAR UM GOL NUMA FINAL DE COPA DO MUNDO NO MARACANÃ. A INCRÍVEL HISTÓRIA DO ARTILHEIRO QUE TEVE UMA CRISE DE AMNÉSIA DEPOIS DE PERDER UM TÍTULO QUE PARECIA CERTO. QUANDO ELE "VOLTO A SI", ESTAVA EMBAIXO DE UMA ÁRVORE, NUMA CIDADE DO INTERIOR"
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Friaça podia bater no peito: era o único brasileiro que realizou o sonho de todo jogador de futebol: marcar um gol pelo Brasil, numa final de Copa do Mundo, no Maracanã.
O autor da façanha morreu hoje, doze de janeiro de 2009, aos 84 anos.
Tive a chance de entrevistá-lo duas vezes.
Eis o que ouvi do jogador que entrou para a história do futebol graças a um gol inesquecível.
O depoimento completo de Friaça foi publicado no nosso livro "DOSSIÊ 50', lançado em 2000 pela Editora Objetiva. É a única reportagem que traz a palavra de todos os jogadores que entraram em campo para enfrentar o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950. Esgotado, o livro virou "raridade". Mas pode ser encontrado em sebos.
Aqui, o capítulo dedicado a Friaça:
“FIZ UM A ZERO NA FINAL DA COPA.ALI NÓS JÁ ÉRAMOS DEUSES”
Albino Friaça Cardoso tinha vinte e cinco anos, oito meses e vinte e seis dias quando realizou o sonho máximo de todos os jogadores brasileiros de todas as épocas: fazer um gol numa final de Copa do Mundo dentro do Maracanã superlotado. O gol sai logo no primeiro minuto do segundo tempo. O Maracanã enlouquece. Friaça também. “A emoção foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César de Alencar, o locutor. Quando a bola estava lá dentro, ele gritou: “Friaça, você fez o gol!”. Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois caímos dentro da grande área”. Louco de alegria, Friaça só se lembra com clareza do rosto de César de Alencar. “Passei uns trinta minutos fora de mim. Eu não acreditava que tinha feito o gol. Eu tinha potencial, mas estava ao lado de craques como Zizinho, Ademir e Jair. E logo eu é que fiz o gol”. Se o Brasil precisava apenas de um empate, então o jogo estava liquidado: a seleção ia ser campeã do mundo. “Ali, nós já éramos deuses”.
Friaça só não poderia imaginar que outras cenas inacreditáveis iriam acontecer ali – além da queda com César de Alencar dentro da grande área, numa explosão de alegria. Consumada a tragédia brasileira, diante da maior platéia até hoje reunida para um jogo de futebol, a dor da derrota desnorteou o autor do gol do Brasil.
“O trauma foi enorme. Vim para o Vasco. Fiquei, em companhia de outros jogadores, andando de noite em volta do campo, ali na pista. O assunto era um só: como é que a gente foi perder com um gol daqueles ?”.
Depois das voltas inúteis em torno do campo do Vasco na noite de domingo, Friaça pirou. “Só me lembro de que a gente subiu para o dormitório. Eram umas onze da noite. Troquei de roupa e me deitei. Não me lembro de nada do que aconteceu depois. Quando dei por mim, por incrível que pareça, eu estava em Teresópolis, no meu carro. Passei pela barreira, fui para um hotel. Quando me perguntaram: “Friaça, o que é que você quer?” Eu simplesmente não sabia onde estava. Só sabia que estava debaixo de uma jaqueira, no terreno do hotel. Não sei como é que saí com meu carro da concentração. Não sei como é que fui bater em Teresópolis. Um médico que era prefeito de Teresópolis é que me deu uma injeção. Comecei a saber onde é que estava uns dois dias depois. A a minha família,em Porciúncula,estava atrás de mim, sem saber onde é que eu estava. O pior é que eu também não sabia. De 64 quilos eu passei para 59”.
Quem tivesse a sorte de fazer gol pelo Brasil ganharia um terreno – era um dos prêmios aos futuros campeões do mundo. O artilheiro da finalíssima contra o Uruguai mereceria um prêmio extra – uma televisão, na época, um luxo para privilegiados. Quando finalmente descobriu em que país estava, depois do trauma da vitória do Uruguai, Friaça tentou receber o terreno e a televisão.
“A resposta que me deram foi: só se o Brasil tivesse vencido o jogo...”.
