26 de setembro de 2008

EMBATE CLÁSSICO NA TV

— Nesse momento, os dois contendores adentram a arena. À direita de sua tela, Aristófanes, vestindo sua habitual pele branca com pêlos claros. E, à esquerda, Virgílio, com sua pele mais escura, de pêlos negros. Alguma informação, Tucídides?
— Bom dia, Tito Lívio, eu estou aqui com o veterano Aristófanes, que tenta manter a coroa de louros. Ari, o que você espera da luta de hoje?
— Só digo o seguinte: vou bater tanto que nem com toda a maiêutica Sócrates vai conseguir tirar os dentes de dentro dos pulmões.
— Bom, bem… Mas… Seu contendor é Virgílio…
— Tanto faz. Adversário é que nem discurso de Cléon: tudo igual.
— Virgílio se diz bem preparado e garante que entrará em Roma em triunfo.
— Retórica barata. Vou fazê-lo cair das nuvens. De tanto apanhar, vai sair daqui se sentindo uma rã. Vou esmagá-lo como uma vespa. Nunca mais vai encontrar a paz. Quando vir seu estado, sua mulher vai fazer uma greve de sexo. Em suma, vão acabar dizendo que ele é mais efeminado que Eurípides.

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Julian Gough

Novelists need a range of modern, enlightened patrons. A bunch of Borgias. We need a system (online, worldwide) to match patrons and artists, setting out mutual obligations, allowing different models to be tried. The university system is doing her best, trying to be a nourishing mother (the original meaning of alma mater), but she's smothering her most beloved children.

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DOIS PERSONAGENS EM BUSCA DE SE LIVRAR DE UM AUTOR

Muito se glosa (com “l”, que é quando se glosa mais glostoso) a questão…
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Muito se glosa — dizia eu, antes de ser interrompido pelo idiota que escreve os parênteses deste blog e que, tão-logo o encontre na região de minha psique onde se oculta há mais de trinta anos, extirpá-lo-ei com mesóclise, Id e tudo — a questão do…

Perdão. Exaltei-me. Muito se glosa, repito (se repetir mais uma vez, eu volto), deixando no parágrafo anterior o segundo imbecil da variada fauna de pascácios que em minh’alma habita, adepto do travessão, e que igualmente me impede de prosseguir com o texto, o que me…
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Bom, esqueçam. Dizia que muito se glosa (eu avisei! O sujeito usa um recurso literário pobre como esse do monólogo interior, que impregna horrivelmente nossa baixa modernidade e ainda tem coragem de chamar alguém de idiota! E outra: fique sabendo que a azêmola, no caso, inserida em minha mente, é você, e não o contrário)…

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23 de setembro de 2008

A ESTUPIDEZ TAMBÉM É UMA FORMA DE ARTE

Nos momentos em que, saindo de seu natural, um espírito superior é obrigado a deparar com a canalha humana e ouvir suas singelas parvoíces — por exemplo, em filas de cinema —, razões fisiológicas ou psíquicas de momento podem determinar três reações, basicamente: enfado, compaixão ou asco.

Quando, porém, a alma refinada caça um pascácio em púlpito iluminado, a relinchar como potro recém-amansado, já de óculos e diploma da USP sob um dos cascos, evento inteiramente diverso ocorre: o júbilo mais perfeito, o ápice da ventura moral — em suma, uma profunda e, como tal, gratificante experiência estética.

Gozo esplendoroso do tipo me ocorreu ao ler recentemente, naquele panfleto socialista americano, The New York Times, um artigo sobre a redescoberta e imediato reenterro de Machado de Assis, que terá lixo em película exposto em sua homenagem na maior metrópole chicana do mundo.

Apesar de escrevinhado em proto-inglês de estivador jamaicano, o artigo tem a qualidade de alinhar elogios de Harold Bloom, Susan Sontag (mulher, mas lia), Philip Roth e algumas outras figuras, maiores, menores e até ínfimas, como o pseudopoeta Allen Ginsberg, ao escritor brasileiro. Opinião consensual: trata-se de um gênio. Para alguns, o maior da América Latina, para outros comparável a Kafka etc. Enfim, o óbvio para qualquer um que não seja brasileiro.

Já um pouco enojado, meditava sobre as diferenças entre seres culturais e amebas: a Espanha envencilhou Cervantes e iniciou uma tradição literária, a Alemanha fez o mesmo com Goethe, Portugal com Camões, Inglaterra com Shakespeare. O Brasil aferrou-se a Joaquim Maria e também encetou uma tradição literária: com José de Alencar.

Pensando nisso, enfim, preparava-me para cerrar a página quando, bocejando, encontro a pérola, o velocino de ouro, a cabeça de Medusa, o parágrafo que desencadeou em mim as infindáveis sensações de arroubo descritas no primeiro parágrafo deste texto, como se estivera diante dos vitrais de Chartres, pouco antes do crepúsculo, degustando um bom Chablis:

Enthusiasts in the United States and Britain “are making Machado appear less and less like Machado,” the critic and author Antônio Gonçalves Filho argued last month at a symposium in São Paulo. “Actually, they are making the writer white, like Michael Jackson. All of a sudden, he’s become ‘universal.’ ”

Que argumentar? Há dessas estultices tão bem-acabadas, tão compactas, incisivas e poderosas, tão reveladoras do imperfeito maquinismo intelectual de quem a emitiu e do baixo estrato mental a que se filia seu autor, que nos provocam uma exultação sublime, um prolongado prazer, uma inextinguível alegria, como se tivéssemos acabado de ler um punhado de versos de Aristófanes ou Shakespeare, e nos tornam durante alguns minutos absolutamente incapazes de nos mover ou falar.

Salvei o artigo no computador e desde então o tenho relido, sempre desfrutando do mesmo regalo, com aquele sorriso de quem, ao levar o filho ao zoológico, de repente, num insight, ao olhar para a jaula dos macacos e vê-los atirando fezes nos passantes, ergue a coluna e caminha mais firme, sentindo-se feliz por, apesar de tudo, ser humano.

22 de setembro de 2008

SOGRA

A Igreja precisa manter a coerência. Ora, se o ato de falar ininterruptamente, aos berros, uma série de frases sem sentido a levou a adotar o Pentecostes como dia santo, nada mais justo que minha sogra seja canonizada.

Minha sogra fala tanto que quando vai a reuniões com as amigas carrega um Aurélio consigo, para o caso de faltarem palavras.
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DIFICULDADES DA VIDA MODERNA

— Nessas horas é que era bom ser Jesus.
— Que foi que cê disse?
— Jesus ou o Gorpo, do He-Man. Qualquer criatura dessas que têm o poder de fazer as coisas levitarem.
— Até onde sei, a única coisa que Jesus tem o poder de fazer levitar é o volume do som da igreja aí da frente. Você tá dizendo isso porque tá com preguiça de trocar o galão de água, né?
— Galão? Sei muito bem o que é um galão. Minha tataravó era inglesa, pro seu governo. Aí deve ter no mínimo cem litros. E o pior é que toda vez que olho pra ele, aumenta mais um.
— O que quer dizer que a gente vai ter que construir uma arca já, já, porque você tá a tarde toda olhando pra esse galão de água. Mais um pouco e ele ruboriza.

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20 de setembro de 2008

ADMITO: TOM CARNEIRO É UM GÊNIO

Devo admitir, a muito custo, dada nossa consabida alfétena, que o Sr. Tom Carneiro vem desencerrando, com suas notícias acerca de artistas pop e comentários sobre TV, genialidade típica de um Samuel Johnson.
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Bem, é verdade que ele não tem a intelecção de Johnson. Tampouco apresenta a sagácia refinada do pensador. Eu sei, muitas vezes nem mesmo apresenta veios de raciocínio. E, bom, há rizópodes com capacidade analítica maior que a sua, claro. Sem falar que seu estilo é praticamente ilegível e sua originalidade, infinitesimal.
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No entanto, apesar disso tudo, conta com algo importante e distintivo a seu favor: a erudição. Certo, não tem uma erudição suxa ou vasta. Talvez não se possa mesmo classificar o que tem como erudição. Mas, pelo menos, e isso é o que interessa, pelo menos ele... ele... pelo menos...
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É, pensando bem, ao colacionar os dois, concluo que o Sr. Tom Carneiro não tem nada de Samuel Johnson mesmo.

A VOLTA DO BOÊMIO - V



"O escândalo começa quando a polícia lhe prepara um fim."
Karl Kraus


(Tradução deste escrevinhador)

19 de setembro de 2008

CAMPANHA CONTRA O ASSALTO: O PREÇO DOS SHOWS DE MADONNA

Bem que o Sopa de Tamanco tinha prevenido: um bando de otários reunidos em um só lugar forma o quê? A platéia de um show de Madonna!

Hoje, os jornais trazem a informação de que os ingressos para o show da mala aqui no Brasil custam muitíssimo mais do que para as apresentações no Chile e na Argentina.

Ou seja: além de tudo, é um assalto a mão desarmada.

O inacreditável é ver que tantos, por livre e espontânea vontade, estão prontos para fazer o papel de otários.

Ainda dá tempo: se não comprou, não compre ingresso para esta farsa.

Os preços estão, obviamente, superfaturados ( basta ler a coluna de Arthur Dapieve na última página do Segundo Caderno da edição do Globo desta sexta-feira).

A VOLTA DO BARÃO



“Quando vires um gigante, verifica a posição do sol e presta atenção se não é a sombra de um anão.”
Novalis



(Tradução deste escrevinhador)

A VOLTA DO BOÊMIO - IV



"Quando o sol da cultura está no ponto mais baixo, até anões lançam sombras grandes."
Karl Kraus


(Tradução deste escrevinhador.)

17 de setembro de 2008

A VOLTA DO BOÊMIO - III



"Um pára-raios numa torre de igreja é o mais veemente voto de desconfiança que se possa imaginar contra o bom Deus."
Karl Kraus

(Tradução deste escrevinhador)

O ARTISTA E SEU MODELO


Pensativo, Tom Carneiro descansa junto a seu modelo, em retrato feito por Auguste Rodin.

O MURO FALA



E pensar que a foto da intelectual acima é de Tom Carneiro...

O QUE O VETERINÁRIO ESTARIA FAZENDO COM UMA CARGA DE PROPOFOL NAS IMEDIAÇÕES DA CASA DO SR. NICOMAR LAEL ?

O propofol (ah, nome feio desgraçado) é um sedativo também usado para acalmar cães histéricos.

Um veterinário especializado em administrar propofol foi visto esta semana nas proximidades da residência do sr. Nicomar Lael.

