25 de agosto de 2009
10 de agosto de 2009
PROCURA-SE! QUEM FOI O GÊNIO QUE ESCREVEU O ANÚNCIO DE UMA LOJA CHAMADA "ÓTICAS CAROL" ?
O anúncio é de uma ótica chamada Carol. "O" óculos é um soco nos ouvidos.
A velha pergunta volta a ser feita: quanto será que a agência de publicidade autora do anúncio ( qual será ?) cobrou do cliente para cometer erro tão primário de concordância ?
Não há meio termo: a palavra "óculos" exige artigo no plural.
Como já lembrou o Sopa de Tamanco, escrever "o óculos" é como escrever "a casas" e "o carros".
O inacreditável é que um anúncio assim é aprovado por alguém.
Pior: alguém pagou por ele!!
Conclusão definitiva: a cada minuto, nasce um otário na terra.
Assim é, assim foi - e assim será, por séculos e séculos.
8 de agosto de 2009
É SÉRIO: POR QUE O BRASIL TEM OS PUBLICITÁRIOS MAIS ANALFABETOS DO MUNDO
Agora, para fechar a lista de horrores, a TV exibe a toda hora um anúncio de carro - pretensamente chique - em que o personagem pergunta a outro: o que você vai estar fazendo "daqui cinco anos" ? ( ou vinte anos, não me darei ao trabalho de me lembrar...)
O pior é que são anúncios caros, produzidos para produtos supostamente de qualidade. "Um óculos" é de um anúncio da Photoptica: uma promoção que prometia óculos de sol. "Sombrancelha" é de uma fábrica chamada Gula Fruts. "Encarar de frente" é de um anúncio da Toyota publicado nas revistas. "Daqui cinco anos" é da Ford.
É uma verdade límpida, pura, cristalina e incontestável: gente que diz ou escreve "um óculos", "sombrancelha", "encarar de frente" e "daqui cinco anos" é analfabeta. Ponto.
Conclusão: a publicidade brasileira pode ser não a pior, mas, com toda certeza, é a mais analfabeta do mundo.
Uma pergunta pende no ar: quantos mil dólares um publicitariozinho desses cobra para escrever tais aberrações ?
De repente, as coisas começam a fazer sentido. Era tão óbvio, mas só agora notei: um país que conta com publicitários desse tipo teria de ter, no senado, figuras como Renan Calheiros e, na TV,
débeis mentais se esgoelando em reality shows.
O círculo se fechou. Agora, finalmente, entendi tudo.
9 de julho de 2009
MISTER TALESE, O SENHOR PODE ASSINAR MINHA BÍBLIA, POR FAVOR ? ( UM RELATO SOBRE O GURU DO NOVO JORNALISMO)
“A humanidade só será feliz no dia em que o último editor for enforcado nas tripas do penúltimo” foi a sentença que o meu demônio-da-guarda me soprou, nítida e clara, ao pé do meu ouvido esquerdo, no exato instante em que ouvi o cultuadíssimo jornalista Gay Talese fazer uma confissão sobre os bastidores do jornalismo.
A confissão: uma reportagem que ele fez, nos anos setenta, sobre o encontro de Fidel Castro com Cassius Clay, em Cuba, foi descartada por nada menos de dez publicações diferentes. Dez!
É possível imaginar a cena: uma dezena de editores entediados deve ter passado os olhos sobre o relato escrito por Talese antes de vomitar uma desculpa qualquer para justificar a recusa.
Editores açougueiros cometem atrocidades todos os dias em todas as redações do planeta. Mas o caso da reportagem escrita em Cuba é uma daquelas aberrações que fariam um recém-formado desistir imediatamente da profissão.
Não é para menos. Tratava-se de uma reportagem escrita por um dos maiores nomes do jornalismo do Século XX sobre duas figuras míticas: o boxeador que entrou para a história por ter nocauteado um punhado de adversários imbatíveis e o comandante de uma ilhota que cutucava com vara curta a superpotência americana. Gay Talese, Cassius Clay e Fidel Castro. A camarilha de editores deu o veredito: não.
Um dos argumentos que usaram: o texto estava grande. Precisava ser reduzido. Talese disse que não. Não poderia reduzir. Os burocratas da profissão são exatamente assim: passam a vida inteira querendo provar que o público leitor detesta ler. Assim, todo e qualquer texto deve ser imediatamente trucidado. Ah, como são pateticamente pretensiosos...
Depois de três décadas e meia de observação, posso declarar diante do tribunal a única certeza que adquiri nesta profissão: o maior inimigo do Jornalismo é o jornalista. Não existe outro. Ponto. Parágrafo.
O resultado da investida do exército de editores burocratas foi este: o relato da expedição cubana de Gay Talese só chegou às mãos do público quando foi incluída num livro, anos depois.
Talese – um jornalista quase sexagenário na época da recusa – confessou, candidamente, que sentiu uma lufada de humilhação agitar suas florestas interiores ao ser brindado pelos editores com dez pontapés no traseiro.
Pergunta-se: quem é capaz de recordar o nome de um desses texticidas (assassinos de textos) que jogaram a reportagem de Talese no lixo ? Ninguém. Foram engolidos, um por um, pelo esquecimento.
Já Gay Talese sobreviveu.
Ei-lo agora, tanto depois, narrando suas desventuras numa noite tecnicamente cálida deste inverno na Cidade do Rio de Janeiro.
A confissão de Talese sobre o pesadelo que sofreu na mão de editores foi feita diante de uma fauna de tietes, curiosos, estudantes, aspirantes e dinossauros do jornalismo, reunida numa sala de cinema que fazia as vezes de palco de conferência no Instituto Moreira Salles, na Gávea, Rio de Janeiro. O jornalista Arthur Dapieve cumpriu com garbo o papel de mestre de cerimônia.
Quem conseguiu uma vaga na platéia ouviu um dos pais do New Journalism dizer que, lá no início da carreira, nos anos cinqüenta e sessenta, dava predileção a personagens anônimos, ao invés de cortejar os famosos.
Não por acaso, uma das primeiras reportagens que escreveu tinha como personagem central o redator de obituários do New York Times, um jornalista que vivia esquecido, numa mesa no canto da redação, ocupado em ruminar seus mortos.
Talese não teve dúvida em transformar um jornalista em notícia, o que quebrava um dos mandamentos da profissão (“jornalista só é notícia quando morre”). Não é verdade. Ao retratar o redator de obituários, Talese mostrou que jornalista que escreve sobre morte pode ser notícia, sim. Basta que tenha a sorte de atrair a atenção de um repórter inspiradíssimo, como ele.
A reportagem de Talese sobre um redator de obituários chamado Alden Whitman é um clássico imbatível do jornalismo. Pode ser lida no livro “Fama e Anonimato”, relançado no Brasil pela Companhia das Letras.
Estudantes, amadores, profissionais, correi: o que estão esperando antes de devorar o texto de Talese sobre o “mister Bad News”?
Um repórter burocrata diria que não, um mero redator de obituários não “rende matéria”. Talese dá uma lição perene: personagens anônimos podem ser,sim, fascinantes, extraordinários, comoventes. É uma regra universal. Tudo depende – única e exclusivamente - da sensibilidade do repórter.
Ao falar sobre a gênese da célebre reportagem sobre Frank Sinatra, igualmente clássica, Talese fez outra confissão: disse que nunca se sentiu atraído a escrever sobre gente famosa. Preferia lançar seus faróis sobre gente anônima, o que parecia uma “contradição”. Afinal, o jornalismo se alimenta da fama.
Não por acaso, quando recebeu de um editor a tarefa de escrever sobre Frank Sinatra, Talese teve a tentação de recusar a encomenda. Imaginou: que pergunta Frank Sinatra já não tinha respondido um milhão de vezes?
(Neste exato momento da fala de Talese, meu demônio-da-guarda entra em cena novamente, para sussurrar uma confissão ao pé do meu ouvido direito. Diz que, se tivesse a chance de interpor uma ressalva às palavras de Talese, declararia, solenemente: “Ah, não,oh guru do Novo Jornalismo, permita-me um momento de petulância: ao contrário do que Vossa Excelência diz, haverá sempre uma maneira de perguntar o que não tinha sido perguntado. Não há celebridade que não possa ser confrontada. Mas... quem sou eu para discrepar?”. Feito este exercício de autocrítica, meu demônio-da-guarda recolhe-se a um silêncio reverente).
Hoje, Talese pode dizer que, por sorte, Frank Sinatra não quis lhe dar uma entrevista. Assim, o caminho ficou livre para que o repórter transferisse todas suas atenções para o entourage de anônimos que cercavam o ídolo dos palcos.
O homem que fazia o papel de double de Frank Sinatra – um personagem chamado Johnny Delgado – parecia, aos olhos de Talese, tão fascinante quanto o original. Talese descreve a cena em que viu se aproximar um vulto que ele jurava ser Sinatra em pessoa. Não era. Quem se aproximada era o dublê.
É bola na rede, gol de Talese: sem que tenha sido a chance de interrogar o objeto principal da reportagem, Talese produziu uma reportagem definitiva sobre mister Sinatra. Bingo.