“Eu tinha confiança : a gente ganharia do Uruguai com facilidade.Cheguei a imaginar um placar de 2 ou 3 a 0 para o Brasil,pelo time que nós tínhamos e pelo time que o Uruguai tinha.A gente pode dizer que o Uruguai tinha um grande time,mas o Brasil era uma potência,uma força.O Brasil não pensava nem no empate.A gente não daria essa chance ao Uruguai.A verdade é que nós,os jogadores,estávamos tranquilos.A gente sabia que,se o time jogasse o que vinha jogando,dificilmente perderia.Se o tempo pudesse voltar,se o Brasil pudesse jogar dez vezes contra o Uruguai,ganharia nove.A seleção de cinquenta foi uma das maiores que o Brasil já teve.
A maior vingança que experimentei em minha carreira esportiva aconteceu um ano depois de nossa derrota na final da Copa de 50.O Vasco da Gama foi ao Uruguai jogar contra o Penarol. Ganhamos do Penarol – que tinha onze jogadores de seleção – dentro do Estádio Centenário.Repetimos a dose em outro jogo,aqui no Brasil.
Em 1950,nós estávamos engatinhando. Não estávamos preparados para ter um impacto tão grande quanto o que sofremos.O nosso time tinha um potencial muito maior do que o do time do Uruguai. O gol de empate do Uruguai,marcado por Schiaffino,teve um impacto grande sobre nosso time.Porque,até então,o jogo mais duro que tivemos tinha sido contra a Iugoslávia.Vencemos por 2 a 1,um jogo duro.
Diante dos outros,o Brasil jogava quase que a toque de música,como,depois,a seleção de 70.Era um time homogêneo.Quando o Uruguai fêz o gol de empate,sentimos um impacto.Há quem fale em Bigode.Mas fomos todos nós.
Não houve falha na armação tática do time.Ainda ouço até hoje que Obdulio Varela deu um tapa em Bigode. Não deu.Eu estava lá ! Pude sentir todo o problema.Bigode –é verdade- tinha dado uma entrada violenta.Aliás,violenta,não : uma entrada dura.Houve o impacto do juiz.Neste momento,Obdulio entrou em cena para separar. Mas não houve nada.
O que aconteceu,no gol,adiante,é que Bigode foi batido numa jogada,porque Ghiggia era um jogador de alta velocidade. Se Bigode foi batido pela alta velocidade de Ghiggia,então teria de contar com a cobertura de outro jogador. Não posso ficar falando.Não é o caso de a gente crucificar A, B ou C.Mas não houve cobertura.Como não houve cobertura,veio aquele impacto. Schiaffino,no lance do primeiro gol do Uruguai,foi muito feliz,como Ghiggia.Basta ver que o próprio Ghiggia diz que pegou a bola mal no pé.Fêz o gol no contra-pé de Barbosa,o nosso goleiro.Pegou a bola quase que com o bico da chuteira.Resultado : a bola entrou entre a trave e a perna esquerda de Barbosa.
O que eu acho é que não houve uma cobertura certa no lance, já que se sabia que Ghiggia era um jogador de grande velocidade. Tinha pouco domínio de bola,mas era veloz.
Não acredito em falha técnica do treinador. Porque,desde o primeiro jogo,entramos da mesma maneira.Mas aconteceu o lance : Ghiggia recebia a bola e partia para cima de Bigode.Como era de alta velocidade,Ghiggia dava um chute lá pra frente e partia.Então,a cobertura era essencial.
Não estou crucificando ninguém.Mas estou dizendo o que faria : punha um jogador fazendo a cobertura.
Gravei bem o lance do meu gol contra o Uruguai,porque este é o tipo de coisa que a gente guarda.Eu tinha potência na perna direita,graças a Deus.Quando vi,Máspoli,o goleiro do Uruguai,tinha saído.Bati forte na entrada da área - do lado direito para o lado esquerdo.A bola entrou.O lance tinha nascido de uma combinação minha com Bauer.Assim : Bauer tocou para mim, eu toquei para o Zizinho – que tocou,na frente,para mim. Antes de entrar na área,bati na bola.Tive a felicidade de marcar !
Eu só tinha um pensamento : fiz o gol ! A única coisa que eu vi foi César de Alencar me abraçando.Caímos dentro da área.Passei uns trinta minutos fora de mim.Eu não acreditava: nós tínhamos craques como Zizinho,Ademir e Jair.Mas eu é que tinha feito o gol ! Em toda a vida,eu sempre fui muito frio, nunca tive medo de ninguém : eu era igual a todos. É uma das das vantagens que eu tinha -e tenho até hoje.
Quanto à recomendação que o nosso técnico fêz antes do jogo,é bom que se diga o seguinte : o que Flávio Costa não admitia a covardia,mas aceitava entradas firmes e duras,desde que fossem leais.Há uma diferença entre as duas coisas.Deslealdade é uma coisa,jogada dura é outra.