Por uma extraordinária coincidência, desde então o sr. Nicomar desapareceu das páginas do Sopa de Tamanco.

Deveras curioso.

A FALTA QUE ELE FAZ: JOEL SILVEIRA ( OU: O QUE UM REPÓRTER PODE FAZER DE ÚTIL NA VIDA, ALÉM DE TENTAR JOGAR ÁGUA NA GRANDE FOGUEIRA DO ESQUECIMENTO ?)

Que falta faz o mestre Joel Silveira.

Faz um ano e um mês que ele morreu. Guardo como se fosse um tesouro a herança de nossa convivência: eu era o discípulo tentando aprender com o mestre.

Uma das falhas da personalidade de um repórter é agir como repórter até diante de amigos. Que coisa! Confesso: é o que fiz com Joel Silveira. Éramos amigos. Mas, ali, eu era, também, um repórter diante de um personagem. Não poderia voltar para casa de mãos vazias. Não voltei. Ao longo desses anos todos, gravei conversas que tive com ele, na sala do apartamento de um sexto andar da rua Francisco Sá, em Copacabana.

Modéstia à parte, a causa era nobre: eu não queria que as coisas que ouvia de Joel ficassem somente comigo. Era preciso repartir, espalhar,compartilhar aqueles ensinamentos, críticas, boutades, lembranças e confissões de um grande repórter que, com todo merecimento, ocupa uma vaga no esfarrapado Panteão do Jornalismo Brasileiro. Joel foi um dos grandes pioneiros no uso de técnicas literárias em textos jornalísticos.

Preservo, com todo cuidado, a pequena coleção de fitas. Pergunto: que outra coisa de útil pode fazer um repórter, além de sair coletando da maneira mais cuidadosa possível as lembranças alheias, para dividí-las com os leitores ? Nada. A essência do jornalismo é esta.

Sem pretensões descabidas, sem megalomanias risíveis, sem exibicionismo vulgar: o repórter pode, sim, ser útil ao funcionar como o pequeno guardião de histórias e memórias que - de outra maneira - estariam inevitavelmente condenadas a desaparecer na poeira da estrada, destino inescapável de tudo e de todos. Em seus melhores momentos, o repórter atua como se fosse um bombeiro ingênuo: tenta fazer com que a Grande Fogueira do Esquecimento não devore tudo. É uma batalha inglória, mas, como nas piores e mais piegas histórias edificantes, ele descobrirá que, feitas as contas, o esforço "vale a pena", sim. A alternativa é terrível: cruzar os braços e não fazer nada. Chamuscado, ele sairá do prédio em chamas com alguma coisa nas mãos: quem sabe, uma velha fita cassete, um bloco de anotações. A função do repórter é, portanto, a de oferecer ao distinto leitor uma coleção de "salvados do incêndio".

(Assim, não me arrependo nem um pouco de ter importunado Carlos Drummond de Andrade em agosto de 1987 sem imaginar que ele vivia uma dor indizível: a filha, Maria Julieta, estava à beira da morte, na cama de um hospital. Drummond cedeu à minha insistência. Deu-me uma longa entrevista. Dias depois, a filha morreu. Em duas semanas, o próprio Drummond estava morto. A entrevista terminou virando uma espécie de testamento do maior poeta brasileiro. Importunei o poeta, sim, mas cometi uma "boa ação": produzi um documento sobre ele. Ah, o belo desafio de transformar lembranças em matéria "palpável": as palavras impressas....As declarações que arranquei do poeta arredio ocupam setenta páginas do livro "Dossiê Drummond", republicado há pouco tempo pela Editora Globo, em edição "revista e atualizada". Bem ou mal, as declarações que o poeta quis fazer apenas duas semanas antes de morrer não se perderam no ar: ganharam vida, ficaram guardadas em bibliotecas, vão ajudar um ou outro leitor a compreender o personagem Drummond. Missão cumprida, portanto. Um dia, o "Dossiê Drummond" haverá de cumprir o destino final de tantos e tantos livros: escondido lá no fundo de uma prateleira de um sebo empoeirado, cairá nas mãos de um leitor anônimo. Como se fosse um escanfandrista em busca de ostras perdidas no fundo do oceano, o leitor curioso desembolsará um punhado de reais por aquele feixe de lembranças impressas. O destino do livro terá se cumprido, na íntegra).

Paro por aqui. Ouço o ruído inconfundível das patas de uma fera roçando na porta dos fundos: é o Cão da Subliteratura querendo entrar. Já o conheço de outros carnavais, é claro. Bato em retirada antes que ele se instale na sala.

Mas deixo uma promessa por escrito.

Prometidíssimo: cedo ou tarde, vou reunir em livro as gravações que fiz com Joel. Podem ser úteis à troupe minoritária dos que se interessam de verdade por jornalismo. Joel foi pioneiro no uso de técnicas literárias no texto jornalístico.

Já tínhamos até escolhido um título: "Diálogos com o Último Dinossauro".

Há um ano, a gente falava da visita indesejada que bateu à porta do apartamento de Joel Silveira:


A VIDA IMITA O POEMA NA MORTE DE JOEL SILVEIRA: O AGENTE FUNERÁRIO CHEGOU NA HORA. E A PLACA DO CARRO ERA LFR 1236

Faz pouco tempo, descobri um belo poema de Lawrence Ferlinghetti. O poeta diz, com outras palavras, que o mundo é um belo lugar, mas um dia, cedo ou tarde, ele virá : o agente funerário sorridente.
E o agente veio. Acabo de sair da casa de Joel Silveira. Não quis ver a saída do corpo. A Santa Casa de Misericórdia avisou que o agente chegaria às duas horas. Pensei comigo: "Com a pontualidade brasileira, ele vai chegar lá para as quatro da tarde". Engano. Nem uma hora e cinquenta e nove minutos nem duas horas e um : eram duas em ponto quando o agente apertou a campainha, no apartamento de Joel Silveira, no sexto andar de um prédio da rua Francisco Sá, em Copacabana. O agente encenava, sem suspeitar, o poema de Lawrence Ferlinghetti. Era como se dissesse: tudo pode atrasar no Brasil, mas a morte, quando vem, chega exatamente na hora, sem tolerância. Nem um segundo de atraso.

Desci do sexto andar. Lá embaixo, tive o gesto inútil de observar a placa da Kombi branca da Santa Casa de Misericórdia: LFR 1236. A Kombi trazia, nas laterais, o nome da Santa Casa e o telefone: 0800 257 007.

Joel tinha inveja de um personagem de Vitor Hugo que, minutos antes de ser guilhotinado, dizia, resignado, que estava pronto para a execução,mas "gostaria de ver o resto". Ou seja: o personagem gostaria de descrever a própria morte. Que palavras Joel usaria ?

Quanto a nós, discípulos e aprendizes, já não há o que fazer, além de anotar a placa da Kombi : LFR 1236, três letras e quatro números amargamente inúteis.


PEQUENA EXPEDIÇÃO RUMO AO MEU MURO DAS LAMENTAÇÕES : UMA DÚVIDA SOBRE MODELOS, ATRIZES E ESCRITORES E INTELECTUAIS

Intelectual francês com cachecol no pescoço e caspa no ombro adora escrever artigos intermináveis sobre o sexo dos anjos. Ao fim de duzentas e oitenta páginas, o leitor comtempla o teto e pergunta aos astros: "o que é esta anta quer dizer, afinal?" ( O Sopa de Tamanco publicou, há algum tempo, um artigo do nosso confrade GMN sobre imposturas intelectuais cometidas às margens do Sena).

Mas há um tema que bem que mereceria um desses estudos ridículos de semiólogos franceses:
as poses feitas diante das lentes de fotógrafos.

Há décadas acelento duas dúvidas.

Primeira: quando querem parecer sensuais, mulheres - em geral, atrizes, cantoras ou aspirantes - fazem a seguinte pose nas fotos: sentadas, escostam um joelho no outro e estendem os pés em direções opostas. Invariavelmente, inclinam o tronco para frente. Há centenas de fotos assim, em ensaios e reportagens. A dúvida: quem disse que esse desarranjo de joelhos e pés é remotamente sexy ?

Segunda: quando querem parecer sabidos, escritores - ou intelectuais de outras extrações - fazem a seguinte pose nas fotos: fecham uma das mãos, como se fossem esmurrar alguém. Em seguida, pousam o queixo sobre a mão fechada. Há centenas de fotos assim, em orelhas de livros, entrevistas, reportagens. A dúvida: quem disse que esse desarranjo de punhos e queixos é indicativo de brilho literário ?

São apenas dúvidas, perguntas que pronuncio em voz baixa, quase inaudível, diante do meu Muro das Lamentações particular, nas visitas que faço a ele, no final das tardes.

A resposta, como sempre, é um silêncio pétreo. Porque muros não falam. Mas ouvem.

A VOLTA DO BOÊMIO - II


"Meu único e verdadeiro êxito consiste em ter tornado o mundo, no qual estou por natureza impedido de entrar, bem mais incerto."
Karl Kraus
(Tradução deste escrevinhador)

DICIONÁRIO




Nem masc. nem fem. nem de nenhum outro sexo,
tem também o ósculo, beijo que só se dá no léxico.

SUBPENSAMENTOS

Sou um ouvinte cíclico e obsessivo de música. Certa vez, passei seis meses escutando unicamente Tchaikovsky. Parei um dia quando percebi que estava indo da cozinha à sala na ponta dos pés.

***

Não acredito na Onipresença divina, mas não sou radical. Creio, por exemplo, na Onipresença daqueles conjuntos de flautistas andinos de praça pública.

***

A questão da corrupção brasileira, além de econômica e social, é também psicanalítica. Primeiro, os corruptos fodem despudoradamente o país. Depois, mandam o dinheiro para as Ilhas Virgens.

(Mais, aqui)

O DICIONÁRIO DO POBRE-DIABO

Óculo s.m. Mesmo que olho mágico. Pequeno dispositivo circular, equipado com lente, que se embute nas portas para que não se consiga ver de dentro o quem está lá fora. Uso: “Quem é? Hein? É você Marilda? Aproxima mais... Não, pra esquerda... Agora volta um pouco... Foi muito...”

O DICIONÁRIO DO POBRE-DIABO

Óculos s.m. Artefato provido de lentes e usado, em geral, para auxiliar a leitura por parte de analfabetos com problemas de visão e carência de neurônios. Uso: “Coloquei meus óculos para ler um livro genial, brilhante e profundo de Marcelino Freire”.
Loc. Óculos de sol: óculos de lentes escuras que servem de proteção contra os raios solares e é comumente utilizado à noite para demonstrar o quanto o indivíduo é idiota. Uso: “Fui de óculos escuros ao show da Madonna”.