Talese faria outra confissão – que arrancaria suspiros de espanto da platéia: não usa a internet como instrumento de trabalho. Diz que a “tecnologia” da internet pode ser usada, por exemplo, para confirmar uma data. Mas não pode substituir, nunca, o contato “olho no olho” com a realidade.Repórter deve ir para a rua.Não pode passar o dia contemplando o retângulo luminoso de um monitor.
Neste instante, lembrei-me de uma máxima de Joel Silveira, grande repórter da linhagem de Talese: a “víbora” Joel dizia que não existe nada mais triste do que ver um repórter contemplando o teclado de uma máquina de escrever na redação, enquanto os assuntos, todos, estavam lá fora, na rua, à espera de quem pudesse descobrí-los.
Por princípio, Talese diz que, ao retratar seus personagens, não gravava nem fazia anotações : preferia observa-los com toda a atenção. De volta ao hotel, à noite, redigia o que tinha visto.
Ao fazer este relato, lanço da mão da “técnica Talese”: não estou recorrendo a gravações nem anotações. Tento reproduzir – de memória – o que acabei de ouvir. Já se disse que a memória guarda o que interessa. O resto some no abismo do esquecimento. Guardei – de memória - estas lições do guru do New Journalism.Há outras. Prometo: voltarei ao assunto, em breve ( Em nome de São Gutemberg: que outra coisa pode fazer um repórter, além de passar adiante o que viu e ouviu?).
Terminado o pronunciamento, mister Talese se dispôs a assinar autógrafos .
(Pausa para um registro bibliográfico: raríssimamente peço um livro emprestado. Dos pouquíssimos que pedi, o único que não tive a chance de devolver ao proprietário foi justamente um título de Talese: a primeira edição de “Fama e Anonimato”, lançada no Brasil nos anos setenta, pela editora Expressão e Cultura, com o título de “Aos olhos da Multidão”. Era a Bíblia de quem cultuava as pérolas de papel que Talese produziu, como o perfil do redator de obituários ou a reportagem sobre Frank Sinatra. Um colega jornalista, chamado Luiz Edmundo Monteiro, me emprestou o exemplar, no final dos anos oitenta. Depois, se mudou para o Paraguai. Jamais tive a chance de reencontrar o dono do exemplar – que ficou comigo esses anos todos. Hoje, ao me dirigir para o Instituto Moreira Salles, levei o livro que um dia, antes de ser relançado, era tratado como relíquia. A capa, frágil, ameaça se romper).
Sentado numa mesa, com os óculos na ponta do nariz, Talese veste-se como um dândi (sempre fez questão de cultuar paletós, jaquetas,sobretudos, sapatos, meias e lenços elegantes). Simpático, estende a mão para pegar o exemplar em ruínas.
Digo a ele:
- O senhor pode assinar a minha Bíblia?
Talese ri:
- É sua Bíblia ? Mas parece meio velha.... ( agora, ele manuseia capa puída).
- É velha, mas funciona...
O guru ri de novo, assina, agradece.
Termina o rapidíssimo diálogo sobre o meu devastado exemplar de "Aos Olhos da Multidão" , minha Bíblia jornalística, meu Evangelho Para Repórteres Segundo Gay Talese.
Eu poderia ter dito a ele que acendo uma vela para "Aos Olhos da Multidão" e outra para uma entidade inventada por Kurt Vonnegut : Nossa Senhora do Perpétuo Espanto.
Se tivesse tido tempo de se manifestar, meu anjo-da-guarda teria levantado a voz para finalmente interferir no diálogo, como se fosse um estudante ingênuo num comício de DCE: "Ah, com licença, oh guru do New Journalism, eu me arrisco a acrescentar que, se o Vaticano estivesse preocupado em combater as calamidades jornalísticas, deveria nomear Nossa Senhora do Perpétuo Espanto padroeira universal e plenipotenciária dos jornalistas. Porque só são dignos de povoar as redações os jornalistas que fazem da profissão um culto diário à Nossa Senhora do Perpétuo Espanto: são aqueles que tentam a todo custo não perder a capacidade de olhar a vida - e os personagens que a povoam - como se estivessem vendo tudo pela primeira vez. Em resumo: os que se recusam a perder a capacidade de se espantar. Somente assim, poderão narrar - da maneira mais atraente possível - a marcha dos fatos e dos personagens, anônimos ou famosos, que movem a máquina do mundo. Os que não são tocados por este espanto pertencem à triste linhagem dos que jogaram no lixo o que o senhor, Mister Talese, escreveu sobre Cassius Clay em Cuba. Já os que cultuam Nossa Senhora do Perpétuo Espanto serão sempre capazes de descobrir, em personagens como o redator de obituários, histórias que, claro, merecem ser contadas. Sempre mereceram !".
Mas não, não houve tempo de falar com Gay Talese sobre velas, redações, obituários e espantos nem de ouvir as perorações de anjos e demônios da guarda.
A fila dos que buscavam um autógrafo se estendia pelo pátio do Instituto. São dez e meia da noite. Hora de pegar a Bíblia e bater em retirada.
12 de junho de 2009
CHATONILDOS DA SILVA XAVIER: A PRIMEIRA LISTA
Eis nossa lista de ouro:
a) aquelas exibições insuportáveis do Cirque do Soleil: um bando de idiotas multicoloridos escalando paredes e requebrando sobre plataformas voadoras, como se estas fossem habilidades dos deuses. Não são. Pior: há sempre uma velhinha ou velhinho que se integram à troupe para provar que ah, a vida é bela, a "terceira idade" não é limite para nada. Patéticos: o circo, os idiotas, os velhinhos e os que se dão ao trabalho de preencher a platéia.
b) aquelas notícias de tv que são dadas como se fossem conversa de comadre: "fulaninho, o que aconteceu aí ?"; "ah,fulaninha, uma coisa importante....". E assim por diante ( ver post anterior sobre o imenso, o incontrolável, o imbatível, o enorme, o avassalador tédio televisivo ). Quando os comadres e compadres terminam a notícia conversada, o pobre do telespectador já desabou, faz séculos, nos braços de Morfeu. Dormir, dormir, dormir: eis o resultado.
c) pseudo-estrelas falando dos filhinhos em revistas de celebridades. A partir de uma análise quadro a quadro do filme do assassinato do presidente Kennedy, especialistas fizeram a leitura labial da "primeira dama" Jaqueline Kennedy. O que ela disse naqueles segundos em que viu a cabeça do marido explodir ? "Oh,no!". Se os especialistas entrassem em campo para traduzir o que é que o leitor diz diante de uma anta célebre falando dos filhotes, chegariam à conclusão idêntica: "oh,no!", "oh,no!", "oh,no!". É o que faço diante das bancas e das telas.
"Oh,no!","oh,no!","oh,no!".
d) gente dançando forró ao som de sanfonas. o cúmulo dos cúmulos: uma viagem a bordo do tal do "trem do forró". Onde fica a saída, pelo amor de Deus ?
e) um grande show num "centro de tradições gaúchas". paspalhos de chimarrão lotam a platéia, enquanto um sanfoneiro canta músicas intoleráveis com um sotaque insuportável. "Oh, no".
f) professores de literatura, escritores, leitores e curiosos em geral relinchando em congressos literários."oh,no"
Novas informações a qualquer momento.
31 de maio de 2009
UM ENCONTRO COM MILVINA DEAN, SOBREVIVENTE DO TITANIC
Dos passageiros e tripulantes que conseguiram sair com vida do naufrágio em 1912, só uma estava viva em 2009: Milvina Dean, uma inglesa que, quando embarcou no transatlântico, era bebê.
A mulher que, nos últimos anos, carregou o título de "última sobrevivente do Titanic" morreu no início da manhã de hoje, aos noventa e sete anos de idade, em Southampton, Inglaterra.
Aqui, um relato sobre o dia em que o locutor-que-vos-fala teve um encontro com Milvina Dean, no exato local em que o Titanic iniciou a viagem que, como se sabe, terminou em tragédia:
http://www.geneton.com.br/archives/000116.html
29 de maio de 2009
CUIDADO COM A STT, A SÍNDROME DO TÉDIO TELEVISIVO: UMA DOENÇA QUE ATACA OS OLHOS E OUVIDOS!
Oh, tu, que navegas por blogs vagabundos e agonizantes como este, o que dizes da nova praga dos telejornais ? ( São aquelas conversas de comadre que ocupam um tempo que, na verdade, deveria ser preenchido por notícias - e enchem de tédio a alma dos pobres dos telespectadores... )
O Telejornalismo Conversado daria assim a notícia sobre o 11 de Setembro:
- Boa noite, Fulano, o que aconteceu hoje em Nova Iorque ?
- Boa noite, Beltrano.
- Boa noite.
- Beltrano, um avião foi visto nos céus de Manhattan...
- Ah,é, Fulano ? E o que aconteceu ?
- Ah, Beltrano, ele estava se dirigindo ao World Trade Center. Parecia desgovernado...
- Ok, Fulano ? E o que ocorreu, então ?
- Berltrano, o avião se chocou com uma das torres...