Se alguém pensou em tirar de campo um jogador como Obdulio Varela,foi bobagem.Porque Obdulio era um jogador vivo e manhoso : não ia cair numa dessas.Eu mesmo já passei por uma situação dessas. Gostava de jogo duro.Não cheguei a jogar quatro vezes no Vasco na mesma posição : ora era center-foward,ora ponta-esquerda,ora ponta-direita.ter four, ponta esquerda, ponta direita e gostava. Depois da Copa,joguei contra o Uruguai,como center-foward.Matias Gonzalez me disse : “Vou te botar pra fora da área !”.Eu disse : “Você me conhece ! Sou do estado do Rio ! Já joguei 4 vezes contra você.Vamos brigar até o fim do jogo.Você sabe que eu não corro do pau !”.
Antes do jogo,aquele assédio atrapalhou o descanso dos jogadores.Como era ano de eleiçãO,teve jogador que foi levado para passear.A seleção,então,não teve sossego,tranqüilidade.É por razões que eu digo que a seleção estava engatinhando,em 1950,porque não tinha uma vivência.Um exemplo: passamos quarenta e cinco dias em Araxá,sem comunicação alguma com nossas famílias. Depois que Paulo Machado de Carvalho e o falecido Geraldo José de Almeida foram para é que começamos a Ter contato.Acontecia o seguinte : nossas famílias não recebiam as cartas que a gente escrevia.
Não culpo Flávio Costa de jeito nenhum, porque ele era sozinho.Era Flávio Costa e Vicente Feola para tomar conta de vinte e cinco jogadores. Depois,ficaram vinte e dois.Hoje,existe uma comissão técnica.Mas quem fazia treinamento era Flávio Costa – tudo ele.A equipe era o roupeiro,dois massagistas,dois médicos e Vicente Feola,para ajudar.
Eu me lembro de lances que poderiam ter mudado a história do jogo.Eu era um jogador que tinha noção dos passes,principalmente os de perna direita. Houve um lance em que fiz um passe certeiro,para Ademir entrar de cabeça.Eu,naquele estado de nervos,tinha certeza de que Ademir,com a facilidade que tinha para jogar,faria o gol.Mas Ademir praticamente devolveu a bola para mim. A bola voltou na mesma direção ! Por aí,dá para ver o estado em que os jogadores do Brasil se encontravam,naquele momento,a dez,quinze minutos do fim da partida.Naquela altura,era tudo na base do “valha-me Deus”,porque ninguém entendia nada.
A gente tinha saído da concentração para o Maracanã às onze e quarenta e cinco.Chegamos ao estádio em torno de uma hora da tarde.Quando chegamos ao vestiário,encontramos colchão para todo mundo se deitar no chão.
Antes,quando a seleção estava concentrada no Joá,antes da mudança para São Januário,várias vezes tivemos de empurrar,em dia de treino,uma camionete enguiçada da Polícia Militar,uma daquelas que tinha a madeira pintada de amarelo e a lateria pintada de azul.
Durante a Copa,jogadores receberam camisa, corte de terno,relógios e lustres.Da Sexta para o sábado e do sábado para o domingo,dentro do bar do Vasco da Gama,na concentração em São Januário,eu assinei autógrafos como “capeão do mundo”.Assinei !
Tinha até comerciante envolvido.Hoje,jogador de futebol não faz um negócio desse se não receber uma importância. Mas eu assinei bolas,faixas,fotos,todo tipo de coisa.Já nem sei onde assinei...Quem fizesse o primeiro gol receberia um terreno,perto do Leblon.Quem fizesse o primeiro gol do Brasil contra o Uruguai iria ganhar uma televisão,uma novidade,na época.Fiz o gol.Nunca vi esse prêmio.Não ganhei terreno.Corri atrás,mas não adiantou nada.Quem ia dar os prêmios disse que não podia,porque o Brasil tinha perdido a Copa.A televisão ia ser prêmio de uma loja chamada A Exposição. Meu cunhado foi à loja,para saber do prêmio.Disseram : “Ah,não ! Só se o Brasil tivesse ganhado o jogo...”.
Logo em seguida,comprei uma televisão.
Durante a Copa,houve uma reunião entre os jogadores,para discutir a divisão de prêmios que eram oferecidos à seleção.Decidiu-se que ia se fazer um leilão dos objetos.Pelo seguinte : havia no grupo jogadores que não tinham condições físicas ou técnicas de jogar.Como não jogavam,corriam o risco de não receber prêmios.Então,combinou-se com nossa “diretoria”,formada por Augusto,Nílton Santos,Castilho e Noronha,o seguinte : tudo o que cada um recebesse seria leiloado.Houve,então,uma pequena desavença sobre como é que se ia dividir um lustre de cristal,oferecido por uma loja.Flávio Costa entrou na discussão para acalmar o pessoal.