16 de setembro de 2008

IN MEMORIAM DE MIM MESMO

Meus dezessete anos. Ah, meus dezessete anos. Criatividade a mil, energia a toda. Passava noites em claro escrevendo textos que eram, para mim, originalíssimos. Eu delirava imaginando livros: primeiro uma coletânea de contos, depois um romance. Ponto alto desta época: o sol nascendo na Serra do Mar enquanto eu terminava a impressão caseira de um livro intitulado, melancolicamente, In Memoriam.

Minhas ambições literárias atuais se alimentam destas lembranças. Fico me imaginando novamente com aquela energia, vontade e determinação. Olho para a janela e ainda é noite lá fora. Não escrevi nada. Não são nem dez horas e eu estou cansado. Será mais um dia de adiamento.

Criatividade sem produção não é nada. E, no entanto, isso é tudo o que tenho neste momento: vários arquivos com sinopses de livros de ficção e não-ficção que quero escrever. Mas não escrevo. E o rol de desculpas é vasto: falta de tempo, barulho excessivo, medo e, por fim, incapacidade.

É por estas e outras que, hoje em dia, admiro os escritores – qualquer um. Até mesmo os piores. Porque eles tiveram (têm) algo que me falta: coragem. Aquela mesma coragem que eu tinha aos dezessete anos, ao escrever meia-dúzia de lugares-comuns e chamá-los, orgulhosamente, de obras-primas.

(Tirado daqui)

O CHÁVEZ DO ÁRTICO

Li hoje uma comparação interessante: Sarah Palin, a candidata à vice-presidente dos Estados Unidos, seria uma espécie de Chávez do Ártico.

A comparação vem em boa hora. Há tempos estou querendo dizer que uma pessoa que sequer cogite proibir livros em bibliotecas não pode nem se dizer nem ser considerada de direita. Simplesmente porque uma pessoa destas não preza o valor mais precioso do mundo: a liberdade que, em teoria, diferencia direita e esquerda.

O que me leva a mais uma constatação triste: não existe, como acreditam os inocentes, uma polarização na política norte-americana (não vale a pena nem falar do Brasil…). Não existe esquerda e direita. O que existe são formas diferentes (mas não antagônicas) de controle. De um lado, o controle das minorias, do politicamente correto, dos impostos, da distribuição à força de renda; de outro, o controle do fundamentalismo religioso, da paranóia e do nacionalismo extremado.

(Tirado daqui)

A VOLTA DO BOÊMIO - I


"No trato com o idioma, o escritor se vê diante da tarefa de transformar uma meretriz comum numa virgem."
Karl Kraus

(Tradução deste escrevinhador)

QUEM É O GÊNIO QUE ESCREVE OS ANÚNCIOS DA CERVEJA SKOL ? UM PROFESSOR DE PORTUGUÊS PARA ELE, URGENTE!

Se ninguém se der ao trabalho de apontar as demonstrações públicas de ignorância, o que será da Última Flor do Lácio ?

Quem será o genial redator encarregado dos textos dos anúncios da cerveja Skol exibidos na TV?

A última imagem do anúncio é um letreiro que avisa:

"Se for dirigir não beba"

A não ser que tenham revogado as mais elementares regras de pontuação, há uma vírgula obrigatória entre o "dirigir" e o "beba".

Se for dirigir, vírgula, não beba"

Mas os grandes gênios da publicidade fazem questão absoluta de escrever errado ( ver outros posts sobre anúncios que trazem, por exemplo, a palavra "antibraço" (!) e a expressão "encarar de frente").

Aposto minha mão direita como os criadores deste anúncio estão neste exato momento fazendo palestras para estudantes ingênuos, com a pose característica: a de reis da cocada preta.

Ah, Nossa Senhora das Vírgulas e dos Verbos, por que será que o estoque de imposturas parece interminável ?

VISITA À CHATOLÂNDIA - 1


Crianças sonham em ir à Disneylândia. Vou fazer uma confissão: sonhei que estava num imenso parque chamado Chatolândia.

Que coisa...

Logo na entrada, numa espécie de palanque, um coral emite trinados de variados decibéis, para dar as boas-vindas aos visitantes. Aproximo-me do palco: lá estão Oswaldo Montenegro, Elba Ramalho, aquelas mulheres que só cantam músicas de Chico Buarque, uns rappers paulistas, um grupo de seresta cantando Peixe Vivo, Marcelo Camelo, Carlinhos Brown, os Engenheiros do Hawai, cantoras gordas de bossa-nova fazendo "ba-da-ba-da-ba-da-baiá-ba-da-ba-da-baiá", um repórter de televisão pronunciando trocadilhos em série, uns índios encenando a dança da chuva em torno de uma fogueira cenográfica, um conjunto de forró repetindo os versos de Asa Branca, um publicitário se elogiando diante de um espelho, um aparelho de TV exibindo comerciais da NET, um locutor lendo com voz empostada artigos do caderno "Mais" (Folha de S.Paulo), atores e atrizes querendo parecer engracadinhos em anúncios de companhias telefônicas, um ecologista discursando sobre "sustentabilidade". Misturados, os sons formam uma trilha indescritível.

Imobilizadas pelos pais para não fugirem das cadeiras em desabalada carreira, crianças choram na platéia. O espetáculo, como se dizia antigamente, é "dantesco". Mas vou em frente. Um imenso painel, à moda dos dazibaos chineses, exibe as certidões de nascimemto dos personagens que habitam o palco. Todos, absolutamente todos, têm os mesmos nomes: "Chatolino da Silva Xavier" e "Chatolina da Silva Xavier". Imagino-me num filme barato de terror: todos os personagens que me rodeiam se chamam ou Chatolino ou Chatolina.Como poderei distinguir uns dos outros ? A quem poderei pedir socorro para sair daquele labirinto ?


Penso: deve ter havido algum engano. Não estarei no inferno, por acaso ?
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, uma atendente com sotaque paulista me saúda: "Boa tarde! O senhor acaba de entrar na Chatolândia! Nós estaremos disponibilizando um guia. Assim, o senhor estará aproveitando ao máximo a visita! ".

Acordo coberto de suor, com o coração aos pulos.

O pior: um minuto depois que voltei a dormir, o pesadelo recomeçou. Quando, afinal, acordei, já manhã alta, tive o cuidado de anotar o que vi na excursão à Chatolândia.

Em breve, contarei, aqui, neste Batcanal.

A PORTA

Olho para a nova porta da sala : tenho a clara impressão de que já a conhecia de algum lugar. A porta: aquela superfície plana, monótona, sem nuances.


Ah, já sei! Tudo não passou de uma pequena confusão: confundi a coitada da porta com aquele ator que faz papel de jornalista da novela das oito, Carmo alguma coisa.

Acontece...

15 de setembro de 2008

A PIOR FORMA DE TORTURA: TER UM PROFESSOR (A) DE PIANO COMO VIZINHO!

Confirmadíssimo: quem, por um terrível azar geográfico, termina morando ao lado de um professor (ou professora) de piano, jamais, jamais, jamais conseguirá ficar cem por cento contra a pena de morte.

É claro que a pena de morte é uma demonstração de barbárie, rechaçada pela maioria das nações ditas civilizadas.

Mas....é assim que séculos e séculos de civilização vão para o ralo:

basta que duas mãos invisíveis passem horas e horas e horas extraindo do teclado do piano aquela música que diz "Rio de Janeiro, gosto de você....", com floreios, variações, repetições infinitas. Não há quem resista!

É um fenômeno físico, uma questão de ação e reação: começo a admitir a possibilidade de que a pena de morte poderia, sim, ser aplicada em benefício da humanidade, não contra os professores (as), mas contra os pianos usados nas aulas!

Sem os pianos utilizados como mísseis sonoros para atormentar os vizinhos, os professores poderiam se dedicar a tarefas menos incômodas, como, por exemplo, latir baixinho.

Depois de ver meus tímpanos fatigados serem atacados durante horas a fio pela tormenta sonora, começo a delirar, febril:

vejo, claramente, uma força tarefa multinacional invadindo o prédio pelo elevador social, pela garagem, pelas portarias. Não, as falanges não planejam atacar ninguém. Querem apenas fazer um grande favor à humanidade: destruir com rajadas certeiras a fonte de todo infortúnio, o grande emissor de sons insuportáveis, o arauto de todas as repetições, sim, ele, o desgraçado do piano que, neste exato momento, agora, seis e meia da tarde de uma segunda-feira, ataca com variações da Marselhesa.

Ressuscitai, revolucionários da Bastilha! Vinde,urgente, em socorro de nossos tímpanos dilacerados!

ALSO SPRACH...

Wie bitte ?!
(Na foto, Friedrich Nietzsche em Jena)



TENHAM UMA ÓTIMA SEMANA



Em algum lugar no meio da perturbação nervosa, fiquei bastante deprimido. A depressão permaneceu comigo por mais de um ano; ela era como um animal, uma coisa bem definida, espacialmente localizável. Eu acordava, abria os olhos, escutava – será que ela está por aqui ou não? Nenhum sinal dela. Talvez esteja dormindo. Talvez me deixe em paz hoje. Com cuidado, com muito cuidado, me levanto da cama. Tudo quieto. Vou à cozinha, começo a tomar o café da manhã. Nenhum som. TV – Bom dia América, David Não-sei-de-quê, um sujeito que não suporto. Como e vejo os entrevistados. Devagar a comida enche o meu estômago e me dá força. Agora uma ida rápida ao banheiro, e a saidinha para minha caminhada matinal – e aí está ela, minha fiel depressão. “Pensou que poderia sair sem mim?”

(Killing time: the autobiography of Paul Feyerabend)
(Em tradução escrava, pelo escrevinhador.)

AMOR E ÉTICA À BRASILEIRA

- Você? Sua canalha! O que é que você tá fazendo aqui?
- Simples, Adelson. Andei analisando o cenário político nacional durante um bom tempo e acho que eu mereço uma segunda chance.
- Uma oitava chance, você quer dizer. Porque, até onde eu sei, você me traiu sete vezes enquanto estivemos casados!
- Sete e meia, Adelson, considerando que também saí com Montanha, o Famoso Anão Tirolês.
- Não acredito! Você me traiu com aquele anão! O anão trabalha em circo, Ofélia! Como é que você pode ter feito isso?
- Com alguns tijolos pra dar o calço, Adelson. Mas a questão não é essa. O fato é que vivemos o Estado democrático de Direito e…

(Mais, aqui)

REVISTAS SEMANAIS

- Cara, eu não acredito!
- Que foi?
- Dá só uma lida aqui nessa matéria da Veja.
- Não posso.
- Como assim? Tá sem óculos?
- Pior. Tô com cérebro.