- Entendido, Fulano. E depois ?
- Beltrano, logo depois outro avião se chocou com outra torre. Nunca houve nada parecido na história...
- Ok, Fulano. Obrigado.
A essa altura, o telespectador dorme profundamente na poltrona. Um baba espessa escorre-lhe pelo canto da boca. As crianças da vizinhança apontam, sorrindo, para a cena patética: aquele feixe disforme de ossos e músculos dormitando diante de um aparelho de TV.
Ao fundo, ouve-se o som do aparelho.
A ladainha continua :
- Fulano, já se sabe o número de vítimas ?
- Não, Beltrano
- Ok, Fulano. Voltaremos já.
De imediato, as crianças que, inadvertidamente, olharam para a TV começam a cair no chão, uma por uma, adormecidas. Diagnóstico: foram fuminadas por uma praga chamada STT (Síndrome do Tédio Televisivo).
Surpreendentemente, as pestanas do cachorro da casa - que olhava, boquiaberto, para a TV - também desabam, indefesas diante do poder avassalador da STT.
O gato - que, estacionado em cima do muro, olhava de soslaio para a tela de TV - tomba no chão, igualmente adormecido.
Todos - o telespectador, o gato, as crianças, o cachorro - repousam no colo de Morfeu. A onda de tédio expelida pela tela de TV foi tão avassaladora que é impossível acordá-los.
Mas, a TV continua falando sozinha:
- Beltrano, você estava falando sobre o que aconteceu em Nova Iorque....
-Sim, Fulano, um porta-voz da Casa Branca informou que o número de mortos pode chegar a três mil...
-Ok, Beltrano. E, gente, adivinhe só o que vem aí: a previsão do tempo...Mariazinha, como estará o tempo em Rondônia ?
Adormecidos, os telespectadores, gatos e cachorros atingidos pela STT emitem, a essa altura, um ronco que se espalha pela cidade: só perde, em intensidade, para o chatíssimo, o insuportável, o inaudível, o interminável blá-blá-blá do TC (Telejornalismo Conversado).
A STT é incurável. Mas, como há males que vêm para o bem, ela tem uma grande vantagem: acaba de uma vez por todas com toda e qualquer crise de insônia.
É GRAVE A CRISE
A música brasileira ficou irrelevante, com as exceções de praxe. Nem faz tanto tempo, os senhores ouvintes contavam os meses para degustar o novo disco (!) de um Caetano Veloso, um Paulinho da Viola, um Jorge Ben, um Gilberto Gil, um Chico Buarque & Cia.
Façam as contas: qual foi a última música "assoviável" que um desses rapazes produziu ?
Faz tempo, faz anos, faz décadas.
As musas entraram em greve por tempo indeterminado.
QUE FALTA FAZ UM CONSELHEIRO NA HORA CERTA....
a)avisar a Roberto Carlos que, pelo amor de Deus, aquelas ombreiras são o artefato mais patético já exibido por um ser bípede num palco do planeta Terra;
b)dizer àquela atrizinha grosseiríssima chamada Suzana Vieira que ,para o bem de nossos olhos e ouvidos, ela deveria, urgentemente, alugar um bom canil no Retiro dos Artistas e ficar lá por todo o sempre,amém, ocupada em fazer tricô; não em nos chocar com demonstrações de estupidez,falta de educação e pretensão descabida;
e assim por diante.
15 de abril de 2009
"REPRESENTÁVAMOS EM CIDADES ONDE HOJE EU RECUSARIA SER ENTERRADO, MESMO QUE O FUNERAL FOSSE DE GRAÇA E ELES OFERECESSEM UMA LÁPIDE COMO BÔNUS"
FESTIVAL GROUCHO MARX - 5
"Bem, voltemos ao show business. Representávamos em cidades onde hoje eu recusaria ser enterrado, mesmo se o funeral fosse de graça e eles oferecessem uma lápide como bônus.Quase todos os atores do grupo eram relativamente amigos - a menos, claro, que um dos atos tivesse um sucesso muito grande. Depois das matinês, geralmente íamos jantar juntos. Todos, exceto Tiger Smith. Uma vez lhe perguntei por que não ia conosco:- Groucho, você acha que sou louco? Se você acha que vou pagar um dólar só para comer um jantar, está ruim da cabeça! Comida é comida - e certamente não vou desperdiçar eu dinheiro numa coisa tão idiota quanto essa.Como na lanchonete mais barata que posso encontrar e minha comida nunca custa mais do que alguns trocados.-Mas, Tiger, você não acha que pode adoecer com esse tipo grude ?-Nunca fiquei doente na vida !-E como você faz ? Você tem alguma fórmula secreta ?-Bom,assim que termino de comer - confidenciou - não importa se estou enjoado ou não, tomo duas colheres de bicarbonato de sódio. Depois disso, fico novinho em folha !Depois de nossa turnê, perdi contato com ele. Alguns anos mais tarde, li seu obituário no Variety. Dizia que Tiger Smith tinha morrido de pedras nos rins causadas por excesso de bicarbonato de sódio"
FESTIVAL GROUCHO MARX - 4
"Muitos médicos recomendam dormir no chão se você chega em casa tarde e meio pifado ou, em termos médicos, "com o fogo aceso". Eu,na verdade, aconselho você a se esquecer dos médicos e a dormir no chão quando estiver sóbrio. Muitas coisas recomendam isso. Para começar, você elimina o custo de uma cama. O dinheiro que você economiza assim pode ser usado para ficar bêbado outra vez. Além disso, se você dorme no chão, não há perigo de cair - a menos que você esteja dormindo perto de um buraco"
FESTIVAL GROUCHO MARX - 3
"O show business é a única profissão existente em que um homem pode ganhar uma razoável fortuna apenas por ficar dentro da pele de um gorila"
FESTIVAL GOUCHO MARX - 2
"Já tentei ser o alegre membro de algum bom clube, mas, depois de um mês e pouco, minha boca sempre começa a doer pela pressão dos meus dentes num sorriso falso. A pseudo-amizade, os apertos de mão moles e os extra-fortes ( ambos deveriam ser abolidos pelo Ministério da Saúde) não são para mim. Isso também é valido para o caloroso tapinha nas costas e a cascata generalizada à qual você é submetido por todos os chatos da América dos quais você fugiria imediatamente se não estivesse preso na sede do clube"(Idem)
FESTIVAL GROUCHO MARX - 1
"Acho que se os críticos de Nova York empacotassem suas máquinas de escrever e se mudassem para a Mongólia e lá ficassem por uns dez anos, o teatro floresceria outra vez, como floresceu no começo do século - apesar da concorrência da televisão,cinema,salões de boliche e sexo"("Groucho & Eu")
5 de abril de 2009
AVISO A LEITORES INOCENTES : NÃO CAIAM NO GOLPE DE UM PICARETA LITERÁRIO CHAMADO BERNARDO CARVALHO! O LIVRO "O FILHO DA MÃE" É UMA EMPULHAÇÃO!
Agora que um novo título do sub-escritor chega às prateleiras das livrarias ( "Filho da Mãe"),
a resenha há de servir como aviso a leitores incautos: não gastem dinheiro com esta empulhação sem precedentes na história da literatura brasileira.
O motivos são explicados abaixo.
Resenha dos livros Onze (romance); Os Bêbados e os Sonâmbulos (romance); Teatro (romance); As Iniciais (romance); Medo de Sade (romance); Nove Noites (romance); Mongólia (romance) ; O Sol se Põe em São Paulo (romance) e O Filho da Mãe (romance):
PROTESTO! DICIONÁRIO DO AURÉLIO COMETE FALHA NO VERBETE "LIXO". FALTOU UM NOME LÁ!
Atenção, editora do Dicionário do Aurélio, o Pai dos Burros ( ou seja :nosso pai) : há uma falha grave na edição de papel! Tomara que o deslize seja corrigido na próxima edição.O Dicionário dá como sinônimos de lixo "entulho ; tudo o que não presta e se joga fora; sujidade, sujeira, imundície; coisa ou coisas sem valor". Faltou concisão ao autor do verbete. Poderia ter resumido a palavra a lixo com uma apenas uma frase,claríssima : lixo = o mesmo que livro de Bernardo Carvalho.Todo mundo entenderia.
Porque lixo que é lixo fede de tão ruim. Livro de Bernardo Carvalho fede. Lixo que é lixo não pode ser manuseado, porque provoca náusea. Livro de Bernardo Carvalho provoca náusea. Lixo que é lixo dá vontade de vomitar. Livro de Bernardo Carvalho dá vontade de vomitar. Ninguém me contou: eu vi, porque manuseei um. Em resumo: livro de Bernardo Carvalho é o sinônimo perfeito para a palavra lixo, mas o dicionarista preferiu complicar a explicação.
Justiça se faça : não é que o tal livro seja podre. Papel não fede. A podridão é literária. Ou seja: o fedor de lixo emana do conteúdo. Livro de Bernardo Carvalho é - apenas - inapelavelmente ruim, pretensiosíssimo, entediante, chatíssimo, soporífero, estupefaciente, vomitivo, ilegível, horroroso.