Mas o pior,para mim,veio quando o jogo acabou.Vim para o Vasco. Ficamos eu,Bauer, Rui e o Noronha andando em volta do campo,na pista do do Vasco. : é a momento mais duro que tive em minha vida.Dali,subimos para o dormitório. O assunto era um só : como é que nós fomos perder com um gol daqueles ? Ficou aquela “conversa de bêbado”,sem fim nem começo.
Só sei que subi para o dormitório ás onze horas.Não me lembro de mais nada,não sei de mais nada. Quando eu dei por mim,estava em Teresópolis ! Uma pessoa do hotel me perguntava: “Friaça, o que é que você quer?” E eu nem sabia onde estava !.Só sei que estava debaixo de uma jaqueira,num hotel...Fui sozinho para lá.Não como é que pedi ao porteiro para sair,não sei como é que cheguei a Teresópolis.De manhã,o porteiro do hotel foi chamar o prefeito de Teresópolis – que eu conhecia.Tomei injeção,passei uns dois dias com ele. Honestamente,não sei o que eu tomei,mas fiquei apagado. Depois é que me refiz,comecei a saber onde é que eu estava e o que é que tinha feito.A minha família estava me procurando no Rio e em São Paulo,porque não sabia onde é que eu estava.Mas eu mesmo também não sabia ! Depois de chegar finalmente a Porciúncula,terra da minha família,eu me comuniquei com o Rio e com São Paulo.Eu tinha 64 quilos.Passei para 59.
Devo ter ido para Teresópolis porque sempre que tinha uma folga gostava de ficar quieto lá.Nunca gostei de confusão.Eu queria era tranquilidade.
O que vi no vestiário do Brasil,assim que acabou o jogo,foi só choro.Não se via outra coisa,a não ser gente se abraçando,chorando,lamentando.Os mais frios sofrem mais.Quem desabafa sente um alívio.quem não desabafa fica sofrendo.Nosso vestiário - desculpe a expressão – virou um cemitério.Era só gente se lastimando,como num velório.
Quando acabou tudo,eu pedia muito a Deus que eu jogasse outra vez contra o Uruguai.Terminei jogando – e ganhando,pelo Vasco : 3 a 1 em Montevidéu,2 a 0 aqui.
Não adiantava querer sonhar.Eu queria ir à forra.O Vasco chegou debaixo de cavalaria,mas ganhou.
Jogadores da seleção brasileira de 50 - que tinham condições de crescer na carreira - só regrediram depois da Copa.Antes,éramos deuses.
Nós,os jogadores,sofremos em todos os cantos,porque para onde a gente ia,ouvia só duas palavras : Obdulio,Uruguai "
8 de janeiro de 2009
PAUSA PARA UM REFRESCO: AS AVENTURAS DO COVER DE NELSON NED PELOS SERTÕES DO BRASIL
http://poeirasemaltomar.blogspot.com
É o bilionésimo blog a dar sinal de vida no Planeta Internet. Chegará o dia em que haverá um blog para cada leitor. Porque nenhum leitor é capaz de dar conta de tantos blogs.
O Poeiras é assinado pelos ex-tamanqueiros Amin Stepple e Roberto Borges.
"O COVER DE NELSON NED" é da lavra de Stepple. Divirtam-se:
Pachula sempre viveu no circo. Na verdade, a troupe o adotou aos sete anos de idade, quando o encontrou escondido num trailer, numa das temporadas pelo sertão baiano. A infância se passou no trato dos animais e no picadeiro, a única escola desse artista nato. Com o tempo, Pachula aprendeu todos os truques que o transformaram numa das atrações do Circo Babilônia. Com o talento compactado em um metro e oito centímetros de altura, era o único anão do divertido grupo de palhaços. As piadas e os pastelões arrancavam gargalhadas e garantiam a bilheteria. A caravana do Babilônia cansou de contar quantas vezes percorreu o mapa empoeirado do Brasil. Mas, um dia, o público sumiu de vez, aprisionado pela luz azulada das novelas.
--- Cansei da vida na lona.
Repetia Pachula, a iludir a si mesmo, sem admitir que o espetáculo acabara. Às vezes o anão cedia à nostalgia. Lembrava do circo indo de cidade em cidade, dos tempos impermanentes da vida nômade. Sacrificada, diga-se, mas refúgio seguro contra o tédio. Os aplausos da distinta platéia recompensavam a falta de conforto, os riscos e até os amores abandonados.