(Mais, aqui)

BOLÍVIA?

Leio por acaso um desses papéis escritos em língua bárbara a que, a falta de outro nome ou por incerta alfabetização, costumou-se alcunhar jornais. Encetando ingente esforço, contenho o asco e me informo sobre a catastrófica situação política boliviana. Terminado o relincho do jornalista (desculpem o reles uso do vocábulo “relincho”, que não sei se é acurado, pois ao contrário do que ocorre em relação a pássaros e ovinos, por exemplo, ignoro a voz desse tipo de animal), faço uma prece ao deus dos aristocratas para que o conflito civil naquele país termine da melhor forma possível. Ou seja, com a completa extinção da Bolívia.

NEURÓTICA

Desvelando alma própria de fêmeas, mais uma vez Tom insiste para que volte a batê-lo. Acederia ao pedido com prazer, Tom, mas minha mulher já está com ciúmes. E, ao contrário de você, ela não é neurótica, ou seja, não tenta reagir às bofetadas. De modo que lhe aconselho a prática do coito passivo para aplacar seu irrefreável anelo. Quanto a principiar o desenvolvimento de raciocínios a minha altura, proponho a entrada numa dessas igrejas de pobre, neopentecostais, único sítio de meu conhecimento onde se pratica a taumaturgia.

14 de setembro de 2008

O CAMINHO DAS PEDRAS: QUER TER (DE GRAÇA!) UMA AULA DE JORNALISMO COM O REPÓRTER QUE DERRUBOU UM PRESIDENTE ? NOME DA FERA: CARL BERNSTEIN

É só clicar aqui:

http://www.geneton.com.br/archives/000275.html


Obrigado, Bill Gates!

SUDERJ INFORMA: O TIME DO PAI (PEQUENOS ANIMAIS INVERTEBRADOS) GANHA DE UM MILHÃO A ZERO DO SR. NICOMAR LAEL!

O Corpo de Bombeiros, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a equipe médica do Hospital das Clínicas finalmente deram por encerradas as buscas.

Não, não foi possível localizar nenhum neurônio no cérebro do sr. Nicomar Lael.

Nada, nada, nada - nem o mais leve vestígio.

Registre-se que pequenos animais invertebrados podem ter até um milhão de neurônios no cérebro.

Ou seja: o time do PAI ( Pequenos Animais Invertebrados) ganharia de goleada um campeonato de sapiência disputado contra o sr. Nicomar Lael.

O placar seria de um milhão a zero.

RESULTADO DO GRANDE CONCURSO LITERÁRIO SOPA DE TAMANCO


O sr. Nicomar Lael escreve tão bem....

Nem parece que é um labrador sarnento.

13 de setembro de 2008

O FIM DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL: OS CROQUIS DOS VESTIDOS DE SANDY E.....NOELY!

Lá estava eu, distraído, ocupado em navegar pela internet, quando, sem aviso prévio, sou atingido pela seguinte chamada, estampada na capa da Folha de S.Paulo on line:

Exclusivo
Veja os croquis dos vestidos de Sandy e Noely

Pergunto aos céus: quem disse que quero ver os croquis do vestido que dona Sandy usou para se casar ? Quem diabos é Noely ? Que tipo de ser vertebrado se interessaria, a sério, em contemplar os tais croquis? O que é que estou fazendo neste planeta ? Quem foi que me jogou aqui ? Onde é que fica a saída ? Qual é o número do resgate, pelo amor de Deus ? Se eu ligar 190, alguém vai me socorrer ?

A civilização ocidental, tal como se conhecia até hoje, acabou.

E O NOME VERDADEIRO DE MARISA MONTE É....

Do Grande Dicionário de Sinônimos:

Marisa Monte = pretensão descabida.

Para quem não ligou o nome à pessoa: Marisa Monte é aquela moça de voz afinada que se julga a Rainha da Cocada Preta. O maior indício de que ela sofre da Síndrome da Cocada é a persistência com que foge de entrevistas, por exemplo.

Intrigado com o mutismo da dama, o distinto público aguarda um pronunciamento. Quando, finalmente, ela resolver falar não consegue pronunciar nada além de uma coleção de platitudes e obviedades de fazer corar o Conselheiro Acácio. É igual ao sr. Marcelo Camelo. Os dois provêm da mesma estirpe. Chegaram empatados em primeiro lugar na última rodada do campeonato da pretensão descabida.

O olheiro do Sopa de Tamanco conseguiu uma cópia da certidão de nascimento da candidadata a diva.

O nome verdadeiro de Marisa Monte é Chatolina da Silva Xavier.

Eu bem que desconfiava.

DICIONÁRIO DE SINÔNIMOS E NOMES VERDADEIROS: O QUE DIZ O VERBETE MARCELO CAMELO ?


Do Grande Dicionário de Sinônimos:

Marcelo Camelo = tédio mortal.

Para quem não ligou o nome à pessoa: Marcelo Camelo é aquele senhor que, invariavelmente, faz declarações entediadas sobre as músicas entediadas que ele compôs em momentos de tédio. Já tocou num conjuntinho chamado Los Hermanos.

Um investigador do Sopa de Tamanco conseguiu uma cópia da certidão de nascimento do dromedário.

O nome real do bicho é Chatolino da Silva Xavier.

Marcelo Camelo é pseudônimo.

Eu bem que desconfiava.

POR QUE NÃO USAR O IDIOMA PÁTRIO ?

Concordo totalmente: o sr. Nicomar Lael sabe escrever,sim. ( ver posts abaixo)

Mas fico na dúvida : se ele sabe escrever tão bem e se faz pose de poliglota, por que é que não escreve em português ?

AMY WINEHOUSE QUER MORRER DE OVERDOSE. QUE MORRA, ENTÃO!

Os jornais ingleses publicam fotos da cantora Amy Winehouse bêbada, drogada, incapaz de se manter em pé.

http://www.dailymail.co.uk/tvshowbiz/article-1054873/Ravaged-Amy-Winehouse-gives-best-snarl-eve-25th-birthday.html

A sra. Winehouse é uma boa cantora ? É.

A sra. Winehouse quer morrer de overdose aos vinte e cinco anos de idade? Quer.

Que morra,então!

Ao contrário do que acontece no Brasil, a terra do tapinha nas costas, a imprensa inglesa publica frequentemente aquelas opiniões "incorretas" que todos compartilham mas poucos têm coragem de pronunciar em voz alta. Exemplo: quando aquele ex-roqueiro Jerry Garcia morreu num quarto de uma clínica de reabilitação, em 1995, um articulista zangado escreveu, num jornal inglês, algo como: já não aguento ouvir história de roqueiros suicidas que se entopem de drogas por livre e espontânea vontade, jogam fora a carreira, desperdiçam a vida e, depois, viram objeto de piedade alheia: "Coitadinhos....".


Chega! Querem morrer ?

Boa viagem! Há excelentes crematórios em atividade em Londres.

EM CARTAZ : A GRANDE TROCA DE INSULTOS!

Os srs. Tom Carneiro e Nicomar Lael não desistem: continuam se estapeando diante do olhar estupefato dos escassos frequentadores desta Sopa.

A bem da verdade, registre-se que os dois desafetos exibem uma virtude louvabilíssima : cuidam bem do idioma.

Deixo uma sugestão: os dois poderiam resolver suas diferenças de uma vez por todas num duelo. Assim, com o passamento de um dos dois - o que fosse derrotado - , a troca de insultos se encerraria. O Sopa de Tamanco voltaria,então, a se ocupar de temas realmente relevantes para os destinos da pátria, como, por exemplo, a bandana de Ronaldinho Gaúcho, os trinados de Oswaldo Montenegro, a barrigona de Ronaldinho Gorducho, os trocadilhos nas reportagens de TV, os anúncios insuportáveis protagonizados por "celebridades" artísticas que fazem pose de simpáticas para, em última instância, tomar nosso dinheiro - e outros temas tão candentes quanto.

Mas, pelo andar da carruagem, os dois só sossegarão quando o sangue jorrar.

Se é para ser assim, que assim seja.

12 de setembro de 2008

A TV SÓ CONSEGUE EMITIR TRÊS COISAS: LUZ, SOM E PARVOÍCES

Deus, dai-me soberba para suportar o rugido das feras - mas não agora.

Porque agora, para surpresa de beócios do quilate de Nicomar Lael, cometerei um gesto de magnanimidade suprema, nada compatível com a soberba a que preciso recorrer para me proteger da idiotia alheia.

Direi a Nicomar Lael, este animal rastejante que vive prospectando páginas dos dicionários em busca de palavras e expressões em desuso que lhe concedam a aparência de sábio: oh, pulha, festejai, gritai "alvíssaras!" ao céu mudo, porque confessarei que concordo contigo num ponto - apenas num! Já, já, direi qual é o único e escasso motivo de nossa concordância.

( Mas, antes, quero te deixar ciante de que, em homenagem a teus neurônios de baixa extração, atuarei como atuam adultos diante de crianças: farei de conta que não, não conheço, sequer desconfio de teus truques. Farei de conta que não sei que, como se fosse um labrador faminto, deslizas as patas pelas páginas de velhas edições de dicionários comprados em sebo, em busca de vocábulos como "charneca", "brâmane", "trautear", "atólito", "estrídulas" , "estúrdia" "eutimia" e coisas que tais, com a única intenção de contrabandeá-los em teus textos e, assim, tentar atrair, pelo exotismo das expressões, a atenção de leitores desavisados. Debalde. Direi que consegues apenas atrair a piedade.

Obterias efeito idêntico se, no lugar da recitação de tais anacronismos, simplesmente te dedicasses a um exercício mais simples: bastaria afastar ligeiramente a arcada dentária superior da arcada dentária inferior, mobilizar as cordas vocais e produzir o som que emites com tanta graça e desenvoltura desde o dia do nascimento: au-au-au-au. Bastaria fazer o que fazes tão bem: latir!
Mas, não. Insistes em escrever).

Feita a ressalva, digo que sou forçado a concordar num ponto com o sr. Nicomar Lael (volto a indagar aos céus: de que balcão de cartório de floresta terá brotado tal nome, uma cacofonia formada por vocais e consoantes em choque ?):
é perda de tempo ficar chocado com os barbarismos ditos por gente supostamente "ilustrada" na TV.

Sempre achei que, desde que mantida sem som, a TV pode ter uma excelente utilidade: deixa o ambiente à meia-luz, o que pode ser bom para as retinas fatigadas. Mas este eletrodoméstico que fala não deve, claro, ser levado a sério, porque, com raríssimas exceções, só consegue emitir três coisas: luz, som - e parvoíces.