O simples fato de livro tão ruim chegar à prateleira das livrarias, com a chancela de uma grande editora, é um atestado da indefensável mediocridade de nossa paisagem cultural. Há pecados que até se perdoam num candidato a escritor. Mas a pretensão descabida é pecado mortal.
Sério: um candidato a escritor precisa, obrigatoriamente, avaliar o próprio tamanho, antes de teclar a primeira frase. Se um jornalista tiver a plena consciência de que, em última instância, não passa de um aplicado coletor de declarações alheias, terá - por exemplo - grandes chances de produzir boas peças jornalísticas. Tudo se resume a não querer enganar a platéia dando um passo maior do que as pernas.
Já pensou se um desqualificado como Bernardo Carvalho tivesse a pretensão de escrever como, por exemplo, Camus? Mas ele tem. O desastre mora aí ( neste momento, a platéia solta, em uníssono, um suspiro de desalento: "Meu Deus, ele tem....").
Se um picareta literário, cego pela pretensão descabida, comete o gravíssimo pecado de se julgar um romancista de recursos, a estrada para o desastre estará aberta. É o que acontece com livro de Bernardo Carvalho, um picareta literário que se julga perfeitamente qualificado a cobrar dinheiro para ser lido...(afinal, o que faz um autor que publica livros? Cobra dinheiro para ser lido. O problema é de qualidade. Cassandra Rios, autora quinhentas vezes superior a Bernardo Carvalho, porque não cometia o pecado mortal da pretensão descabida, poderia perfeitamente cobrar para ser lida. José Mauro Vasconcelos, autor com zero grau de pretensão descabida, e, portanto, seiscentas vezes superior a Bernardo Carvalho, poderia cobrar para ser lido. Bernardo Carvalho não pode cobrar, porque os seus livros são empulhações indefensáveis para ludibriar leitores. Livro de Bernardo Carvalho deveria ser distribuído de graça para as empresas de lixo).
Imagine um débil mental habitante de um paiseco subdesenvolvido desfilando de cachecol por bares como se estivesse na Paris do século XVIII e arrotando draminhas existenciais ( a platéia se contorce de riso diante de tal cena: quá-quá-quá-quá) . Se uma criatura com este perfil se sentasse diante de um teclado para escrever, o que sairia ? Um livro de Bernardo Carvalho.
Nem quero teclar o nome do livro que inspirou estas reflexões sobre o sentido da palavra lixo. Quero evitar que outros incautos, movidos pela curiosidade, cometam a estupidez que cometi: joguei fora um dinheiro que poderia ter sido gasto com um bom sanduíche acompanhado de um milk-shake. Bem feito! Dinheiro jogado lixo! Quem mandou comprar lixo disfarçado de livro?
postado por Geneton Moraes Neto # 6/30/2007 12:07:00 PM
18 de março de 2009
ETA, ETA, ETA ! É SANGUE DE... IBOPE
17 de março de 2009
15 de março de 2009
UM INFORME SOBRE O LIVRO "ELZA, A GAROTA". OU : O DIA EM QUE O LOCUTOR-QUE-VOS-FALA FEZ UM FAVOR À LITERATURA BRASILEIRA
Não é um tema fácil, porque pode se prestar a todo tipo de manipulação ideológica. Elza é, literalmente, um esqueleto no armário da esquerda brasileira.
Diante do convite, o meu detector de matérias emitiu, na hora, um ruído característico que, discretamente, invade os meus tímpanos em situações semelhantes : um clique inconfundível, exatamente igual ao disparado por aqueles equipamentos que os técnicos usam para detectar sinais de radiação. Habemus matéria!
A pauta renderia, claro, uma bela reportagem, estritamente factual, sem qualquer contaminação ideológica.
(Sou repórter, não sou militante. Como personagem jornalístico, George Walker Bush me interessa tanto quanto - por exemplo - Vladimir Ílitch Uliánov, o popular Lênin. Eu daria tudo pela chance de entrevistar um ou outro, desde que Lênin fosse capaz de se levantar do velório que já dura oitenta e tantos anos no mausoléu da Praça Vermelha - e George Bush tivesse a idéia luminosa de me convidar para uma rodada de gravações exclusivas no rancho onde se enclausurou, no Texas. Os dois dariam excelente matéria-prima jornalística. Quem quiser fazer militância política que se inscreva num partido. Ponto. Parágrafo).
Ocupado com outros projetos, agradeci ao editor a lembrança do meu nome como possível autor do livro-reportagem. Entre uma e outra garfada num prato modernoso que, a bem da verdade, não deixou sinais de saudade no meu paladar, indiquei, informalmente, os nomes de dois jornalistas que poderiam dar conta da tarefa: Sérgio Rodrigues e Fernando Molica.
Não estou cometendo qualquer indiscrição ao citar esta cena (banal) dos bastidores da nossa paisagem editorial.
Sérgio Rodrigues levou adiante a empreitada.
É aí que a porca torce o rabo. Porque quero fazer uma confissão: ao recusar, por absoluta falta de tempo, o convite para fazer o livro-reportagem, terminei prestando, sem saber, um grande favor à literatura brasileira.
Neste momento, uma mão se ergue lá no fundo da sala: "Desembucha! O que foi que houve? Quer contar logo o que foi que aconteceu ?".
Quero: se eu tivesse feito o livro sobre Elza, teria produzido, apenas e tão somente, uma reportagem - ou uma série de entrevistas. É a única coisa que sei fazer. Um livro estritamente jornalístico sobre a garota Elza poderia, por sinal, ficar bom. Por que não ?
Mas Sérgio Rodrigues deu um passo adiante.
Diante da escassez de material jornalístico sobre o assunto, partiu para uma empreitada ousada: resolveu escrever um livro em que intercala o estritamente factual com páginas de ficção descarada.
Fez um golaço, porque a mistura entre fato e ficção foi felicíssima. Declaro, portanto, diante deste tribunal, que prestei um grande favor à literatura brasileira : ao recusar o convite para tocar o projeto, deixei, casualmente, o caminho "livre" para que um autor inspirado entrasse em cena e produzisse, a partir da história da garota Elza, uma mistura empolgante de ficção com verdade histórica, algo que eu jamais faria, por incapacidade técnica.
Dizei-nos, Paulo Coelho: a vida pode ou não pode ser uma miríade de acasos ?
O que interessa é que o livro "ELZA, A GAROTA", recém-lançado pela Editora Nova Fronteira, é arrebatador. Sérgio Rodrigues criou dois belos e apaixonantes personagens: Molina - um jornalista de quarenta e seis anos que já se deixara envenenar por uma mistura de "tédio e cansaço" - bate na porta de um apartamento de dois quartos, no bairro do Flamengo, à procura de um tal de Xerxes, um nonagenário que publicara um anúncio esquisito nas páginas de classificados de um jornal. Queria alguém que pudesse ajudá-lo a escrever suas memórias.
Um trecho:
"A primeira coisa que lhe chamou a atenção foi que o velho falava como se escrevesse, vírgulas e tudo. Tamanho poder de articulação era coisa de um outro tempo, e foi só então que a idade quase impossível do homem - noventa e quatro, estava no jornal - desabou na sala diante dele como um rochedo, um totem, uma pirâmide".
A partir daí, as 236 páginas passam voando.
Em uma frase: "ELZA, A GAROTA" é um dos melhores livros brasileiros lançados nos últimos tempos.
Feita esta declaração, o autor-que-foi-sem-nunca-ter-sido desliga o terminal de computador, apaga a luz, fecha a porta e, como na letra daquela música antiga de Paulinho da Viola, desaparece na "poeira das ruas", não sem antes recomendar aos navegantes : correi para as livrarias.
13 de março de 2009
9 de março de 2009
ANTES DO FIM
O MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DECIDIU PRORROGAR ATÉ 22 DE MARÇO A EXPOSIÇÃO DO ARTISTA PLÁSTICO VIK MUNIZ. DIANTE DISSO, O SOPA DE TAMANCO RESOLVE PUBLICAR PÁGINA DO DIÁRIO DE VIAGEM DO PINTOR RONALDO DO REGO MACEDO. A IMAGEM QUE ILUSTRA O POST É SUGESTÃO DO PINTOR.
O que é o poder da mídia, a força do mercado nesses tempos de descaminho!
Estive no MAM, onde fui ver a exposição de Vik Muniz. O museu estava cheio como poucas vezes acontece; o público, encantado, excitado por identificar os detalhes das obras. Mas a exposição é tremendamente monótona, enfadonha mesmo. Uma grande hipérbole fotográfica, uma piada que se repete, que se repete, se repete.
A construção das imagens, a produção das cenas são explicadas em detalhes: aqui, um desenho do Drácula de chocolate serve de modelo; ao lado, uma Marilyn de diamantes é o modelo da foto. Tudo é simulacro: o real esvaziou-se de realidade, passou a ser editado fotograficamente. Hipereditado, no Cybachrome da Kodak. O real foi completamente excluído. Ao mesmo tempo, todas as imagens fotográficas são facilmente reconhecidas: uma catedral de Monet, sua Japonesa, a Medusa de Caravaggio, uma paisagem de Nova Iorque, outra do Rio, trabalhadores num lixão para dar o tom social, retratos de Liz Taylor, Frankenstein, Santo Antônio, essas coisas.