--- O público sabe reconhecer o verdadeiro artista.Disso Pachula não tinha dúvida, nada de queixas. Amores abandonados? Sim, lona que se arma e desarma num terreno baldio. Ao contrário dele, a grande paixão de Pachula não tinha medo de altura: a trapezista Denise. Loura de um metro e oitenta, sorriso aberto, confiante de quem jamais teme a morte. Artista perfeita, de gestos precisos, impulsos matemáticos.
E mais: quentíssima na cama.Confidenciava o amante Pachula. Aliás, as aptidões de Denise nos lances do trapézio sexual quase causam uma tragédia. Certa noite, entusiasmada, a trapezista, com suas coxas grossas e firmes acostumadas aos desafios das alturas, deu uma prolongada “chave de pernas” em Pachula. O anão por pouco, muito pouco, não morreu asfixiado entre as pernas da namorada.
___Cheguei a ficar roxo!Com o fim das jornadas circenses, Denise conquistou para si um destino de folhetim: desapareceu na estrada com um caixeiro-viajante. Pachula, dono de voz bonita e potente, decidiu sobreviver como cover do cantor Nelson Ned. As apresentações nos bares davam uns trocados e algumas refeições. Numa noite, ele foi apresentado a um empresário de shows. De lábia sedutora, Mário Aciolly convenceu Pachula de que ele era um produto artístico fácil de vender. O que faltava?
--Ninguém imita com tanta perfeição Nelson Ned. Ao ouvi-lo pela primeira vez, confesso que pensei que era o próprio Nelson. Além do mais, você é a cara dele e do mesmo tamanho. A partir de agora, você é o Nelson Ned.
Em pouco tempo, o esperto Mário Aciolly agendou vários espetáculos em cidades do interior. O show tinha forte apelo publicitário: “A VOLTA DE NELSON NED”. Casa sempre cheia, Pachula arrasava na interpretação dos sucessos de Nelson Ned.
___Vamos ficar ricos, milionários.É o que se lia no olho grande e gordo do empresário, eufórico por ter fechado mais uma longa turnê, agora pelo interior da Paraíba.Em Zabelê, terceira cidade programada do show “A VOLTA DE NELSON NED”, logo todos os ingressos foram vendidos. O empresário descobriu que até fã-clube o pequeno grande cantor brasileiro tinha em Zabelê. Gripado e febril, Pachula não estava na melhor forma. Tentou adiar a apresentação, mas Aciolly, receoso do prejuízo com a devolução dos ingresso, não concordou.
___ Vai cantar de qualquer jeito.Iniciado o show, Pachula esqueceu algumas das letras do repertório, provocando risos e piadas na platéia. A situação se complicou ao desafinar quando começou a cantar “eu hoje estou tão triste, eu precisava tanto conversar com Deus...”, um clássico que sempre levava o público às lágrimas. Um gaiato não se conteve e gritou:
___ Esse anão não é Nelson Ned, porra nenhuma. Nelson Ned é menor do que ele uns quinze centímetros.Logo, outro, de chapéu de couro, berrou:
---Sai daí, toco de gente. Vai enrolar tua mãe.Do fundo do salão lotado, uma mulher, de cabelo oxigenado, vestida com pouquíssima roupa, esbravejou:
___Esse anão não canta nada. É do Paraguai, é do Paraguai!Era a senha que faltava para a massa avançar, enfurecida, sobre o palco, à caça do anão.Na delegacia de Zabelê, Pachula passou duas semanas detido. Tempo suficiente para se recuperar dos hematomas e voltar a exercitar a voz. Ajudaram-no as longas serenatas incentivadas pelos outros presos e pela lua imaginária das canções populares. Nem os meganhas escondiam a emoção quando ouviam a voz aveludada de Pachula clamar, entre as grades enferrujadas, que “precisava tanto conversar com Deus...”Na manhã em que foi solto, o anão recebeu como consolo um dos maiores elogios de sua curta carreira. Elogio sincero, sincero, do comissário de plantão:
__Você, Pachula, canta bem melhor do que Nelson Ned.
2 de janeiro de 2009
DE ACORDO
O emprego em 2009. Eis o que mais preocupa nossos legisladores. Os legisladores do idioma, entenda-se. E o emprego de que se fala é o do hífen, está claro.
(Do hífen – até quando este acento agudo? Ate quando?)
Enquanto se aguardam outros decretos, enquanto observamos legislarem em causa própria, acordemos: não vamos economizar em dicionarios da lingua, vocabularios ortograficos e lexicos do portugues. Nao.