Assim, não é de estranhar o desfile de horrores que assaltam nossos olhos a cada vez que olhamos de soslaio para os vídeos. Lá estarão anúncios engraçadinhos paridos por publicitários que se julgam gênios; celebridades idiotas tentando nos vender produtos e serviços que vão de telefones celulares a cervejas e bancos; jornalistazinhos fazendo trocadilhos infames, como se trocadilho fosse capaz de dar nobreza a textos capenguíssimos; o lixo, o lixo, o lixo.

Tive,portanto, uma iluminação. Da próxima vez que ouvir alguém dizer "meu óculos" na TV, restarei indiferente. Farei o que deveria ter feito das outras vezes:
tirarei o som.

Assim, esta fábrica de estultices finalmente cumprirá o papel que lhe cabe,por merecimento: deixar o ambiente à meia-luz.

Poderei, então, mergulhar no sono profundo, cavalgar por toda a noite por territórios de sonho, onde não há lugar para os parvos e os beócios - e os aparelhos de TV.

NASA COMPROVA: INEXISTE VIDA INTELIGENTE EM TOM CARNEIRO

Em charneca do antigo Ceilão, certa vez, vi uma ostra que, ao estalar dos dedos de um brâmane, recitava Baudelaire. Em Alexandria, enquanto tapava o nariz com meu lenço de seda debruado a ouro, ao passar por uma viela do bairro portuário, observei por minutos uma lesma que, comandada por um etíope, resolvia equações de primeiro grau. E, por fim, em visita a amigo em Sidney, acompanhei encantado um coral de macaquinhos trautear a adaptação de Schiller da Nona. (Sim, nasci em um e, por razões variegadas, já estive nos outros três continentes bárbaros. Só me resta agora, depois de morto, ir ao Hades, para colmar o tour pelos cinco rincões mais horrendos já habitados por humanos ou quase humanos).

Daí ter pensado, a princípio, que não acararia dificuldades de monta ao porfiar por introduzir uma única, gritantemente evidente, palermamente rasteira, translucidamente óbvia idéia no interior da caixa craniana do Sr. Tom Carneiro. Entretanto, desprovido do reclamado treino de adestrador e desatendendo a princípios basilares da Física, apercebo-me, contrariado, após três dias de malogros e esperdício de mais de cinqüenta vocábulos diferentes (que dariam, quando pouco, para escrever seis ou sete romances brasileiros contemorâneos e ainda sobrariam alguns substantivos), de que não, a inteligência não se propaga no vácuo.

O cômputo não me deixaria de todo atólito, porém, caso não viesse acompanhado do maior insulto às faculdades mentais de que tenho notícia, ao menos desde a última feita em que Caetano Veloso abriu a boca: li que o Sr. Tom Carneiro se propala ínclito defensor da cultura erudita e da língua pátria, atingindo o vértice do mais alcantilado dislate ao acrescentar estar em campanha para salvá-las!

Querido Tom (permita-me chamá-lo assim, reproduzindo o carinho que dedico aos meus diletos criados, enquanto afavelmente os repreendo com bengaladas na cabeça), após me levantar do piso de mármore italiano de meu living, onde estive me contorcendo às gargalhadas estrídulas, do tipo que só me escapou antes quando soube da morte de Duchamp, informo o seguinte: no que depende de você, a melhor maneira de granjear seus objetivos, Tom, é manter-se a cerca de um ou dos quilômetros de um teclado de computador — determinação que, de resto, fosse este um país e não uma maloca prenhe de mulatos dotados de meio hemisfério cerebral, já deveria estar regulada em lei, para bem da coletividade.

Dito isso, regressemos ao cândido argumento descompreendido por vossa estúrdia, Tom. Ei-lo, simples, direto e medíocre, como manda seu manual de redação: deblaterar contra a incúria no uso do plural por parte de seres inferiores que povoam um sítio cafona e alobrógico como a TV, Tom, evidencia grau irrestrito de imbecilidade.
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Ah, Tom, Tom, Tom, por favor me entenda: esse gênero de atitude (aqui — perceba minha caridade, leitor —, sigo o Cristo e recorro à analogia, figura proveitosamente empregada em diálogos com plebeus e débeis de raciocínio, pendoem-me a redundância) é semelhante à de um incauto que, indo a um show de golfinhos, sai de lá a denunciar que os animais fazem ique-ique, saltam, contorcem-se e representam um espetáculo digerível apenas por retardados mentais, jornalistas e crianças de dois a três anos.
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Em suma, trata-se de comportamento típico das almas simplórias, Tom, a divulgação entusiastiástica do consabido até pelos ienas mancas do zoológico de Zurique. Que interessa se um chimpanzé come bananas com garfo ou usa os dedos, Tom? Quem se preocuparia uma centelha de centésimo de segundo com a observância de regras de bom-tom entre as aranhas, senão um vabagundo, um indolente irrecuperável ou alguém que perdeu 95% da massa encefálica, Tom?
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Ademais, Tom, o mero ato de assistir à televisão, nem que seja à banda de cores que aparece, segundo me informam, antes das estações entrarem no ar, é próprio de subgente, analfabetos e neuronialmente prejudicados em geral, Tom, e não de defensores da alta cultura.
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Compreendeu agora, ó sublime encarnação do burro de La Fontaine? Se não, me diga, por obséquio, pois procurarei desenhar ou fazer mímicas no próximo post, Tom, ó Tom, minha amada cavalgadura.

O QUE É QUE FAZ UM SER HUMANO FICAR PRODUZINDO POSTS PARA UM SITE COMO O SOPA DE TAMANCO ? QUEM HAVERÁ DE DESVENDAR ESTE MISTÉRIO ?

Questão de ordem, senhor presidente!

Preciso tirar uma dúvida que vem agitando minhas florestas interiores nos últimos dias : o que é que faz um sujeito usar o horário comercial para ficar maquinando posts de tamanho e interesse variados num site tão mambembe como o Sopa de Tamanco, como fazem, com tanta frequência, os senhores Tom Carneiro e Nicomar Lael ?
Os dois por acaso estão desempregados? Vivem de FGTS ? Recebem Bolsa Família ?
Não conseguiriam arranjar passatempos mais úteis, como, por exemplo, uma boa tradução? Ou a redação de um livro - que ninguém leria ? Os dois pensam em se demitir ? Querem provocar seus patrões ? Não poderiam, alternativamente, usar o tempo para lavar a louça - ou passar uma vassoura na sala de suas respectivas residências ?

Que força estranha será esta que os leva a postar ?

CAMPANHA CONTRA OS TROCADILHOS ENGRAÇADINHOS

Simples assim: um bom jornalista não escreve trocadilho.

DIAGNÓSTICO: SOPA DE TAMANCO PERMANECE NA UTI, MAS OS SINAIS VITAIS ESTÃO PRESERVADOS

Ah, se não fossem os funcionários que usam o computador no trabalho para vadiar (ou seja: navegar por sites rigorosamente inúteis como este), o número de acessos do Sopa de Tamanco seria algo próximo de zero.

Obrigado, povo do Brasil! Enquanto os chefes desses especialistas em navegação vadia não desconfiarem de nada, o site estará salvo.

O número de acessos, é claro, continua igual a um macaco prego - patético e a caminho da extinção. Mas haverá sempre um punhado de internautas fiéis, dispostos a resistir até o último post.

Graças a estes anônimos heróis da resistência, o moribundo Sopa de Tamanco, há meses trancafiado numa UTI por absoluta inanição, avisa: os sinais vitais estão preservados.

As notícias sobre nosso desaparecimento foram, obviamente, exageradas.

CONFIRMADO, NA REVISTA TPM: PUBLICITÁRIOS SÃO UMAS ANTAS!

Desavisadamente, abro um exemplar da revista TPM. Boa leitura. Mas eis que, no texto de um anúncio, leio uma pérola digna de entrar na antologia da cavalice: a palavra "antibraço" !!

Prefiro não acreditar. Mas não há como fugir da evidência espetacular dos fatos: a página é 115 da edição número 80 da revista - a que traz Cláudia Abreu na capa.

O autor(a) do anúncio inventou um membro novo para o corpo humano: o inimigo do braço!! O antibraço, portanto. O incrível é que o texto deve ter sido escrito, reescrito, revisado, aprovado "n"vezes.

O gênio do antibraço haverá de ganhar o prêmio Nobel de Fisiologia, por merecimento. Jamais tinha ocorrido a alguém que o braço possuía um inimigo tão próximo. O anúncio, meio disfarçado de matéria, é de uma marca de óculos - a Arnette.

O "antibraço" nos faz lembrar uma pérola publicada num anúncio milionário de um carro Toyota na revista Veja: o gênio do texto escreveu que era hora de "encarar de frente".

Por acaso alguém já encarou de trás ?

A pergunta que fica no ar é inevitável: quantos mil dólares as empresas devem ter pago aos produtores desses anúncios para que eles produzissem tamanhas estultices ?

É a velha história: nascem mil otários a cada minuto.

Haverá sempre um publicitário pronto a cometer uma gracinha, escrever um absurdo
e, pior, posar de gênio.

Ah, antes que alguém lá na última fila faça a pergunta inevitável - "E os jornalistas ?"-, respondo, sem pestanejar:

os jornalistas são dez vezes piores, é claro.

Alguma dúvida ?

RODRIGUIANAS BRASILEIRAS

A pior forma de solidão é a companhia de um aparelho de TV.

MADONNA: CHATA, CHATOLINA, CHATÍSSIMA

Nasce um idiota a cada minuto, diz o ditado, atribuído a um empreendedor americano.

Haverá sempre um idiota pronto a consumir qualquer idiotice que lhe ofereçam.

E quando dezenas de milhares de idiotas se reúnem formam o quê ?

Fácil: a platéia de um show de Madonna.

A mulher é chatíssima. Sempre que aparece em entrevistas patéticas exibe aquele ar entediado de quem se julga superior ( o pior de tudo é que o ex-marido da anta, o ator Sean Penn, consegue ser tão blasé e tão antipático quanto: invariavelmente, aparece, tanto em filmes quanto em entrevistas, com expressão de quem tomou um litro de purgante).

Idiota diplomada, Madonna jamais disse uma frase aproveitável. Há anos não lança uma música memorável.

Agora, vem ao Cone Sul da América, recolher dólares dos incautos.

Nascem mil idiotas a cada segundo.

A RAZÃO DO FIASCO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

Cientificamente comprovado: enquanto Ronaldindo Gaúcho estiver usando aquela bandana, aquele brinco e aquela pulseira, não há a menor possibilidade de a seleção brasileira jogar algo parecido com futebol.