É uma exposição espetacular. E fácil. Rasa. Lisa como uma folha de plástico, onde o artista passa ao lugar de diretor de arte competentíssimo e estratégico. O público, que inclui escolares, adora. Senhoras distintas que conhecem Louvres, MOMAs e Beaubourgs deliram com fina discrição. Tudo é facilmente reconhecido, perversamente vazio, sem alma, perfeitamente pós-moderno.
Vale a pena. Se você, prezado leitor, ainda não viu, não perca. Corra; a exposição está nos últimos dias. Depois, você nunca mais vai precisar ver de novo. Nunca mais.
11 de fevereiro de 2009
O DRAMA DE MORAR DIANTE DE UMA IGREJA: "O VERSO MAIS INTELIGÍVEL QUE ESCUTEI ATÉ AGORA FOI CANTADO EM ZÉ-RAMALHÊS ARCAICO"
Senhor meu Deus e meu Pai, Espírito Santo, Jesus, Criador Onipotente, Divino, Altíssimo, Maior de Todos, Fura-Bolo e Cata-Piolho, digo logo todas as vossas patentes, ó Deus, que é pra prece não ter erro e não vir ‘message delivery failure’, Senhor, que eu tampouco entenderia, ó Eterno, pois não domino o latim. Até bem pouco tempo atrás, meu Jesus, o mais próximo que chegava da eternidade era tentando acessar o site do Banco do Brasil, ó Deus. É bem verdade que passaria por experiência metafísica mais profunda, Criador, se depois de acessada a página do banco, esperasse ali até que surgisse algum dinheiro na minha conta, ó Senhor Meu Deus e Teu Pai, digo, ó Seu Deus e Meu Senhor, bem, ó Meu Seu Deus Senhor, ah, ó Uma Das Duas Coisas. Mas peço que desconsidere esta última carência de esperança, meu Batman Divino, porque para explicá-la teria de usar conceitos quânticos, Grande Luz, e meus conhecimentos na área só vão até a lei da gravidade, e mesmo assim quando estou deitado, ó Holy Cow. Fora isso, chegava muito perto da transcendência mística quando provava um pastel de Santa Clara, Cristo-Jesus, e já tive epifania uma vez com alho-poró frito ao molho de alcaparras, Santo Deus. Em suma, meu Delfim Netto do Ar, ainda que desconheça testemunho de fé maior que torcer pelo Sport, Jesus, a verdade é que nunca fora um homem religioso, Maomé. Analogia que nem bem se sustenta, porque todos sabem que o Sport disputa a Primeira Divisão há alguns anos e o Senhor, perdoando a franqueza e pedindo que não jogue um raio na minha cabeça como é de vosso santo costume, ó Generosíssimo, há pelo menos dois séculos que está na Segundona, Criador dos Céus, da Terra e da Julianne Moore. Admiro a fé do brasileiro e até acho, ao contrário de muitos, que faremos um papa um dia, Stephen King do Bem. Basta para isso que a estupidez ou a idiotia virem religião, Onisciente meu. Mas a verdade é que, em matéria de pátria espiritual, bem sabeis, Segunda do Plural, nasci dentro de um filme sueco, ó Bob Pai. Porém, há alguns meses moro diante de uma igreja neopentecostal, meu Pastor E Nada Me Faltará. E devo dizer que é inacreditável o poder que essas instituições têm de converter infiéis a Ti, ó Glória Aleluia Eparrê Três Toques Na Madeira. Fui convertido pela música, ó Abstração Antropomórfica. Imagine Vossa Transcendentíssima que a instituição, caridosa que é, conta com um coro de Gagos Traqueostômicos com Parkinson que é das coisas mais belas que apareceram no Hemisfério desde a gripe espanhola, ó Cristo. Faz lembrar Beethoven, ó Zana. Sobretudo pela vontade de ficar surdo que a gente tem ao ouvi-lo, ó meu Niemeyer Mais Novo. Se alguém duvida do Pentecostes, precisa vir aqui aos domingos, Pai. O verso mais inteligível que escutei até agora foi cantado em zé-ramalhês arcaico, ó meu Platão Para as Massas. E posso até estar enganado, mas acho que os cânticos deles, dada a clareza, são traduzidos pela ferramenta de idiomas do Google, Criador Meu. Em suma, ó Deus, quero dizer que me converti a Vossa Humilde Pessoa Infinita e Onipotente graças a esses abnegados cristãos, e agora me ajoelho aqui humildemente, ó Salgador da Mulher de Lott, pedindo que volteis, meu Cristinho Querido. Ó Nazareno, vós que morrestes na cruz, bem sabeis o que é a tortura, e olha que naquela época nem existia o horário nobre da TV. Senhor meu Deus e meu Pai, volta logo, meu Deus, para que não tenha que ouvir ganidos às dez da noite, e possa ter paz, ó Antonomásia Maior. Que venha o Vosso Reino, Jesus, e a gente aqui em casa não caia em tentação e acabe arrancando os tímpanos com um alicate de unha. Que seja feita minha vontade, aqui na sala como no quarto, e prometo até parar de ler Voltaire e escutar um disco inteiro de Frejat, ó Pai. Aleluia Deus, Amém, Para Sempre Seja Louvado, Te Deum Laudamus, De Rerum Natura, Santo, Santo, Santo, o Jipe do Padre Fez um Furo no Pneu, sem mais subscrevemo-nos etc., ect.
8 de fevereiro de 2009
O LAMENTO DE NÉLSON RODRIGUES: FALTA APELO DRAMÁTICO À NOSSA REALIDADE. POR QUE SERÁ QUE NINGUÉM HOJE QUER MORRER, NINGUÉM HOJE QUER SE SUICIDAR ?
"Agora, a nossa realidade está realmente muito pobre, muito vazia, sem um certo apelo dramático. Ninguém hoje quer morrer, ninguém quer se suicidar !"
"A ALEGRIA DOS BRASILEIROS NUNCA PASSOU DA MAIOR LENDA URBANA DO MUNDO"
A verdade é que eu sempre acreditei que a alegria dos brasileiros, seja por suas gentes rebolando no carnaval e nas praias, nunca passou da maior lenda urbana do mundo.
Lenda urbana sem óleo de bronzear e com lança-perfume.
Somos fundamentalmente tristes. O produto de três raças tristes. Na frase célebre e discutida frase de Paulo Prado.
Só o fato de discuti-la me parece de uma tristeza infinita.
Cansei, pois, de nossas tristezas. Em busca de uma certa sobriedade, um devido meio-termo, nos anos 30 de minha existência, vim para Londres.
Tudo bem. O corretivo funcionou. Parece que até demais, fico sabendo agora.
"POR FAVOR, TENTEM DAR UM SOQUIHO NA MINHA BARRIGA. OUVIRAM UM SOM ESTRANHO? É QUE HÁ UM REI DENTRO DELA"
Às vezes sinto o impulso de confessar algo vergonhoso, como por exemplo – e é verdade – que gosto de filmes com Julia Roberts e Sandra Bullock – não, que amo esses filmes - e que gostei de As Panteras II – como não gostar de Cameron Diaz dançando e tropeçando? Sério que não sei como -, mas daí sei que corro o risco de parecer gente como a gente, ou pior ainda, de parecer que estou querendo parecer com gente como a gente – como essas pessoas que sempre repetem que estão acima de discussões políticas porque estão mais interessados nos seios da mulher da padaria, ou qualquer outra coisa vulgar assim que essa gente adora. E tenho nojo de gente como a gente. Por favor tentem dar um soquinho na minha barriga – ouviram um som estranho? É que há um rei dentro dela.
O DIA EM QUE MINHA JAQUETA DE COURO IMAGINÁRIA DESAPARECEU PARA DAR LUGAR A UMA TÚNICA BRANCA
( texto completo em http://bloglog.globo.com/fernandoceylao )
Sexualmente nula, foi assim a minha primeira vez. Conversamos por trinta e sete minutos. E ao final, ela disse que eu era muito educado. Esse elogio fez a minha jaqueta de couro imaginária desaparecer e dar lugar a uma túnica branca. Ouvir alguém dizer que você é educado depois de fazer sexo é péssimo. Voltei pra casa me sentindo uma dama. Eu demoraria pra entender que a vitalidade de primeira é pra poucos.
Eu nunca consegui fazer sexo sem pensar naquela lente de contato colorida. Sempre, sempre lembro dela. Da cor. Do efeito que ela causava, dando um caráter velado e sem brilho pro olhar da prostituta tijucana. Naquela noite eu e a linda virgem combinamos o programa que nos era permitido pela mãe castradora, ir ao cinema. “Como água para Chocolate” havia saído de cartaz. Fomos ver “Perfume de Mulher”. E eu não perdi um só minuto do filme do Al Pacino cego e ganhador do Oscar. Eu não precisava mais abandonar o amor pelos filmes na batalha pelo amor proibido. Ao sair do cinema, imitava um dos meus maiores ídolos de todos os tempos.