Quem me soprou o caminho das pedras foi João Sandanha - numa rápida aparição às três e cinco da manhã desta sexta-feira.

DEUS, DAI-ME PACIÊNCIA. MAS NÃO AGORA.

As palmeiras que crescem, inadequadas, nas areias do Leblon se agitaram hoje pela manhã (Digo "inadequeadas" porque elas, as palmeiras, devem ter estar ali não por um favor da natureza, mas por terem sido plantadas, à beira-mar, por algum político em campanha, devidamente escoltado por uma matilha de ecologistas fêmeas de sovaco cabeludo, sandália de dedo, óculos de aro redondo e saias que parecem balões extra-terrestres).

Como eu ia dizendo antes de ser interrompido por mim mesmo: a agitação das folhas das palmeiras não se deveu a alguma erupção inesperada de ventos de sudoeste. Não. O que moveu as folhas foi o enorme, inédito suspiro de tédio que exalei ao concluir a leitura da última diatribe do sr. Nicomar Lael.

Ah, a irresistível compulsão exibicionista dos beócios...

O sr. Nicomar ( que nome! De que escrivaninha de cartório interiorano terá brotado tal combinação desconjuntada de vogais e consoantes ?) quer que os incautos creiam que ele é o guardião da "alta cultura". A julgar pelo que ele diz, eu, ao acusá-lo de exibicionismo, não passaria de um apóstolo do horrível relativismo cultural: aquele que proclama como bom o que é indefensavelmente ruim - e chama de apenas ruim o que é incuravelmente péssimo.

Aos olhos simplistas do sr. Nicomar, o mundo se divide em duas porções. De um lado, os simplórios - que chamam os cultos de "exibicionistas". De outro, os "cultos" - que precisam desesperadamente dar amostras de que leram os livros que ninguém leu.

Que tempos ! Que costumes! Acorda, Paulo Francis! Ele, Nicomar, enlouqueceu!

O que declarei em blogs anteriores reafirmo agora diante deste tribunal imaginário: relativista é o sr. Nicomar - que teve chiliques simplesmente porque chamei de ignorante gente que diz "meu óculos" e "o óculos". Não importa que esta gente seja diplomada ou supostamente ilustrada: ao cometer erro tão crasso, cometem, sim, um ato de ignorância. É preciso dar nome aos bois - e aos burros.

Ao defender, indiretamente, esta gente, o sr.Nicomar ( que nome! De que academia de letras sub-interiorana terá surgido tão desafinado arranjo de vogais e consoantes ?) faz exatamente o que me acusa de ter feito: tolera manifestações de óbvia ignorância como se fossem saudáveis variações da norma culta.

Não me animo a ir adiante nesta polêmica porque o sr. Nicomar ( que nome! De que balcão de farmácia suburbana terá saído tal cacofonia de consoantes e vogais?) é um armarinho ambulante de contradições: quer se fazer de culto,mas defende, indiretamante, os ignorantes. Ora, defender os ignorantes é rezar para que a ignorância se perpetue. A vereda da civilização é outra: combater a ignorância é abrir caminho para a felicidade.

O sr. Nicomar chama-me de relativista cultural, mas comete o pior dos relativismos: admite a estultice alheia como se fosse algo tolerável. Não é.

Gestos assim provocam o que já sentimos há tempos sob nossos pés fatigados: tremores que indicam, inequívocos, os últimos suspiros de uma civilização.

Retiro-me de cena. Mas advirto o sr. Nicomar ( que nome ! De que discurso de vereador de aldeia terá saído tão estapafúrdia combinação de vogais e consoantes ?): minha guerra contra as empulhações não pára aqui. É uma guerra perdida por antecipação, eu sei. Mas as melhores e mais belas batalhas são, justamente, aquelas em que o melhor guerreiro não terá chances de vitória. Sempre foi assim.

Assim, rogo aos céus: Deus, dai-me paciência. Mas não agora.

Porque,agora, preciso de impaciência e destemor para enfrentar as falanges do mais sorrateiro dos inimigos: os congregados nicomarianos, gente que, sob um suposto verniz culto, bate palmas para a sagração da ignorância!

Vou ao estábulo imaginário. Acordo o amigo Rocinante. Os moinhos de vento nos chamam: é hora de partir.

ÚLTIMA RESPOSTA A TOM CARNEIRO OU PEQUENA HISTÓRIA DA ESTUPIDEZ

Estava precógnita na primeira frase. Acentuou-se ao término de um segundo parágrafo. Desvelou-se parcialmente ao cabo de alguns textos. Até que, nas últimas horas, a imorredoura idiotia que impele pancrácios das mais variadas latitudes a classificar toda e qualquer alheta de erudição como “exibicionismo” — palavra anódina, de resto sintomática do mau gosto e da inestética dos parvos —, enfim foi excretada pelo oco craniano do Sr. Tom Carneiro.

O estratagema parido pelo Asno — devem ter-se apercebido os que ainda respiram — é reles e arcaico qual o Impression, soleil levante de Monet. Acata o desenvolvimento cediço da banalidade humana após séculos de democracia, imprensa livre, modernidade, massificação e semelhantes idiotices que tão bem revelam o grau de decadência da sociedade ocidental e engendraram o horror supremo: a ilusão de que a ralé não se constitui de indivíduos inferiores e almas precárias, que ela pode mesmo se alfabetizar e até — oh, suma apostasia! — criar obras de arte.

A completa e óbvia implausibilidade dessas quimeras isonômicas, como se sabe, não refreou o impulso pérfido dos filisteus — pelo contrário. Ante a comprovação de suas inextinguíveis incultura e esterilidade artística, a subgente deu à luz o Grande Sofisma, escape preciso e ardiloso, arma preferencial de cobardes de camarinha, padres, fêmeas e invertebrados: a idéia de que, em arte ou comunicação, o fundamental é ser simples, claro, direto, fácil, prosaico, medíocre.

Eis aí, em um parágrafo, a horrífera descrição do maior engodo da História, da estocada à treição que elevou alarves para sempre à condição de sábios, em fins dos oitocentos. Tão cínica escamoteação da ignorância e da falta de recursos criativos, repentinamente demudadas em virtudes por graça de um blefe assustador, renderia o báratro aos mistificadores na Grécia pré-socrática. Em Roma, o empalamento. Entre nós, tem forjado gênios.

Modernidade, pós-modernidade, contemporaneidade, solércia ou estultice. Qualquer que seja o termo purulento empregado para descrever esta época em que o horrendo ousa se declarar belo; inteligente, o perdulariamente estúpido; e descomplicado, o inábil e mal-acabado, é ela a principal responsável por sermos obrigados a sofrer a sem-cerimônia e o despudor com que um Sr. Carneiro qualquer, rematado palúrdio, se vê autorizado a imprecar contra termos que, em civilizações medianamente instruídas, deveriam ser de conhecimento, ao menos, do mais obtuso aristocrata.

Ah, espetáculo teratológico! Mais algumas décadas e, não duvido, finalmente regressaremos ao uso de flechas, desabilitaremos o aparelho fonador e aplicaremos o cérebro somente em tarefas cardinais, como as de servir de isca de pesca ou de enfeite para jardins.

Então, excogito, criaturas como o Sr. Carneiro, cuja maior realização intelectual foi ter decorado a tabuada do nove, liderarão manadas inteiras de bípedes; surdirá uma religião que idolatrará uma torradeira elétrica enferrujada como criadora eterna e indivisível do Universo; e com um único sinal (dois ou três giros do polegar ao redor da orelha) será possível transmitir todo o rol de sentimentos, memórias e raciocínios humanos.

Até que, por fim, restará uma solitária esperança de redenção: a de que hamsters ou guaxinins consigam salvar um resquício que seja de vida inteligente na Terra.

11 de setembro de 2008

É ASSIM ?

Dou uma passada rápida no Sopa de Tamanco, para assinar o ponto e recolher o meu polpudo cheque. A máquina de ponto foi roubada por um credor. Não preciso dizer que o cheque não tinha fundos.

Eis que - de repente - ouço um ruído no fundo da redação. Apuro os ouvidos. Triste espetáculo: os senhores Tom Carneiro e Nicomar Lael trocam impropérios de variados calibres, para espanto dos nossos raros, raríssimos leitores.

É assim que o Sopa de Tamanco quer ressuscitar ? Com brigas na frente das crianças ? Vocês realmente acham que esta é a melhor maneira de voltar aos dias de glória ? - pergunto.

As paredes não respondem.

CONFISSÃO COMPROMETEDORA: UM CHORORÔ CHAMADO "ROSINHA, MINHA CANOA"

Poucos terão coragem de fazer uma confissão tão comprometedora: quando eu tinha quatorze anos, chorei de perder o fôlego ao ler, num quarto de hotel no interior de Minas, "Rosinha, Minha Canoa", livro água-com-açúcar de José Mauro Vasconcelos,autor considerado subliterário e breguíssimo.

Depois, nenhum grande livro conseguiu provocar efeito semelhante : nem obras-primas imortais como Crime e Castigo nem Memórias Póstumas de Brás Cubas nem A Montanha Mágica.

Um psicanalista, por favor, para extrair uma conclusão qualquer deste capítulo lítero-lacrimejante de minha formação.

O MEU SILÊNCIO SERÁ ENCICLOPÉDICO: COBRIRÁ TODOS OS ASSUNTOS DE TODAS AS ÉPOCAS. JÁ NÃO TENHO NADA A DECLARAR

Confesso-vos: pensava, até esta tarde, que somente queijo podre, rum de baixa qualidade e salame de beira de estrada fossem capazes de produzir vômito em meu estômago fatigado.

Ah, mera ilusão feita de álcool e leite....

Descobri que os textos aqui postados pelo sr. Nicomar Lael produzem efeito idêntico! São capazes de acionar, em meu estômago, o mecanismo que produz,primeiro, um leve,levíssimo mal-estar, irremediavelmente seguido de erupções de golfadas de vômito em quantidades industriais. Os vizinhos já se acostumaram com os ruídos produzidos por este movimento gastro-vomitivo. A trilha sonora da minha reação fisiológica aos absurdos do mundo já se incorporou à rotina das tardes sem fim do Leblon.

Por que abro por um instante uma fresta no muro que ergui em torno de minha privacidade para fazer esta confissão vomitiva ? É que me sinto compelido a explicar por que as diatribes do sr. Nicomar provocam reação física tão ostensiva.

Eis o que descobri: ao percorrer os textos do sr.Nicomar, constato, desolado, que ele recorre à mais infantil e inofensiva das armas para tentar chamar a atenção da platéia, como se fosse um adolescente literário marcado por cravos e espinhas estilísticas. O que ele faz ? Recorre a palavras de pouco uso para parecer sábio, mas tudo o que consegue é parecer parvo, além de provocar vômito, claro.

Eis as expressões que o sr. Parvo Lael cometeu ao tentar me agredir no último post:

"utilizar de meu vergalho em seu dorso pingue e lanudo"

"tornando inevitável a espadana de enfado"

"espaço irremediavelmente labrego e sensabor"

Minha paciência com o sr. Parvo Leal tropeçou na primeira frase, cambaleou na segunda e, finalmente, se esborrachou na terceira.

Já não gastarei munição com alvo tão pobre.

Direi apenas que a defesa indireta que o sr. Pascácio Leal faz dos usuários de expressões lamentáveis como "meu óculos" e "o óculos" serve de prova de que uns - os ignorantes - merecem o outro - o exibicionista. E vice-versa.

Feita esta declaração, dou por encerrada temporariamente a contenda. Recolho-me à minha poltrona aveludada para, entre um gole e outro de um chá importado de torrões arábicos, degustar os parágrafos imortais de "O Leopardo" até ser alvejado pelo sono, o inimigo número um da literatura.

Peço ao mundo que não me incomode. Já não tenho nada a declarar sobre nada. O meu silêncio será enciclopédico : cobrirá todos os assuntos de todas as épocas. É melhor assim.

VÃ TENTATIVA DE CONDICIONAR UMA AZÊMOLA (TEXTO EM MEMÓRIA DO ÚLTIMO NEURÔNIO DO SR. CARNEIRO)

Soltando um suspiro ennuyé, índice da impotência dos derradeiros civilizados ante a incultura pós-moderna, deponho o exemplar do Confissões e saco o monóculo italiano de aro moldado em ouro para, num extremo esforço moral e antiestético, apoiando o queixo no castão de prata de minha bengala de ébano, ler o quarto ou quinto dos textos abaixo, precariamente balido contra mim pelo Sr. Carneiro.

Ao término do exercício de autoflagelação, ainda lutando para controlar os espasmos causados pelas cachamorradas desfechadas a cada linha pelo subautor contra a sensibilidade literária, o bom gosto e o vernáculo, volto os olhos azul-claros e meu conspecto plácido ao deus dos aristocratas e, parafraseando Agostinho, suplico: “Dai-me a paciência, mas não agora”.

De fato, que outra atitude digna alguém devidamente alfabetizado, ciente do pélago intelectual que o separa da malta e degredado em meio a selvagens e bárbaros da pior espécie — ou seja, os que se consideram letrados — poderia tomar? No entanto, bafejos de cristandade, em sua tarefa primacial de estabelecer regras de etiqueta e bom-tom, me convencem da necessidade de enodoar meu eminente estilo para oferecer o dedo mínimo da mão esquerda e esternutar uma pouca de lustração sobre o referido ovino.

Evitando abordar questões mais complexas, sempiternamente defesas a criaturas do estrato do Sr. Carneiro, atenho-me apenas a responder a sua singela pergunta — amostra verdadeiramente enternecedora de espírito imberbe —, a propósito do motivo de utilizar de meu vergalho em seu dorso pingue e lanudo sempre que me deparo com suas acanhotadas tentativas de denunciar o que, em linguagem de enxacoco, ele próprio chama de “ignorância de quem pronuncia coisas como ‘meu óculos’ e ‘o óculos’.”

O próprio boquejo desse tipo de indagação — terão notado os leitores que folhearam ao menos um livro além de O Pequeno Príncipe — evidencia os inúmeros degraus que me apartam do borra-papéis na hierarquia intelectiva, tornando inevitável a espadana de enfado e melancolia que reflui a minha alma e me envenena até a última partícula metafísica. Pelas razões expostas nos dois últimos parágrafos, entretanto, antes de ir ao banheiro vomitar e retornar ao nobre Pai da Igreja, de quem jamais deveria ter-me amovido, respiro fundo, tapo o nariz e concedo a resposta em uma única frase, cuidando fazê-lo nos termos mais rasteiros, de modo que possa ser compreendido até mesmo por ele — quer dizer, conservando-me ao nível dos parcos mecanismos cognitivos dos anelídeos.

Ó mais recente epifania do espírito imortal das bestas e deidades acéfalas, se lanho vossa estupidez com o látego de minha descrença na salvação dos pobres de QI é, simplesmente, para tentar o inatingível: aplacar a lhaneza dos debates neste espaço irremediavelmente labrego e sensabor.

Agora fala, toupeira. Compreendeu?

SOPA DE TAMANCO RIDES AGAIN

O Sopa de Tamanco é igual a Paulo Maluf, o ano de 1968, Hebe Camargo e Ronaldinho Gaúcho: quando a gente pensa que eles estão mortos, eles voltam, aos trancos e barrancos - nem que seja para nos assombrar.

QUE GRANDE FALTA FAZ UM CONSELHEIRO NA HORA CERTA....

A humanidade seria mais feliz e mais bonita se um conselheiro aparecesse na hora certa para salvar os outros de vexames.

Que falta faz, oh Nossa Senhora Aparecida, alguém que....

1) cinco minutos antes do início dos shows, dissesse a Roberto Carlos que aquelas ombreiras, aquele cabelo de índia velha, aquele terninho azul são de um ridículo atroz. Se ele se livrasse desses apetrechos patéticos, só precisaria fazer outro grande favor à humanidade para ser absolvido: que jamais, nunca, never, sob hipótese alguma, voltasse a cantar aqueles versos capenguíssimos da chatíssima música "Emoções". Ninguém aguenta ouvir. Já deu o que tinha de dar. Pior do que "e as mesmas emoções sentindo" só aquele verso imortal - o do cachorro que latiu sorrindo. Au-au-rá-rá-rá. Deve ter sido assim.

Que falta faz, oh, Nossa Senhora das Dores, alguém que....

2) um minuto antes de o fotógrafo entrar em ação, dissesse a Milton Nascimento que aquelas trancinhas afro são de um atroz ridículo. Ficaram patéticas. O fato de serem afro não as redime.
Que se danem as patrulhas politicamente corretas.

Que falta faz, oh, Nossa Senhora da Conceição, alguém que...

3) dois minutos antes do início da gravação da novela "A Favorita", dissesse àquele ator, José Mayer, que o papel de hippie velho escrito para ele pelo autor é uma das coisas mais patéticas já encenadas diante de uma câmera no Cone Sul da América e arredores.

Que falta faz, oh, Nossa Senhora do Bom Parto, alguém que....

4) dissesse a todos os artistas e celebridades em geral que, em nome de Deus, por favor, quando forem falar de alguém que morreu, jamais pronunciem idiotices indefensáveis do tipo: "Agora ele deve estar feliz lá no céu, ao lado de fulano, fulano e fulano....". Por que não ficam calados ?
O defunto não deve estar feliz não, oh, paspalhos. O coração parou de bater; o sangue já não circula; os demais músculos estão irremediavelmente paralisados; os neurônios se dissolveram; a visão, o olfato, a audição, o tato,o paladar, tudo deixou de funcionar: o corpo virou uma carcaça inútil que, em lugares civilizados, é imediatamente cremada para não poluir a terra. O azul do céu é uma ilusão de ótica. Ainda que o céu religioso existisse, não haveria espaço para tanta gente. O inferno é outra invenção: não existe nada debaixo da terra. Então, parem de dizer idiotices supostamente poéticas quando forem falar dos mortos. É melhor é desejar a eles,sinceramente, uma cremação rápida. That´s all.

BRASIL, O PAÍS DE TODAS AS POSSIBILIDADES

Se Lucélia Santos pode ser atriz, Elba Ramalho pode ser cantora e Oswaldo Montenegro pode ser compositor,então tudo, rigorosamente tudo, é possível sob o sol - inclusive o sr.Nicomar Lael fazer pose de intelectual.

QUANDO AS CANTORAS ABREM A BOCA PARA....FALAR

Dizem que Madonna não gosta de dar entrevista. Marisa Monte também não.

Ainda bem!

Alguém da platéia poderia lembrar da uma única e escassa frase original e interessante jamais dita por uma cantora à imprensa ?

Vocês têm dez anos para pensar.

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI

Um segundo antes de me recolher à minha caverna, constato: o corte moicano no cabelo de Júnior, o ex-parceiro de Sandy, é a quadribilionésima evidência de que a humanidade não é viável. Nunca foi. Jamais será.

INFORME SOBRE O RELINCHO DO SR. NICOMAR

Há ilusões de ótica - e ilusões auditivas. É o que acabo de ter: uma indescritível ilusão auditiva. Tive a claríssima impressão de ter ouvido uma sucessão de relinchos, partidos do meu terminal de computador.

Corri até a máquina, uma das poucas heranças maravilhosas que o Século XX nos legou (quase todo o resto poderia ser jogado na poubelle da história, especialmente os aparelhos de TV, habitados por jornalistas que fazem trocadilhos). Cheguei, por um átimo de segundo, a duvidar de minha sanidade: como pode uma máquina sem uso emitir repetidos relinchos ?

Logo descobri o óbvio encadeamento dos fatos: a cada vez que o sr. Nicomar Lael resolve dar sinal de vida, em forma de posts indigentes, os terminais sintonizados neste site emitem, automaticamente, retumbantes, cristalinos, claríssimos relinchos. É como se estivessem avisando ao planeta: correi, incréus, ateus, descrentes. Vinde ver esta maravilha: cavalos podem escrever,sim! Cavalos de todas as raças: andaluzes, anglo-árabes,appaloosas,berberes, crioulos e galicenos! Ah, o indescritível
rol de surpresas com que a natureza nos brinda a cada romper da manhã!

Não,não era uma ilusão auditiva: era uma manifestação internética do quadrúpede.

De toda forma, depois de espalhar imprecações por cada centímetro quadrado da tela do computador, a ponto de atingir com coices até o confrade Paulo Rubens, que caminhava, distraído, pelo local, o sr. Nicomar Lael não explicou que razões o levam a ter um ataque de fúria quadrúpede a cada vez que eu, zeloso guardião do que resta do idioma, denuncio a ignorância de quem pronuncia coisas como "meu óculos" e "o óculos".

Ah,o doce prazer de batalhar em guerras perdidas: é o que faço ao tentar, debalde, corrigir o mundo e a parvoíce alheia, tão bem representada na figura nicomariana.

Bem sei que chegarei ao fim da guerra com o corpo coberto de chagas, as botas enlameadas de cansaço e desilusão, o coração estilhaçado, os olhos fatigados pela contemplação de tanta impostura, as lanças dos infiéis apontadas para mim. Mas, a caminho do cadafalso, onde serei imolado pelos dardos da igonorância, repetirei, em voz baixa, o mantra que me move há décadas: "No pasarán! No pasarán! No pasarán!".