- Whoo-ah.
E eu era feliz.
7 de fevereiro de 2009
ATENÇÃO! UM LEVE ABALO SÍSMICO ATINGE A ABADIA DE WESTMINSTER. É LAWRENCE OLIVIER SE REVIRANDO NO TÚMULO A CADA VEZ QUE UM ATOR CANASTRÃO ABRE A BOCA
O Sopa de Tamanco abre o voto: José Wilker. É absolutamente improvável que, nos próximos decênios, surja em algum ponto do planeta terra um ator tão canastrão.
Deus do céu: o que são aqueles olhos que sempre ficam semicerrados em cena, como se estivessem tentando enxergar uma agulha no chão? Se tal movimento das pálpebras foi concebido para dar expressão e profundidade às falas, devo dizer que a tentativa não funcionou. Não poderia funcionar.
(Uma informação sísmica: a cada vez que tais trejeitos aparecem na tela, há um leve tremor de terra nos arredores da Abadia de Westminster, em Londres. É Lawrence Olivier se revirando no túmulo, abismado com a profundidade do poço em que a arte de representar foi jogada nestes confins da América. Tais abalos sísmicos se repetem com notável frequência a cada vez que sumidades como Victor Fasano, Humberto Martins, Vera Fischer ou José de Abreu - pateticamente embrulhado numa túnica branca na novela da oito - abrem a boca ou se movem em cena. O governo inglês já pensa em enviar uma carta formal de protesto à embaixada brasileira em Londres. De tão repetidos, os abalos já começam a comprometer as estruturas da portentosa edificação).
Quanto ao voto do Sopa de Tamanco para o ator JW: o que dizer da coleção de óculos? E o gestual ? E a entonação ? E a pretensão? O Canal Brasil exibiu o filme "O Maior Amor do Mundo". A atuação do rapaz é um monumento audiovisual completo, definitivo e insuperável à canastrice. Não há nada igual. Nunca houve. Jamais haverá.
PS: A bem da verdade, há, sim. Podem convocar uma junta formada por luminares agraciados com nobéis de Química, Física,Literatura e Medicina. Nenhum dos gênios seria capaz de decifrar o significado oculto da expressão de eterna catatonia que Vera Fischer exibe, há anos, nos vídeos e nas telas. Se ficassem confinados num quarto contemplando vídeos das atuações de VF, cedo ou tarde os luminares seriam obrigados a dar por encerrados os trabalhos, porque chegariam à conclusão de que a Ciência simplesmente ainda não dispõe de meios confiáveis para explicar o que se passa no espaço entre a testa e o queixo da atriz quando ela começa a representar. O mistério permaneceria intocado. Em compensação, as pedras de Westminster balançariam dia e noite.
A TV FALA AO TELESPECTADOR COMO SE O TELESPECTADOR FOSSE UM BEBÊ DEITADO NUM CARRINHO: "GUGU-DADÁ-NANA-NENÉM"
"Você por acaso já notou que, em noventa por cento dos casos, a TV, especialmente a aberta, se dirige ao telespectador como se ele fosse um débil mental ou, na melhor das hipóteses, uma criança de um ano e cinco meses incompletos ?".
Depois de treze segundos e meio de profunda reflexão, fui obrigado a concordar.
O amigo deu exemplos "a mancheias".
Arrematou:
"Pode ver que, na grandessíssima maioria dos casos, a TV fala ao telespectador como se o telespectador fosse um bebê deitado num carrinho. O adulto se debruça e começa a produzir sons absolutamente ridículos, sem qualquer sentido, para tentar uma comunicação com o pobre coitado. O bebê contempla a cena patética. Se pudesse falar, diria: "Que grandessíssimo idiota é esse?". Como não fala, acompanha, em silêncio, aquele espetáculo deprimente de frases capengas, caretas, trejeitos. É exatamente o que acontece com a TV! Já notou que, até na hora de dar boa-noite, a TV trata o telespectador como se o telespectador fosse um debilóide? São sempre aquelas frases tatibitates, pronunciadas em tom pretensamente simpático... Só faltam nos dizer: "Agora, o bebezinho vai memê o jantar pra depois ir mimi...". Em duas palavras: não dá".
Concordei em silêncio, como se fosse o bebê. Mas não imaginei nenhum insulto ao meu amigo, pela simples razão de que ele estava certo, certíssimo, absolutamente certo no que dizia.
O FIM DA CIVILIZAÇÃO: CHAMARAM IVETE SANGALO PARA FALAR DE MACHADO DE ASSIS NA TV!
VISITANDO MACHADO DE ASSIS NO INFERNO
Já contei sobre o que me ocorreu no dia do centenário de morte de Machado de Assis? Se contei, repito, porque a memória de vocês é péssima. O que muito certamente decorre do hábito de lamber papel de seda. Segundo pesquisas recentes, o contato da saliva com o papel de seda é a segunda maior causa de perda de memória em todo o mundo. A primeira, claro, é eleger-se para cargo público.
Digo, portanto, o que me ocorreu. E é simples: nasci, como vocês, na República Federativa do Clichê. Ora, países erguem monumentos a seus artistas maiores ou constroem museus em sua homenagem. Já aglomerados de mestiços com certa tendência a batucar em caixas de fósforo e alguma propensão ao roubo, como o nosso, fazem algo mais cordial: para homenagear o único gênio que conseguiram produzir - certamente graças ao reumatismo de algum cegonha que evitava climas frios -, assassinam suas criações em minisséries ou põem especialistas em literatura como Ivete Sangalo em seu principal telejornal para falar sobre como Machado era jóia, meu nego, oxente, lindo, n’era não?
Vi aquilo e, meia hora depois, quando com a ajuda de minha mulher e de um pé-de-cabra consegui repor o queixo no lugar, resolvi fazer a única coisa que me restava, já que tenho terrível alergia a alojar balas nas têmporas: visitar o Velho e saber dele se tinha visto o que vi e o que achava de tudo aquilo.
Ora, vocês que além de desmemoriados são de uma ignorância de apresentadora de TV, não sabem. Mas o Aqueronte é um dos afluentes do Tietê e, como tal, leva ao inferno (não me refiro, óbvio, à Marginal). Logo, coloquei minha roupa de Teseu, que deixo preparada especialmente para essas ocasiões, peguei o ônibus 875M e, saltando, desci até o ponto exato em que o rio se abre para dar passagem a seres mitológicos e obras do metrô (não revelo a localização para que amanhã não apareça por ali uma série de sujeitos vendendo churrasquinho, tocando axé music e gritando: “Inferno é dez real! Tá acabando, bora! Inferno é dez real!”) e prossegui em minha peregrinação para o reino de Hades, eu e mais três cocôs que conheci no caminho.
Para encurtar: ao final de uma longo trajeto me vi diante de duas placas - à esquerda, Inferno Cristão; à direita, Hades. A entrada do inferno cristão era toda revestida de mármore italiano, contava com porteiros de libré e ar-condicionado central. A do Hades era uma picada coberta de sapos e até o Lasciate ogni speranza voi que entrate estava com as letras apagadas. Vejam vocês o que dois mil anos de cristianismo não fazem com a cultura.
Passei por Cérbero, que apenas miou, desdentado, e segui para a margem do rio, onde Caronte recolhia os mortos. Aproximei-me do velho barqueiro e lhe entreguei duas moedas de cruzados novos. Então percebi que o homem na verdade era Borges, o que me deixou alegre com a ironia, por um lado, e preocupado com a viagem, por outro, pois o barco seria obviamente guiado por um cego. Por via das dúvidas, roubei uma das moedas de volta.(CONTINUA)
2 de fevereiro de 2009
FESTIVAL MAX NUNES - 5
FESTIVAL MAX NUNES - 4
FESTIVAL MAX NUNES - 3
FESTIVAL MAX NUNES - 2
29 de janeiro de 2009
ERA LEGÍTIMO?
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090127_sofahomem_ac.shtml
27 de janeiro de 2009
CORREÇÃO
O Sopa de Tamanco noticiou no mês passado, e em primeira mão, que a estátua de Drummond em Copacabana passaria a usar lentes de contato. A informação estava errada.
O poeta preferiu continuar com seu já tradicional óculo. Consta que para evitar constrangimento. As autoridades agradecem a compreensão.
Mas há quem garanta: Drummond está usando lente, sim. Uma só.
26 de janeiro de 2009
DUAS HORAS SEM RESPIRAR! AH, QUEM DERA....
Fecham os olhos, param de respirar : quem olha pensa que estão mortos.
Duas horas sem respirar ! E de olhos fechados!
Confesso que morro de inveja dos crocodilos de água salgada.
Porque, se pudesse, eu também passaria duas horas de olhos fechados e sem respirar assim que começasse o Big Brother Brasil na TV.
Quando eu voltasse à tona, com certeza seria um ser humano melhor.
25 de janeiro de 2009
SAMBALÊLÊ
Apoiado!
....Mas o que dizer dos "sambas de enredo" ?
Pergunto-me: o engenho humano será, algum dia, capaz de produzir algo tão chato quanto ?
Duvido. São versos sem pé, sem cabeça e sem beleza, repetidos incessantemente por uma hora e meia, duas horas.
De vinte em vinte anos, um refrão se salva. Façam as contas. Não estou exagerando.
É por essas e outras que pretendo passar o carnaval numa cela desativada de Guantánamo.
É dez vezes mais divertido.
SOCORRO! HELP! VÊM AÍ AS MARCHINHAS DE CARNAVAL!
Porque vêm aí aqueles temidos concursos de marchinhas de carnaval: um lastimável desfile de melodias primárias e letras paupérrimas, em geral embaladas por trocadilhos infames e piadinhas machistas.
Marchinha de carnaval: coisa típica de sessentões de cabelo pintado, barriga proeminente e senso de ridículo nulo.
Deus, protegei nossos ouvidos.
Tais concursos podem sem listados, sem margem de erro, entre as mais baixas manifestações da "cultura" brasileira.
Mas é claro que há horrores piores.
Ontem à noite, ao zapear pelo lixo televisivo, o olheiro do Sopa de Tamanco viu, no canal 17, uma cena inenarrável: um sujeito de bandana cantava animadamente aquela música que diz "meu-iá-iá-meu-iô-iô".
Detalhe: o elemento requebrava os quadris. Com certeza, julgava-se "sexy".
Imaginem, por um instante, o resultado da conjunção entre melodia, bandana e letra. O resultado: o horror, o horror, o horror.
O grande e único problema da humanidade é que estes bípedes se alistam entre
os que, desde a mais tenra idade, se mostram incapazes de praticar um exercício que lhes garantiria pelo menos um instante de clarividência e iluminação.
É assim: primeiro, deveriam se postar diante de um espelho. Em seguida, com voz pausada, com cuidado para pronunciar cada sílaba com a devida clareza, deveriam recitar o mantra:
"Senhor dos céus: um dia, nasci. Respondei: por quê ? Para quê ? Em nome de quê?".
O silêncio da resposta se derramaria sobre todas as bandadas - e se estenderia por todos os séculos.
23 de janeiro de 2009
JUMENTO CONFESSO
22 de janeiro de 2009
ERRO DE DIGITAÇÃO ACONTECE NAS MELHORES FAMÍLIAS E NOS PIORES BLOGS: "SOU INOCENTE", GRITA O REDATOR, ENQUANTO É LEVADO PARA O CADAFALSO
Ou seja: parecia ser o caso de sujo falando de mal lavado.
Mas não!
Dessa vez, o que aconteceu foi puramente um erro de digitação.
É facílimo checar: em posts anteriores, a palavra tinha sido escrita corretamente inúmeras vezes. O Sopa de Tamanco não seria capaz de confundir "vos" com "voz".
Se confundisse, a redação desabaria. O autor do absurdo seria expulso do ambiente a chicotadas, sob aplausos. Nosso chefe imaginário aparecia na porta com um cinturão de balas pendurado nos dentes, duas bombas na mão esquerda e uma metralhadora giratória na direita.
Fuzilaria, sem piedade, o autor de tal absurdo, se o absurdo tivesse sido cometido. Mas não foi.
Tudo não passou de um tropeço involuntário - apenas um "z" digitado no lugar do "s" - na longa, árdua, terrível, acidentada e infinita batalha contra o Festival de Jumentalidades que Assola o País.
Aqui, ninguém diz "sombrancelha" nem "o óculos".
O último que disse foi imolado diante dos colegas: teve de engolir, página por página, um exemplar inteiro do Dicionário Houaiss, até tombar, inerte, vítima de indigestão tipográfica.
Quando nosso chefe descobriu que a vítima do castigo não fazia parte do exército de combatentes do Sopa de Tamanco (era apenas um contínuo que veio perguntar se alguém queria comprar "um óculos de sol"), era tarde. O castigo já tinha sido, injustamente, aplicado. Como consolo, o chefe providenciou uma cremação de luxo para o contínuo. A solenidade foi abrilhantada por um idiota tocando músicas de Roberto Carlos ao piano. Inesquecível.
O sacrifício de um inocente é sempre motivo de justa lamentação. Mas, como nem tudo se perde, a redação do Sopa de Tamanco guardará, por toda a eternidade, a lição e o exemplo: é assim que nosso chefe trata os que tratam o idioma pátrio a pontapés.
Nossa redação aprendeu, ali, que um país se faz com homens e livros - pouco importa que sejam homens inocentes devorando livros indigestos como castigo.
Assim, a atenta leitora do blog do nosso colega Vasconcelos pode ficar tranquila: tudo não passou de um lamentável - se bem que banal e compreensível - erro de digitação.
Como disse um javali dez segundos antes de ser devorado por um tigre gigantesco num daqueles documentários do National Geographic : a luta continua.
UM TIMAÇO DE ENTREVISTADOS ENTRA EM CAMPO!
ENTREVISTA COMPLETAS COM NELSON RODRIGUES, CHICO BUARQUE, IVAN LESSA, PAULO FRANCIS, CARL BERNSTEIN ( O REPÓRTER QUE DERRUBOU UM PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS), JOÃO SALDANHA, PELÉ, FRANCISCO JULIÃO ( O LÍDER DAS LIGAS CAMPONESAS DOS ANOS SESSENTA), LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA ( AINDA SINDICALISTA), JOSÉ SARAMAGO ETC.ETC.ETC.
O MAPA DA MINA:
http://www.geneton.com.br
E MAIS:
*A VERDADE SOBRE COMO BRIZOLA SAIU DO BRASIL EM 1964: A PALAVRA DA ÚNICA TESTEMUNHA OCULAR DA CENA!
*A CONFISSÃO FINAL DE JÂNIO QUADROS SOBRE A RENÚNCIA: DOENTE, NUMA CAMA DE HOSPITAL, ELE REVELA TUDO AO NETO
*A INCRÍVEL HISTÓRIA DO ÚNICO BRASILEIRO QUE VIVEU A GLÓRIA DE MARCAR UM GOL NUMA FINAL DE COPA DO MUNDO DIANTE DO MARACANÃ LOTADO. DEPOIS DE PERDER A COPA, ELE TEVE UMA CRISE DE AMNÉSIA"
JOGADOR NÃO PRECISA NECESSARIAMENTE FALAR INGLÊS. PRECISA JOGAR. MAS.....
MAS NÃO.
O ELEMENTO FALOU EM INGLÊS.
JUMENTALIDADE!
PEQUENA PAUSA NA CAMPANHA CONTRA A JUMENTALIDADE : UM DESPACHO DO CAMPO DE BATALHA NA GUERRA CONTRA.....MOSQUITOS!
Aqui em Santa Cecília a natureza é fértil e abundante: acordamos com o trinar bucólico dos ônibus, vamos dormir com o melodioso piar da banda Kalypso no bar da esquina e ao cair da tarde temos epifanias escutando o afável gorjear dos vendedores de ovo e laranja.
Não raro, um carro equipado com Car System se perde do bando e nos embala com seu doce chilrar, característico das aves canoras, que se prolonga infinitamente até que a gravação fique rouca ou comesse a tossir.
De madrugada, somos despertados pelo suave farfalhar dos travestis e seu coro harmônico, insultando os clientes em lúdicos concertos de palavrões. No horário do almoço, a fagueira horda de passantes invariavelmente solta seus guinchos graciosos, repletando nosso espírito ao som de: “Assalto! Pega! Ladrão!”
Também temos nossos quadrúpedes, como o dono da oficina aqui do lado e seu salutar costume de testar motores à meia-noite. Além de nosso vizinho de cima, que pelos agradáveis barulhos que produz deduzimos trabalhar com adestramento de elefantes.
Logo se vê, portanto, que sou pessoa acostumada a conviver com animais, tendo inclusive o hábito de visitar meu cunhado nos finais de semana. Contudo, talvez por ter nascido pouco depois do paleolítico, desconhecia as dificuldades de socialização com criaturas pré-históricas, caso dos pernilongos de nosso bairro.
Comecei a achar que os pernilongos de Santa Cecília não eram mosquitos como quaisquer outros quando, certo dia, passei repelente para me proteger e um deles morreu. De rir. Com o hábito, descobri que os bichinhos não só comem o produto, como dão preferência aos da Johnson.
Para terem uma idéia da gravidade do problema, digo tão-somente que toda vez que essas afáveis criaturas aparecem por aqui, escuta-se a trilha sonora dos Gremlins. Quando fazem vôos de reconhecimento, trauteiam a Cavalgada das Valquírias. E outro dia pequei uma lendo o meu Petrônio.
Já tentei de tudo para mantê-las afastadas. Dentre outras coisas, distribuí dezenas de incensos pela casa, mas fui vítima de um terrível efeito colateral — comecei a cantar Hare Hare, Hare Krishna — e parei. Procurei usar então aqueles aparelhinhos com pastilhas e descobri que 35 enfiados em todas as tomadas e benjamins nossos, mais dois ou três do vizinho, resolviam. Porém, desenvolvi intensa alergia às contas de luz. Como último recurso, coloquei o disco natalino da Simone. Elas gostaram.