Não, sr. Nicomar, vossas parvoíces, vossos coices, vossa cegueira, vossa igonorância no pasáran !

O SEXO DOS ÓCULOS

Ele esteve aqui em maio, quando falou sobre maníacos e behaviorismo. (Vejam os posts). Volta agora para dar pitaco nessa conversa de visionários em torno de um par de lentes, disputa em que se consegue fazer de axioma algo que se deriva – o que, aliás, já podemos considerar mais uma, talvez a maior, contribuição deste país de filósofos à cultura dos povos. Salve o Sopa!

Ele está, portanto, de volta: W. H. Auden. Não poderia faltar. Para o poeta, não se trata, como poderia parecer no caso, de uma discussão sobre o sexo dos óculos. Sem sua fantasia de abelhinha (de novo, vejam post antigo), ele adverte: "Um poeta tem apenas uma obrigação política, que é dar um exemplo do uso correto de sua língua mãe, que está sempre sendo corrompida."

Corolário (ou "axioma", se preferirem) de W. H. Auden: a força física prevalece quando as palavras perdem o significado.

Às armas, pois, senhores! Antes, porém, ao que interessa: nomes. Quem são os corruptores, os cegos para o plural? Como diria o poeta, we call a spade a spade.

REVISITANDO JOBIM

O Brasil é o único país do mundo onde puta goza, traficante cheira e crítico literário considera literatura o que Marcelino Freire e aquela gente da Mercearia São Pedro faz.

DEUS

Deus não é complexo. Complexo é Shakespeare. Deus é só complicado.

(Mais, aqui)

MEDIOCRIDADE

No Brasil, a mediocridade substituiu de tal modo a cultura erudita e o entretenimento enterrou tão completamente a arte superior que é preciso revisitar Hobbes. Aqui, o homem não passa do Lobão do homem.

(Mais, aqui)

10 de setembro de 2008

QUE LÍNGUA SERÁ AQUELA ?

Depois de ler a coleção de relinchos do sr. Nicomar, declaro-me temporariamente impossibilitado de oferecer uma resposta.

Motivo: ainda não encontrei um veterinário que pudesse traduzir aqueles grunhidos. Ou seja: transformá-los em sentenças compreensíveis por gente alfabetizada.

Ah, um veterinário. Que falta faz essa criatura, a única capaz de entender a linguagem dos irracionais....Mas, cedo ou tarde, há de aparecer um, para matar nossa curiosidade.

De qualquer maneira, causa-me espécie o fato de o sr. Nicomar ter um ataque hidrófobo (ou será bibliófobo ?) apenas porque ousei corrigir um erro cometido com assustadora frequência por tanta gente,inclusive a que porta diplomas e certificados : dizem "o óculos" e "meu óculos".

A reação do sr. Nicomar nos deixa uma lição que faria Pavlov soltar coquetéis Molotov de contentamento: a gente aprende que, a cada vez que alguém tenta corrigir um parvo como o sr. Nicomar, as cordas vocais da besta emitem um relincho característico.

Como é sábia a natureza...

A PROPÓSITO DOS RELINCHOS DO SR. TOM CARNEIRO

Dentre as verdades filosóficas absolutas, há uma precípua: a fundamental tentação de um ignorante é apontar a ignorância de seus pares, demonstrando, não raro, ao fazê-lo, grau de estultice infinitamente superior ao do sujeito por ele admoestado. Dela, deriva um segundo axioma: um ignorante jamais resiste a tentações.

Exemplo claro do que fica acima dito nos é dado pelo agreste Sr. Tom Carneiro, cujo deslutre é de prístino conhecimento dos leitores deste Sopa de Tamanco. Guiado por sua obtusidade verdadeiramente cavalar, eis que agora o papalvo pretende-se esteio de certa campanha contra a utilização da expressão “o óculos”, como se fora ela grave índice da mediocridade pátria.

Ante parvoíce de tal monta, é inevitável que acorram a alguém minimamente instruído os famosos versos medievais da Festa dos Asnos:

Orientis partibus
Adventavit Asinus
Pulcher et fortissimus
Sarcinis aptissimus.
Hez, Sire Asnes, car chantez,
Belle bouche rechignez

(Traduzo livremente para incultos, quadrúpedes e parentes afins do Sr. Carneiro em geral, que certamente desconhecem, além do português, o francês e o latim: “Do Oriente vem o asno, belo e bravíssimo, próprio para suportar cargas. Levantai, Sr. Asno, e cantai. Abri vossa bela boca!”)

Afinal, a preocupação estéril com expressões consagradas pela ignávia da plebe, de que o próprio Sr. Carneiro faz parte, denota, quando menos, ser o indivíduo que a expõe portador de uma profunda nostalgia de galhos de árvores e refeições replenas de raízes e folhas.

Que esperar, no entanto, de uma mente de operário, vil trabalhador manual da escrita, cuja capacidade imagética é a mesma alcançada por uma lesma vítima de trepanação?

Ora, faça-nos um favor, Sr. Asno: vá alfabetizar-se ou corra até a esquina, ver se lá estou, a ler o meu Nietzsche no original. Mas, show a little respect e nos desobrigue de vosso relinchar, sim?
.
Nicomar Lael

"MEU ÓCULOS" NÃO!

Interrompo uma atividade importantíssima - o ócio das férias - para prestar solidariedade irrestrita ao caro confrade Tom Carneiro na guerra inútil que ele acaba de declarar contra a disseminação de uma praga : gente que diz "meu óculos" ou "um óculos" ou "o óculos". Deus do céu: é tão difícil usar o plural na hora certa ? Por que não dizem "meus óculos" ou "uns óculos" ou "os óculos" ?

Já que a guerra é inútil, ofereço minha porção de inutilidade: a partir de hoje, a cada vez que alguém disser "meu óculos", repetirei, com voz inaudível, o mantra sugerido por Tom Carneiro.Assim: "a casa caiu, a casa caiu, a casa caiu..."

Depois, sairei sem ser notado.

CAMPANHA NACIONAL CONTRA "O ÓCULOS". OU: A GRANDE MARCHA DA IGNORÂNCIA AVANÇA POR NOSSOS CANAIS AUDITIVOS!

Não faz tempo, Jô Soares pronunciou "o óculos" no programa. Regina Casé, numa das "n" vezes em que esteve no Programa do Jô, também disse, claramente, "o óculos". Durante a transmissão de um jogo de volibol de praia na Olimpíada de Pequim, um repórter cometeu um tropeço feíssimo: ao vivo, para quem quisesse ouvir, ele soltou "o óculos" ao entrevistar o atleta brasileiro derrotado. Um médico (!!), supostamente alfabetizado, disse, em horário nobre, na TV, "o óculos". Demonstrou, assim, que pode até ter ouvido falar em algo chamado plural, mas é perfeitamente incapaz de diagnosticar um, quando solicitado pelo idioma.

Atenção, apresentadores de TV, repórteres, médicos: não custa nada aplicar o plural quando ele é necessário! Não dói, não custa caro, não dá trabalho! O certo é "os óculos" ! Jamais, "o óculos" ou "um óculos" ou "meu óculos". Simples assim. Dizer "o óculos" ou "um óculos" é como dizer "a casas", "o carros", "o jornais". Mas, pela frequência com que gente "ilustrada" comete o erro bárbaro, tudo indica que aplicar um recurso tão básico quanto o plural é dificílimo....

Enquanto o Sopa uiva para o vento contra a praga do "o óculos", a GMI ( Grande Marcha da Ignorância) avança, impávida, por nossos canais auditivos...

A CASA CAIU - II ( OU: CAMPANHA NACIONAL CONTRA UMA PRAGA CHAMADA "O ÓCULOS")

Depois de ouvir um dos mesários do Manhattan Connection dizer, com todas as letras, "um óculos", eis que, no dia seguinte, segunda à noite, sintonizo a Rede Bandeirantes para acompanhar a edição semanal do CQC, um bom programa. Não demorou, a casa caiu de novo.
Um dos repórteres disse, com toda clareza, "o óculos".
De repente,como num espasmo involuntário, minhas cordas vocais começaram a sussurrar,para meus botões fatigados, o mantra maldito: a casa caiu, a casa caiu, a casa caiu.

GRAMPOS EM BRASÍLIA

Há inúmeras vantagens em se viver num país de povo cordial (o conceito, aqui, é usado no sentido empregado por doutores, ensaístas e articulistas; ou seja, no errado, que faz Sérgio Buarque toda vez que o ouve chutar involuntariamente Gilberto Freyre e puxar as orelhas de Caio Prado Júnior no Hades, aos gritos de “Me deixem voltar! Me deixem voltar!”).

Claro, as desvantagens envolvem pobreza, ignorância, insegurança e frases de Caetano Veloso. Porém, não se pode negar que a libente interação entre as gentes de nossa pátria torna suportáveis, por exemplo, as maiores tragédias do dia-a-dia, como acordar com o Bom Dia Brasil e comentários do Alexandre Garcia.

(Texto completo aqui)

ORGIAS FILOSÓFICAS

A coisa anda Husserl para o seu lado, Strauss certo? Você se encontra numa via-Crusius. Lee seus pensamentos? O desejo que você tem é Dessoir por aí, sem Humboldt certo, sem ter mais que engolir a doxa de ninguém, não é Maimon?

Boehm, não fique Mach assim, porque recentemente foi inaugurado o nosso Orgias Filosóficas, estabelecimento adulto que Croce incrivelmente, Dee a Dee, Zaehner parar. Conosco, você vai se sentir como um Benjamin, um verdadeiro Rée.

Nossa filosofia é: todo mundo nous, sem Hobbes ou qualquer tipo de Adorno. Engels são barrados na portaria. Só aceitamos Putnam. Trata-se de fator Sêneca non. Dewey a quem Dewey.

(Texto completo, aqui)

8 de setembro de 2008

CAIU A CASA

Eis que o espectador que vos fala estava postado diante do Manhattan Connection, Canal 41, pouco antes da meia-noite deste domingo. Lá pelas tantas, um dos mesários do programa, jornalista de respeito, tropeçou feio no idioma: disse, claramente, "um óculos".

A casa caiu. O conceito do Manhattan Connection sofreu uma queda de cinquenta pontos na EPF. Aos não iniciados: EPF significa Escala Paulo Francis de estima televisiva.

Fui dormir sussurrando aos meus cinco botões um mantra de três palavras : a casa caiu, a casa caiu, a casa caiu.