De maneira que desde que o verão começou venho distribuindo meu tempo entre coçar a pele, ver bolhas vermelhas crescerem e ler e reler o Gênesis, xingando de trás para frente, na versão católica e na luterana, toda a genealogia de Noé.
Especialmente ontem, tenho certeza de que os insetos vieram aqui para casa depois de fumar maconha, porque estavam obviamente de larica. Notei que haviam ultrapassado todos os limites ao ver um deles com turbante e camisa do Bin Laden, e resolvi ligar para a portaria:
— Antonio, você por acaso não teria aí um revólver?
— Vixe Maria, seu Marcônio, tá brigando com o pessoal da igreja de novo? — perguntou o porteiro, um rapaz muito prestativo, recém-chegado de Marte e, ao que parece, sofrendo ainda com o jet lag.
— Revólver, eu disse, não bazuca. É pros mosquitos. Tem ou não tem? Fala logo que desde Antonio até bazuca já engoli dois.
— Muriçoca? Ah, seu Marcônio, mas isso de muriçoca é só a gente não dar atenção.
Eis aí, gente esnobe, quanto vale a ciência popular. Graças às palavras desse ente evoluído, venho me dedicando à grata tarefa de fingir que não vejo os mosquitos ou de desviar o assunto para política quando me mordem: “Bem, como dizia Hobbes, o homem é o mosquito do homem” etc.
E desde que passei a empregar o artifício, a situação melhorou bastante. As picadas continuam as mesmas, é verdade, mas já consegui que os bichinhos, em crise de consciência, devolvessem minha mulher e a geladeira.
UM CLÁSSICO DA JUMENTALIDADE : A INCRÍVEL RESPOSTA DA CANDIDATA EM BUSCA DE UM PRÊMIO
O apresentador pergunta:
"Que órgãos humanos ficam alojados em cavidades ósseas chamadas órbitas ?"
A candidata responde:
"Astronautas!"
Aconteceu. Não é lenda.
O SOPA DE TAMANCO RECEBE A ADESÃO DO BLOG DE NELSON VASCONCELOS NA CAMPANHA NACIONAL CONTRA A JUMENTALIDADE ! JOVEM, ALISTE-SE NESTAS FILEIRAS!
O endereço:
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/
Sério: toda vez que o blog de Nelson faz uma citação dessas, o número de acessos do moribundo Sopa de Tamanco dá um salto.
Como se diz lá em Caruaru, "thank you very much, my friend!".
Quando nossa assembléia de acionistas se reunir no fim do ano para tratar da distribuição de lucros, o nome do patrono Nelson Vasconcelos será lembrado:
um panetone em boas condições de uso será devidamente despachado para a redação do Globo.
Nelson também ficou vivamente impressionado com a comovente demonstração de jumentalidade feita por uma atendente do serviço telefônico do Banco do Brasil:
a sumidade encerrou o atendimento porque um dado fornecido pelo cliente durante os "procedimentos de segurança" estava em contradição com os registros do banco.
(ver post abaixo: atendimento telefônico do Banco do Brasil bate recorde mundial de jumentalidade)
O cliente teve de ir pessoalmente à agência para esclarecer a situação.
O gerente acessou o sistema.
Os dois - o cliente e o gerente - arregalaram os olhos, espantados, ao descobrirem que, no registro do atendimento, a moça informara o motivo da interrupção:
o cliente informara que nascera "no Recife". Mas a ficha dizia que ele tinha nascido "em Pernambuco".
Em resumo: a moça achava que Pernambuco era o nome de outra cidade - que nada tinha a ver com o Recife....
A jumentalidade triunfa de novo.
Um dos leitores do blog de Nelson Vasconcelos faz uma interessantíssima divagação sobre jumentalidade, cavalice, asnice e coisas do gênero.
Não percam.
É hora de deflagrar uma campanha nacional contra as demonstrações de jumentalidade.
O Sopa deTamanco não foge à luta: nestes últimos dias, nosso bravo site denunciou o anúncio de Gula Fruts em que a atriz Carolina Dieckmann pronuncia, com toda clareza, uma palavra que jamais existiu: "sombrancelha!".
Dá pena: como é possível que não tenha aparecido uma alma caridosa para dizer, ao diretor do comercial, à atriz, à equipe, que o certo é "sobrancelha" ?
Mas a jumentalidade vai ao ar, em horário nobre!
Quem terá sido capaz de produzir um anúncio em que se pronuncia tal absurdo?
Igualmente, o Sopa de Tamanco denunciou um site que publicou, na manchete,
uma aberração: "o óculos".
O guerrilheiro do Sopa de Tamanco ligou para o site! A moça que atendeu pronunciou a frase que entrou para os anais do jornalismo virtual brasileiro:
"Mas aqui a gente usa assim: "o" óculos!".
Ou seja: a sumidade não fazia idéia de que dizer "o óculos" é, como bem lembrou outro post aqui do Sopa, a mesmíssima coisa que dizer "a casas".
Jumentalidade em estado bruto!
Mas o erro foi corrigido.
Volaremos a informar, a qualquer momento ou em edição extraordinária.
Sim, também cometemos nossas jumentalidades.
Mas nossos exércitos esfarrapados lutarão até o último homem contra a jumentalidade, a asnice, a cavalice e a toupeirice que consomem o Brasil como se fossem ervas daninhas!
"Sombrancelha" não! "O" óculos não! Dizer que Recife não é Pernambuco não!
Nossos canhões entrarão em ação em resposta a agressões infames como estas!
Não passarão!
21 de janeiro de 2009
DE ACCÔRDO
SOBRE CETÁCEOS (E ALGUMAS CADEIRAS)
ANIMAR PASPALHOS NA DISNEY É SINAL DE INTELIGÊNCIA SUPERIOR OU DE ESTUPIDEZ INCURÁVEL ?
O locutor informa que os golfinhos são "muito inteligentes".
Imediatamente, uma dúvida devastadora sacode meus mares interiores:
quais são, afinal, os tão falados sinais de inteligência dos golfinhos ? Passar a vida se movimentando pra lá e pra cá no fundo do mar, sem destino certo, é sintoma de inteligência refinada ?
Pior: que tal ficar divertindo platéias de paspalhos na Disney ?
É o que os golfinhos fazem, há décadas, sem reclamar.
Cabe a pergunta: tais atitudes não seriam indícios claríssimos de estupidez ?
Eu cravaria, sem dúvida nenhuma: são, sim.
ATENDIMENTO TELEFÔNICO DO BANCO DO BRASIL BATE RECORDE MUNDIAL DE JUMENTALIDADE : "CLIENTE NASCEU NO RECIFE, NÃO EM PERNAMBUCO!"
(aliás, por que não ?)
O abaixo assinado acaba de ser vítima do mais espetacular caso de ignorância já registrado num atendimento telefônico de um banco.
A atendente do Banco Brasil faz as perguntas de praxe, em nome da "segurança" do cliente.
Lá pelas tantas, interrompe o atendimento. Diz que tenho de ir à agência. "Há um dado que não coincide com o cadastro".
Uma dúvida assola este pobre cliente: que erro tão absurdo eu terei cometido ? Terei me esquecido do meu nome ? Terei dado o número de telefone errado ? Terei confundido o nome da minha mãe ?
Peço que a atendente me informe qual foi o meu erro. Mas ela insiste: terei de "comparecer pessoalmente" a uma agência.
Compareço. Perco uma hora do meu tempo.
O gerente acessa o registro do atendimento feito por telefone.
E eis que se materializa diante de nossos olhos incrédulos um dos mais formidáveis casos de jumentalidade(*) já cometidos por uma atendente:
lá, ela informa que o atendimento tinha sido interrompido porque eu informei que tinha nascido "do Recife". Mas, no cadastro, consta que eu tinha nascido "em Pernambuco".
Ou seja: a distinta anta acha que existe uma cidade chamada Recife e outra chamada Pernambuco.
Nem desconfia de que quem nasce no Recife nasce, "automaticamente", em Pernambuco!
Célere, ela interrompeu o atendimento.
Não pude fazer a operação bancária por telefone simplesmente porque a cavalgadura acha que Recife é uma coisa; Pernambuco é outra, completamente diferente.
A bem da verdade, devo dizer que notei uma sombra de constrangimento no olhar do gerente que me atendeu pessoalmente: ele também ficou espantado ao descobrir que um atendimento telefônico fora interrompido porque uma funcionária achou que "Pernambuco" era o nome de uma cidade e "Recife" de outra.
Agora, quando precisar do atendimento telefônico, passarei a relinchar assim que ouvir o "alô" do outro lado.
Somente assim serei perfeitamente compreendido.
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(*) Aos não familiarizados com o reino animal: "jumentalidade" é uma gradação da "cavalice". A diferença é que a cavalice em geral vem acompanhada de maus modos.
Já a jumentalidade é uma demonstração escandalosa de ignorância: pode ser exercida da maneira mais suave possível, como é o caso da atendente que tomou providências urgentes porque achava que Recife não fica em Pernambuco.